Onde a pobreza impera e "tudo falta", eleitores votam em quem mantiver auxílios
Apesar da questão ser prioridade, população ainda não bateu o martelo em quem de fato vai votar
Há menos de 48 horas das votações, eleitores das periferias de Campo Grande dizem que irão votar em quem manter os auxílios assistenciais, mas, apesar da questão ser uma prioridade para o público, o eleitorado ainda não se decidiu em quem de fato vai eleger como presidente do País, governador, deputado estadual e federal.
Maria Olga Vieira Coelho, de 65 anos, mora na comunidade Esperança, no Bairro Noroeste, há 9 anos e contou à reportagem que ainda não sabe se vai conseguir votar devido à condição de saúde. Ela sofre com uma doença chamada úlcera varicosa nos dois pés e desvio de coluna, condições que impedem a idosa de se locomover por longas distâncias. Mesmo na incerteza, ela ressaltou que gostaria de votar em alguém que mantivesse os benefícios assistenciais, como o Auxílio Brasil.
“Pra mim pelo menos o Bolsonaro tá sendo bom, pelo menos fala que vai deixar o Auxílio Brasil, que não vai tirar, porque é o único dinheiro que me ajuda. A única coisa que tenho são esses R$ 600, não tenho ajuda de ninguém. E se o outro entrar, como é que vai ser? Vai tirar?”, frisou.
De acordo com Maria Olga, além da falta de saúde, também há a falta da aposentadoria, que a idosa não consegue dar entrada.”A minha vida é essa, não tenho saúde, não tenho aposentadoria, não tenho nada. Hoje está tudo bem, amanhã não está, hoje tem remédio, amanhã não tem. Eu quase não ando, e quando ando é de andador”, disse.
A idosa ressaltou que precisou vender um liquidificador para conseguir comprar uma pomada específica para tratar as feridas dos pés e que as únicas coisas que consegue no posto de saúde são as ataduras para os machucados.
“Eu uso uma pomada que custa R$24. Esses dias atrás vendi um liquidificador para poder comprar porque não tinha e não podia ficar sem. No posto não tem. E assim mesmo a lesão é muito grande, está nos dois pés, aí um tubo só não dá. Então, fico sem. Eu não vou para os postos, eles que vem aqui, quando vem. A única coisa que tenho do posto é que eles dão material de curativo uma vez por mês”, finalizou.
Antes da eclosão da doença, a idosa trabalhava lavando roupas e passando. Ela também já trabalhou como diarista e assistente de costura.
Gleicy Isabela Vivarola Garcia, de 28 anos, é mãe de 6 filhos e dona de casa. Ao Campo Grande News ela ressaltou que, apesar de ter acompanhado os debates, também não sabe em quem vai votar, mas que a decisão tem que ser muito bem pensada, pois, segundo ela, o risco de piorar a situação é grande.
“Não tem como falar que tenho um candidato certo, acho que vou decidir ali na hora. A gente fica com medo porque tudo depende deles. Não sabemos se a gente vai votar errado, se vai piorar ou não. Todos eles fazem algum trâmite, né? Eles não pensam na população, se vão entrar para ser justo, ajudar o povo”, comentou.
Gleyce acrescentou ainda que na comunidade, a população ainda não conseguiu decidir com certeza em quem vão votar. “Acho que tem muitos que estão em dúvida, creio que vão acabar votando nulo,” falou.
Comunidade do Angico - Ester Cristina Arruda, de 23 anos, é mãe de 2 filhos. Ela falou que não tem um candidato escolhido, não acompanhou os debates, apenas algumas campanhas no rádio. Ela espera que os candidatos eleitos cumpram com as promessas e principalmente, melhorem os auxílios sociais. “Eu espero que cumpra o que falam. Aumento do Mais Social. Não assisto nada não. Acho que na comunidade não tem muita gente com candidato definido”, evidenciou.
Na mesma comunidade, Janaína de Souza Vieira, de 27 anos, mães de 3 filhos relatou que também não assistiu aos debates, tampouco gosta de política. Na casa dela, o marido, que não quis se identificar, é quem assiste e repassa as propostas. ”Par mim a melhor opção para o governo é a do André. Eu acompanhei todos debates, para presidente já temos, agora para estadual estamos decidindo”.
Janaína acrescentou que espera que os candidatos eleitos melhorem a assistência aos mais necessitados, baixando o preço dos alimentos e possibilitando o acesso aos itens. “Eu espero que a carne fique mais barata, o feijão também, para o pobre voltar a fazer um churrasquinho no final de semana. Tá muito caro as coisas. O gás então... Eu fiquei mais de uma semana na lenha porque não consegui comprar”.
Acampamento sem terra - Às margens da BR-262, entre Sidrolândia e São Paulo, em um acampamento sem-terra sem identificação, Eleno de Moura, de 54 anos, já tem seu candidato à presidência da república. O critério para escolha foi quem mais atende às necessidades da população sem terra. “Eu espero uma coisa muito boa, porque a programação do Lula para nós é a melhor, principalmente a reforma agrária, vai melhorar bastante pra gente.”
O colega, Arcilei Oliveira, de 67 anos, disse ao Campo Grande News que não tem candidato escolhido ainda, mas será obrigado, segundo ele, a votar em quem não virará às costas para a população.
“Eu acho que dizer que está ruim com o Bolsonaro, não está, mas ele virou as costas para nós nesse movimento de reforma agrária, fechou o órgão responsável. Ele comanda para os ricos, não é muito de pobre, mas ficar em cima do muro não pode. Vou ter que dar meu voto para o outro, porque ele vai conseguir amenizar um pouco essa fome. Os pobres estão passando necessidade”, finalizou.