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Capital

Preocupados com criação de nova favela, moradores reclamam de bairro esquecido

Em área verde do Jardim Jerusalém, que fica próximo à Lagoa Itatiaia, surgem barracos desde o ano passado

Por Cassia Modena e Antonio Bispo | 14/02/2024 14:18
Ao fundo, barraco onde homem e esposa vivem (Foto: Henrique Kawaminami)
Ao fundo, barraco onde homem e esposa vivem (Foto: Henrique Kawaminami)

Desde agosto do ano passado, moradores do Bairro Jardim Jerusalém, em Campo Grande, tentam impedir a formação de uma favela na região. Pessoas têm montado e remontado barracos em uma área de mata, a cerca de 500 metros do asfalto da Rua Aragonita.

Assistentes sociais e guardas municipais já estiveram no local por algumas vezes para retirar as famílias e derrubar as habitações precárias. "No dia seguinte, está tudo erguido de novo", conta Juliane Rosa, vice-presidente da Associação de Moradores do Jardim Jerusalém.

Ela é quem mais acompanha essa questão e outras do bairro, já que o atual presidente está perto de deixar o cargo.

Uma trilha foi feita para permitir acesso à área isolada (Foto: Henrique Kawaminami)
Uma trilha foi feita para permitir acesso à área isolada (Foto: Henrique Kawaminami)

Juliane acredita que a instalação dos barracos tenha relação com o aumento da criminalidade na região e já pediu providências para a Prefeitura de Campo Grande, responsável pelo terreno ocupado.

"Acompanhamos no grupo do bairro em vários vídeos das câmeras de segurança, que tem gente olhando por baixo da fresta do portão e circulando de carro e moto naquela área de madrugada, não se sabe fazendo o quê. Eles nos afrontam", diz.

Bairro novo, esquecido - O Jardim Jerusalém fica na região da Lagoa Itatiaia, próximo a bairros como Rita Vieira e Tiradentes. É reduto de residências de médio e alto padrão.

A vice-presidente explica que o conjunto foi criado em 2016, com a doação da área de uma construtora à prefeitura. Ainda ficaram terrenos baldios da empresa por ali com mato crescendo alto, o que aumenta ainda mais sua preocupação.

Juliane Rosa, vice-presidente da associação de moradores do bairro, acompanha a situação (Foto: Henrique Kawaminami)
Juliane Rosa, vice-presidente da associação de moradores do bairro, acompanha a situação (Foto: Henrique Kawaminami)

Morador, o gerente de projetos Gabriel Aiza reclama que há esquecimento do poder público. "Está abandonado pela prefeitura. Diversas vezes fomos assaltados. Fora isso, volta e meia ateiam fogo nos terrenos", diz.

Gabriel também afirma que existe uma outra área invadida no bairro, chamada de Kanga Rosa. "É uma invasão institucionalizada. Houve até instalação de rede elétrica", conta.

Ele e Juliane alegam suspeitar que a invasão do local foi orquestrada e que o intuito é ganhar com a venda dos barracos dentro de alguns anos, quando a área for regularizada pela prefeitura.

Quem mora nos barracos - A reportagem esteve no local nesta quarta-feira (14) e encontrou apenas uma habitação improvisada com lona e placas de MDF. Moram ali um catador de recicláveis de 41 anos e a esposa.

Barraco onde um casal vive, no Jardim Jerusalém (Foto: Henrique Kawaminami)
Barraco onde um casal vive, no Jardim Jerusalém (Foto: Henrique Kawaminami)

O homem afirmou que são um casal vivendo com HIV, e que a esposa está com tuberculose e infecção fúngica no pulmão. "Por esse motivo, preferimos viver isolados", disse.

Eles saem do barraco à noite, para recolher materiais que podem ser vendidos. Numa dessas, foram furtados. "Levaram nosso botijão de gás. Temos que cozinhar com lenha agora", fala o morador.

O casal está lá desde setembro do ano passado. Segundo a vice-presidente do bairro, ficaram mesmo após os barracos serem derrubados, anteontem (12). Havia outros três, pelo menos.

Barraco é cercado por área verde (Foto: Henrique Kawaminami)
Barraco é cercado por área verde (Foto: Henrique Kawaminami)

Chegaram a receber oferta de assistentes sociais da prefeitura para ficarem em um abrigo. "Mas nós não queremos porque a doença dela é contagiosa e não temos o ir e vir. Não temos onde morar, precisamos ficar aqui", justifica o homem.

Prefeitura e construtora - O Campo Grande News questionou a Prefeitura de Campo Grande sobre as providências tomadas quanto à ocupação irregular na área. A resposta foi que "a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) esteve no local, realizou vistoria e solicitou a retirada dos invasores da área". E que "inclusive, um invasor já saiu do local e a outra situação deve ser sanada até esta quinta-feira (15)". A Guarda Civil Metropolitana está monitorando a situação, acrescentou.

Quanto aos terrenos baldios com mato alto, citados por Juliane, a reportagem tentou ouvir a construtora e suposta proprietária, mas não teve retorno.

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