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Capital

Clínicas de estética são investigadas após 8 pessoas sofrerem choque anafilático

Todas as manobras feitas nos pacientes foram no rosto e um deles no nariz

Por Lucia Morel e Geniffer Valeriano | 16/02/2024 15:08
Delegado da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), Reginaldo Salomão. (Foto: Alex Machado)
Delegado da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), Reginaldo Salomão. (Foto: Alex Machado)

Com quatro inquéritos abertos contra clínicas de estética, a Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) investiga choque anafilático em pacientes que se submeteram a procedimentos no rosto. O delegado Reginaldo Salomão explica que houve uso de anestésicos nessas pessoas e agora é preciso saber se os profissionais responsáveis estavam habilitados ou não. “O que sabemos é que não foram médicos ou dentistas”, sinalizou.

Ainda no início, os inquéritos vão ouvir os pacientes – um de cada clínica e mais quatro casos que ainda não foram analisados – mas sem data agendada. Em clínicas de estética não se pode usar anestesia regional ou geral, mas são liberados anestésicos tópicos ou o chamado “botão anestésico”, que se trata da aplicação sob a pele do medicamento, que vai agir somente na área específica, reduzindo a sensação de dor.

Conforme Salomão, todas as manobras feitas nos pacientes foram no rosto e um deles no nariz. Sobre os possíveis profissionais que manipularam o produto que pode ter gerado a reação alérgica mais grave, ele diz que “não era médico e nem dentista. Enfermeiro pode fazer, fisioterapeuta pode fazer, biomédicos podem fazer, esteticista podem fazer. Pelo menos o conselho deles diz que podem”, cita.

Como a investigação ainda está muito no começo, ele avalia que em abril deste ano haverá informações mais substanciais sobre os casos. Até lá, ele quer que as pessoas que passam pelas clínicas procurando por algum tratamento estejam de olho e em alerta.

“Está acontecendo demais. Porque isso aí é uma coisa da moda e ao que muitas pessoas estão se submetendo é um jogo de loteria. Temos uma caso aqui que os resultados começaram a surgir um ano depois, porque a pessoa que efetuou a técnica não era preparada e não tinha o conhecimento técnico para isso. A vítima era uma mulher jovem e com o tempo, o corpo dela passou a fazer rejeição desse material. E agora, depois de um ano e tentar acordo com a “doutora” sem conseguir, ela veio aqui”, comentou Salomão.

Ele alerta ainda que “é importante que as pessoas pesquisem quem é esse profissional, que não se deixem levar pela aparência, porque uma boa aparência seja do profissional ou do ambiente é um bom disfarce do estelionatário. As pessoas precisam procurar se aquele profissional tem habilitação para fazer aquele procedimento. E as vezes é melhor a pessoa adiar o sonho um pouquinho, juntar um dinheirinho e fazer uma coisa com segurança, com um profissional que vai fazer uma série de exames para saber como o seu corpo irá reagir e antes de fazer”, sustenta.

Em relação às clínicas, Salomão informa que são quatro, sendo uma investigação para cada uma. “Nossa preocupação é grande, porque sabemos que há um número muito maior que isso. É importante colocar que os conselhos tanto de medicina, quanto de farmácia, quanto como de odontologia colaboram muito, dando até subsídio técnico para que a gente possa atuar. Eles têm trazido informações para a polícia nesse sentido”, afirmou.

Sem socorro – uma das coisas que a polícia quer saber é o tipo de anestesia e se seria necessário haver equipamentos de socorro imediato no local diante do tipo de procedimento realizado. “Isso é o que a polícia vai descobrir, mas pelo encaminhamento, a gente acredita que sim, porque o anestesista tem que dar a contramedida, se a pessoa entrou em choque, a clínica tem que dar o primeiro atendimento e isso não consta na ficha desses pacientes aqui”, avalia.

Em alguns casos, os pacientes tiveram que ser socorridas pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) no momento do atendimento em clínica. “Essas pessoas foram socorridas durante o procedimento e duas ou três tiveram choque anafilático. É exatamente esse problema que te falei, fez o procedimento, sem o profissional capacitado, sem o anestesista”, diz.

O que é um choque anafilático? - É a forma mais grave de reação de hipersensibilidade (alergia), desencadeada por diversos agentes como drogas, alimentos e contrastes radiológicos. Os sinais e sintomas podem ter início após segundos à exposição ao agente ou até uma hora depois. A avaliação e o tratamento imediatos são fundamentais para evitar a morte.

As principais causas são: venenos de abelhas, marimbondos, vespas, etc; medicamentos como penicilina, anti-inflamatórios, anestésicos, contrastes contendo iodo, insulina, entre outros. Alimentos também podem causar o choque, como  camarão, mariscos, frutos do mar e amendoim. Látex e derivados da borracha, como luvas, também entram  na lista.

Entre os sintomas estão: sensação de desmaio; pulso rápido; dificuldade de respiração, incluindo chiados no peito, tosse; náusea e vômito; dor no estômago; inchaço nos lábios, língua ou garganta; placas altas e com coceira na pele (urticária); pele pálida, fria e úmida; tontura, confusão mental, perda da consciência; e parada cardíaca.

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