Santa Casa não paga médicos por não receber da prefeitura, diz diretor
O diretor presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande) Wilson Teslenco, administradora da Santa Casa, disse que não consegue pagar os médicos que estão em greve se não receber a dívida da prefeitura da Capital, que é de R$ 13,4 milhões. O valor refere-se a débitos atrasados de 2014 e os meses de junho a agosto deste ano. Quase 300 pessoas deixaram de ser atendidas desde ontem.
Nessa quinta-feira, cerca de 300 médicos autônomos e pessoas jurídicas (prestadores de serviços) paralisaram o atendimento ambulatorial e as cirurgias eletivas no Hospital, alegando que não receberem os vencimentos e os valores correspondentes aos serviços prestados no mês de setembro. Nesta manhã, Teslenco convocou uma coletiva para explicar à imprensa a atual situação da instituição.
Segundo ele, além da dívida com os médicos, a Santa Casa tem um débito de R$ 4,7 milhões com os fornecedores. Por conta disso, já teria faltado medicamentos no início deste mês, como anestésico, por exemplo. Mas a situação já teria sido normalizado, conforme o diretor presidente, explicando que o hospital tem recorrido a outros fornecedores para evitar a falta de remédios. “Isso nos obriga a pagar mais caro pelos medicamentos, que chega até 40% acima do valor”, comentou.
Em relação ao valor da dívida da prefeitura com o hospital, R$ 7,5 milhões são referentes aos meses de junho, julho e agosto, ainda na gestão do prefeito afastado Gilmar Olarte. Para Teslenco, não importa quem deixou a conta atrasada, “a prefeitura precisa pagar, mesmo que parcelado, pois a Santa Casa não prestou serviços ao Gilmar Olarte ou ao Bernal, mas para a sociedade de Campo Grande”, lembrou ele, reiterando que a relação é institucional e não pessoal.
O diretor presidente da ABCG revelou que a dívida da entidade com os médicos autônomos é de R$ 1,7 milhão, mesmo valor com os profissionais pessoas jurídicas, que inclui aí a prestação de serviços em laboratórios. A greve deixou de atender desde ontem 265 pessoas no atendimento ambulatorial e 24 cirurgias eletivas foram adiadas. “Peço perdão às pessoas que deixaram de ser atendidas e as cirurgias vão ser priorizadas assim que encerrar a paralisação.” O prejuízo só não é maior em razão de a demanda maior no hospital ser o atendimento de urgência e emergência.
Sobre a nota divulgada pela prefeitura em que diz que a dívida estaria sendo auditada, Teslenco disse que desconhecia tal informação e que o secretário de Saúde, Ivandro Fonseca, teria dito a ele que não tinha dinheiro para pagar os atrasados, mas não comentou nada sobre auditoria nas contas.
Outra reclamação do administrador da Santa Casa foi o fato de o contrato do convênio de prestação de serviços com prefeitura estar desde o dia 8 de setembro sem renovar, o que causaria instabilidade na gestão do hospital, considerando que o valor do repasse mensal é de R$ 20,2 milhões.
Teslenco comentou que a prefeitura tem solicitado aumento dos serviços prestados pelo hospital e isso estaria sendo analisado pela administração da Santa Casa. Foram pedidos mais 10 leitos para doenças infecciosas e ampliação do atendimento a vítimas de AVC (Acidente Vascular Cerebral), neurocirurgias, hemodinâmica, além de mais ofertas de cirurgias ortopédicas, para atender a demanda judicializada.
O diretor clínico do hospital, José Mauro Filho, disse que os profissionais não pensam só em dinheiro e eles correm o risco de fechar o mês sem receber os salários e valores dos serviços prestados. “Se pensasse somente no dinheiro, o médido não estaria aqui para receber R$ 70,00 por uma cirurgia de fratura”, ressaltou.
José Mauro Filho pediu “encarecidamente” uma posição da prefeitura para negociar com a Santa Casa, para poderem encerrar a greve. Ele teme que a situação possa provocar a fuga de profissionais do hospital. A preocupação maior é o fato de a Santa Casa possuir um quadro clínico especializado, que pode perder por conta dos atrasos.