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Capital

Para quem trabalha em cemitério, Natal é época difícil para lidar com dor

Rotina comum é mais pesada quando tragédia ocorre em época onde se costuma comemorar

Mayara Bueno e Anahí Gurgel | 24/12/2017 16:37
Véspera de Natal de trabalho. (Foto: Paulo Francis).
Véspera de Natal de trabalho. (Foto: Paulo Francis).

Nem só de festas e comemorações se vive o Natal. Para quem trabalha em determinados locais, a data é retrato da própria dor e a inesperada dor dos outros. É o caso de quem trabalha em cemitérios. Época de fim de ano, eles afirmam perceber um aumento de mortes trágicas, que levam famílias ao local para se despedirem de seus entes queridos, justamente em uma data que a felicidade é tão cobrada dentro e fora dos lares.

"É muito triste", resume Joel dos Santos, 52 anos, que trabalha há sete meses em um cemitério da Capital. O sentimento é por empatia, ao se colocar no lugar daquela família.

Somente hoje, duas vítimas do acidente da MS-080, que ocorreu na manhã de sábado (23), foram enterradas lá. Dos dois carros envolvidos na colisão, cinco integrantes não resistiram e morreram. Outras quatro ainda se feriram, das quais duas deixaram o hospital.

(Foto: Paulo Francis).
(Foto: Paulo Francis).

Entre a rotina, têm histórias que tocam mais do que outras. No caso dele, uma dos momentos mais duros e marcantes foi o enterro do pequeno Matheus, que aos sete anos não resistiu às complicações de uma leucemia. Ele morreu em 2 de dezembro deste ano.

O mais duro, relata, foi ver o pai pedir uns minutos antes de fecharem o caixão. Ele então ligou o celular e colocou a música Aleluia para tocar. "Não me contive". Mesmo depois do sepultamento, o pai permaneceu por um longo tempo ao lado do filho.

História semelhante é compartilhada por Ivan Carlos Reis, 26 anos, que trabalha no cemitério há 1 anos e seis meses. Para ele, o enterro é sempre um momento triste, mas nesta data, a sensação é um pouco pior. "Porque você vê pessoas com muita dor enterrando entes queridos". Para evitar se envolver demais, até por ali se tratar de seu local de trabalho, nos instantes finais de despedida, a saída encontrada por ele é se distanciar. 

E o resto da véspera ainda será de trabalho para os dois. Longe dos mercados e shoppings em busca das últimas compras de Natal, Joel conta que este era o fim de semana de seu plantão. "É o nosso trabalho".

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