Preferido da criançada, galinhada é prato de 2ª feira para alegria na merenda
Merendeiras há décadas na Escola Elpídio Reis não veem a hora de ver comida nas panelas e barulho de criança
No lavar de panelas e na organização da dispensa, os preparativos para a volta dos alunos à escola segue intenso na cozinha, de onde sai o sabor que mais fica na memória afetiva de quem passou por escola pública.
Se a merenda é a parte mais gostosa de voltar à aula presencial, o cardápio do retorno tem que ser especial. Na Escola Municipal Elpídio Reis, na Mata do Jacinto, galinhada e feijão é o prato que vai receber a criançada, para alegria das merendeiras.
Às vésperas do retorno presencial, ao ver a equipe entrar na cozinha, as merendeiras se prontificaram a falar: "pergunta que a gente responde", diz Jaqueline Maciel, de 51 anos.
Merendeira há 25 anos, Jaqueline não via a hora de voltar a cozinhar para toda uma criançada que espera pela comida. "É comida normal, arroz, feijão, salada, carne. Começo 12h, ponhando feijão pra cozinhar e a carne", fala sobre a rotina.
No expediente da parte da tarde, as panelas vão para o fogo às 12h para ficar tudo pronto quando o relógio marcar 14h40. Antigamente, era da janela da cozinha que a merenda era servida e de onde as cozinheiras ouviam os pedidos de repetição.
O "novo normal" vai ser de comida no prato e carrinho deixando a merenda em cada sala, mas só de ouvir a criançada de volta já dá um quentinho no coração. "A gente sente saudade das crianças, da barulhada", diz Jaqueline.
Na dispensa, Maristela Lemes Medina, de 55 anos, organiza todos os mantimentos. Dos 25 anos de merendeira, 16 se passaram ali, na Escola Elpídio Reis. "O cardápio já está aqui, vai ser galinhada com feijão. É o preferido das crianças", revela.
A pandemia fez dona Maristela sentir falta da rotina já tão marcada pelas risadas, gritos e conversas de crianças. "São 25 anos, eu fiquei me sentindo muito mal. Sentia falta das crianças, chegava aqui e aquele silêncio me dava sensação de abandono", descreve.
A vontade maior da merendeira é de abraçar os alunos, coisa que ela sabe que não pode fazer e o carinho será de longe, pela comida. "A gente conhece muito bem eles, e eles a gente. Sabem nossos nomes, eu vou reconhecer até de máscara, sei de qual sala são", diz sobre a volta.
Os 15 quilos de arroz cozinhados por dia para cerca de 1,5 mil crianças, rotina que a escola tinha até a pandemia mudar tudo, ficou no passado. A merendeira calcula que deve diminuir 70% da produção já que a volta ao ensino presencial seguirá critérios e limite máximo por turma.
"Mas eu estou ansiosa de ver as crianças. Eu gosto de fazer a comida e depois de servir e ouvir eles falando que está gostoso", conta.
Há um ano e meio sem comer a merenda da escola, as irmãs gêmeas Gabrieli Fonseca dos Santos e Emanueli Fonseca dos Santos, de 7 anos, esperam ansiosamente pelo dia do bobó, o prato preferido de ambas.
"A gente está com saudade de abraçar, de brincar e de ver os coleguinhas", contam. As duas estavam na companhia da mãe que se reunia com a direção para ficar ciente de todos os detalhes da volta e assinar o termo de compromisso.
Questionadas sobre como será a rotina, elas têm na ponta da língua. "Passar álcool em gel, medir a temperatura e se tiver nariz escorrendo ou tosse não pode, tem que ficar em casa", ensinam.