Onde campanhas de agasalho não chegam, união é arma contra o frio
Uma nova frente fria chegou a Mato Grosso do Sul, ótima hora de tirar casacos e cobertores do armário para garantir noites quentes e confortáveis. Quem dera. Em alguns pontos da periferia de Campo Grande, moradores continuam sem ter como se proteger da mudança no clima, à espera do resultado de alguma campanha do agasalho.
Para driblar as dificuldades e aquecer todo mundo, as famílias que vivem na "comunidade do linhão", região do Jardim Noroeste, adotam algumas estratégias. Em uma área invadida e sem muita estrutura para abrigar a família de quatro pessoas, eles partem para a união.
Diarista e mãe de três crianças, Selma Lopes, 36 anos, conta que junta as crianças na hora de dormir para lidar com a falta de cobertores. "Eu tenho um pra mim e um para as crianças, na hora de dormir fica todo mundo juntinho, porque daí já aquece", relata.
A necessidade obriga e a criatividade, em situações assim, surge de maneira quase instintiva. Como Selma não tem chuveiro elétrico em casa, o banho se transforma em um ritual que relembra costumes do passado.
"Bota uma panela de água pra ferver, joga num balde e tempera com um pouco de água fria. Mas tem que ser rápido", frisa.
Mesmo com todas as adversidades, Selma e as crianças não perdem o sorriso do rosto. "As pessoas, às vezes, reclamam bastante do clima. Pra gente é difícil, porque realmente não temos roupas de frio e cobertores de sobra, mas não dá para desanimar da vida não, a gente sempre dá um jeito".
Mãe de quatro meninos, a dona de casa Dione Arguello, 27 anos, também improvisa para tentar manter o mínimo de conforto para os filhos. "A hora do banho é a mais complicada. Eu já luto para que eles tomem banho na hora certa, a gente até tem um chuveiro elétrico, mas ele não funciona direito. Todo mundo se banha cedo e na hora de dormir a gente junta todo mundo pra aquecer", explica.
"A gente sempre ouve falar em campanha de doação de agasalho, mas isso nunca chega aqui, nem lembro quando foi a última vez que vieram doar alguma coisa pra gente", diz Dione.
União - Vivendo também em condições precárias, o líder da comunidade do Linhão, Giuliano Rocha, 36 anos, faz um apelo para a sociedade.
"São cerca de 100 famílias que vivem aqui, todo mundo aqui é pobre e, como vocês podem ver, tem muitas crianças. Quando faz frio a gente precisa se ajudar, já recebemos algumas doações de agasalhos e comidas, mas isso foi há muito tempo. A gente pede que quem puder ajudar, independente da maneira, venha conhecer nossa comunidade".
Giuliano reclama da falta de atenção do Poder Público. "Na época de campanha todo mundo vem fazer promessa, agora que é hora de mostrar serviço todo mundo some. Enquanto a gente não faz barulho, ninguém olha por nós", acrescenta.
Solidariedade - Quem puder ajudar as famílias com cobertores e roupas de frio, pode procurar a liderança da comunidade pelo telefone 99172-9374. O conjunto de casas fica no Jardim Noroeste, região da saída para Três Lagoas.