Réu por homicídio “sem corpo” vai a júri, mas diz que levou culpa por ser gêmeo
Defesa de Iago Gustavo Ribeiro Bronzoni diz que provará em tribunal que cliente estava drogado no dia do crime
Com a vida de faccionado que alega ter deixado para trás, Iago Gustavo Ribeiro Bronzoni, hoje com 24 anos, na próxima quinta-feira (18), vai enfrentar o Tribunal do Júri por um homicídio que diz também não ter cometido. O rapaz acredita que teve seu nome envolvido em assassinato por ser gêmeo, afirma a defesa.
Esse será o terceiro julgamento envolvendo a morte de Maykel Martins Pacheco, morto em 2019, segundo investigação policial e o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), no Parque do Lageado, quando tinha 19 anos. O corpo da vítima até hoje não foi encontrado.
Os advogados de Iago estão prontos para representá-lo diante dos jurados, mas alegam que não há provas de que ele participou da execução sumária, mesmo que o cliente tenha assumindo, na época do homicídio, que pertencia ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que age dentro e fora dos presídios brasileiros.
Iago, que tinha o apelido de “Taurus” à época, é irmão gêmeo de Ian Guilherme, conhecido como “Puro Ódio”, também faccionado. Ele afirma que era viciado em cocaína e quando Maykel desapareceu estava usando entorpecentes em local diferente do escolhido para a suposta execução do jovem
Ao Campo Grande News, a equipe de advogados adiantou a versão que será apresentada no Tribunal do Júri. O julgamento, para Iago, é a esperança de que tudo fique esclarecido.
Segundo o acusado, a namorada de Ian se envolveu com Maykel, que pertencia à facção rival, o Comando Vermelho. No possível “acerto de contas”, que aconteceu na casa do réu, estavam Wesley Torres da Silva, Tales Valensuela Gonçalves, Marcio Fernandes Feliciano e Everson Silva Gauna.
“Eles levaram o Maykel para ‘conversar’ na casa do nosso cliente Iago, mas ele mesmo não estava no local. Em suas próprias palavras, estava ‘invernado na droga’ quando a vítima foi levada para lá e retornou dois dias depois, já sendo preso”, disse o assistente jurídico Matheus Guimarães à reportagem.
A morte e desaparecimento de Maykel chegou à polícia pela mãe da vítima, em 6 de dezembro de 2019. Ela foi informada por uma jovem, que dizia ser namorada dele, que o PCC o havia executado. Durante as investigações, uma das testemunhas disse que os gêmeos ocupavam a função de "disciplina" da facção e organizaram o "tribunal do crime".
Meses depois, quando Wesley foi preso, disse que Iago estava sim no momento do "julgamento", que o assassinato aconteceu na estrada vicinal da Estação Guavirá, próxima à Estrada da Gameleira, e que o corpo foi ocultado em um riacho por ali. Buscas foram feitas, mas nem fragmentos de um corpo humano foram encontrados.
“Não tem provas que coloquem o Iago no local do crime. Ele assume seu passado dentro da facção, que era usuário de drogas, mas é inocente no homicídio, não praticou e nem intercedeu de alguma forma neste suposto delito. Hoje, o acusado está participando da Igreja Congregação Cristã do Brasil, onde fazem visitas nos presídios, não faz parte mais da organização. Quem foi o responsável pelo delito foi seu irmão gêmeo Ian, que tinha um relacionamento com a menina que se envolveu com esse Maykel”, reforça Matheus.
Questionada pelo Campo Grande News, a defesa confirma que acredita terem associado Iago à morte por conta da ativa participação dele dentro da organização criminosa e a impressionante semelhança com o irmão.
Ele aguarda o julgamento em regime fechado desde 2020, está na ala dos presos convertidos ao cristianismo dentro da cadeia e quer seguir outra vida. Os outros envolvidos confessaram participação e pegaram mais de 40 anos de prisão.
O irmão gêmeo dele, Ian Guilherme, o "Puro Ódio", morreu dois meses depois do assassinato, aos 20 anos. Dois homens em uma moto chegaram ao local onde ele estava, no Bairro Parque do Sol, e dispararam várias vezes, o atingindo na região da cabeça.
Gêmeos se encontram em outros processos - No ano de 2018, Ian e Iago foram presos com várias porções de maconha e cocaína na casa deles, na Rua Marilene Jesus, no Bairro Dom Antônio Barbosa.
Os gêmeos também são citados em depoimentos do processo pela morte de Joyce Viana de Amorim, de 21 anos, encontrada morta e decapitada no dia 14 de maio do mesmo ano. O corpo da jovem foi encontrado em uma estrada vicinal, no bairro Nova Campo Grande, na Capital. Naquela época, eles já eram conhecidos como “disciplinas” em mais um “tribunal do crime”.
Durante uma visita ao filho no presídio da Gameleira, em dezembro de 2022, a mãe deles, Joserlinde Ribeiro de Oliveira Dias, disse ao Campo Grande News: "meu filho está preso, mas pelo menos está vivo e ainda tenho a oportunidade de abraçá-lo". A defesa afirma que ela acredita na inocência e conversão de Iago.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.