Preconceito é só um obstáculo quando LGBT+ busca atendimento médico
Conferência Livre da Saúde LGBT debateu agruras no sistema de saúde
Falta de sensibilização, este é o principal problema quando o assunto é atendimento de saúde voltado à comunidade LGBTQIA+, segundo nomes que estão à frente do movimento e no comando de pastas nos governos municipal e estadual. A solução, para eles, está na humanização dos gestores, para além da teoria.
Ao chegar às unidades de saúde e se depararem com comportamento despreparado de profissionais, a pessoa tende a ir embora ou passar pela consulta e não retornar mais. Um exemplo bastante citado é o fato de homens e mulheres trans enfrentarem resistência por parte de alguns gestores em chamá-los pelo nome de batismo, ignorando o nome social.
Além disso, segundo a coordenadora Municipal de Políticas Públicas LGBT, Cristiane Stefanny Vidal Venceslau, a situação vai mais além. “É preciso um cuidado diferenciado porque, por exemplo, mulheres lésbicas que nunca tiveram relação sexual com homens não podem ter o mesmo atendimento que a mulher heterossexual, porque senão irá machucá-la, pode ocorrer algo semelhante a um estupro”, disse na manhã desta sexta-feira (10) durante Conferência Livre da Saúde LGBT.
O mesmo acontece com mulheres transsexuais que ainda não passaram por cirurgia. “Já pensou essa mulher na fila de um hospital do homem para exame de próstata? É muito complexo. Precisamos rediscutir. Por isso nosso objetivo é a humanização”, explica.
Cris, como é chamada, observa que o SUS (Sistema Único de Saúde) trabalha com diretrizes humanizadas, mas por vezes isso não chega às pessoas que estão à frente do atendimento. “Por isso precisam de capacitação”.
Vagner Campos, nomeado subsecretário estadual de Políticas Públicas LGBT+, avalia que capacitar os gestores é algo que deve ser permanente, apesar de que basta ter preceitos embasados nas leis e na constituição para automaticamente tratar o próximo com mínimo respeito.
“Então temos que ter essa preocupação de sensibilizar os gestores. Esta é uma atividade da subsecretaria, porque se a pessoa chega para o primeiro atendimento e já não consegue se visualizar, ela desiste e volta para casa”, contou. Tanto que familiares de jovens e adolescentes LGTB buscam ajuda na pasta porque não sabem como proceder em casa.
“Porque esses jovens podem tomar atitudes não recomendadas na área da saúde”, diz referindo-se a automedicação ou tratamento sem aconselhamento médico. “Hoje o mundo é plural, é diverso e o gestor público tem que ter preparo, parece óbvio, mas as pessoas às vezes colocam suas convicções quando na verdade têm que respeitar o direito de quem é atendido”, finaliza.