O choro de saudade do avô que morreu para defender a neta
As lágrimas da saudade de um pai e avô que sempre zelou a família acompanharam o último adeus a Jaime Rodrigues da Costa, 70 anos, que virou herói quando deu a vida para salvar a neta.
No velório, amigos e parentes dividiam não só a dor da saudade, mas também a revolta por uma morta trágica, envolvendo um senhor que vivia para a família e tinha paixão pelos netos.
Jaime levou 14 facadas quando foi defender a neta de um homem que a abordou durante o trajeto da casa do avô à casa dela. Jaime a olhava de longe e não teve dúvidas em reagir ao perceber que a menina podia ser vítima de estupro. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu ontem, na Santa Casa.
“O que ele mais temia, aconteceu”, disse Vagner Rodrigues da Costa, 41 anos, filho de Jaime, se referindo ao cuidado do avô e à violência que o preocupava muito. “A criminalidade não está só no bairro, mas sim na cidade toda”, comenta.
No coração, a dor divide espaço com a revolta. “O cara tem que pagar pelo o que fez, mas agora está nas mãos da Justiça e de Deus, nós não temos força, não temos dinheiro, não temos o que fazer”, enfatiza Vagner.
Sentimento partilhado também pelo vizinho de Jaime. “Ele foi mais uma vítima da violência. O bairro precisa de mais policiamento, lá é uma boca-de-fumo ao lado da outra, e o crime é conseqüência da droga”, pondera João Crisostomo Ferreira, de 56 anos.
Na lembrança do vizinho e amigo de mais de 20 anos, ficou o bom exemplo deixado por Jaime. “Ele era uma excelente pessoa, que todo mundo gostava, dedicado à família, eu o admirava muito”, ressalta João.
O pároco da igreja onde Jaime participava com a família, Jocerlei José Tavares, chamou a atenção para a raiz do problema. “Não temos que olhar para o caso isolado, mas sim para o problema social, que é o que acaba gerando os crimes”, expõe o padre.
Assim como os amigos e parentes, ele também acredita na Justiça e espera que o autor das facadas, Paulo Cássio Esmeralda de Oliveira, 34 anos, seja punido pelo crime. “Mas ele também é vítima de uma família desestruturada, de problemas sociais, de falta de valores, tudo vem de um problema social muito maior”, pondera o padre.
Antes do caixão ser fechado e o cortejo começar, o padre Jocerlei, que é amigo próximo de toda a família de Jaime, disse algumas breves palavras e deu a benção. Ao som do violão e com um canto ao fundo, familiares e amigos deixaram a emoção aflorar no último adeus ao avô-herói.