Se na cidade sobram buracos, na zona rural "está bem feia a situação"

Se na área urbana Campo Grande está com as ruas tomadas por buracos, como estão as vias da zona rural? O Campo Grande News foi atrás de respostas, encontrou locais onde moradores vivem ilhados e ouviu, de quem deveria cuidar desta área, que "está bem feia a situação" nos arredores da Capital.
A falta de manutenção aliada ao período de chuvas intensas deixa famílias inteiras presas em suas propriedades. Também prejudica até mesmo o escoamento da produção, que vai desde leite e ovos, até legumes e verduras.
O titular da Seintrha (Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação), Amilton Cândido de Oliveira, reconhece o problema e afirma que atualmente nada é feito para solucionar a situação. “Não está sendo feita (recuperação das vias rurais) porque dependemos de recursos e é público que a Prefeitura está sem dinheiro. Além disso, com chuva não conseguimos trabalhar, é jogar dinheiro fora. Sei das necessidades desses locais, está bem feia a situação”, confirmou.
O Censo Demográfico 2010, o último estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a população do País, apontou que em torno de 10,5 mil pessoas vivem na área rural de Campo Grande.
Na região do Assentamento Estrela, na saída para Três Lagoas, 57 famílias dependem da produção rural para sobreviver. Mas, sair de casa para comercializar nas feiras e na Ceasa-MS (Central de Abastecimento de Mato Grosso do Sul), na Capital, é quase uma missão impossível.

A casa de João Carlos Silva, 43 anos, fica às margens da BR-262, mas para conseguir chegar até lá ele precisa se aventurar entre vias estreitas, lama e risco de acidente. Isso porque existem apenas dois acessos que ligam a área onde as famílias vivem e a rodovia. E para quem deixa a pavimentação, cada metro percorrido dentro das vias vicinais do assentamento foram esquecidas pelo Poder Público e que situação lá é realmente de risco.
“Tem 5 anos que moro aqui e a patrola só veio uma vez, uns dois anos atrás. São só dois acessos para os sítios, na minha rua ainda dá para passar, mas na última propriedade que fica dois quilômetros para dentro, só com muita fé. Tem que ter muito cuidado para não sair da pista e em lugares onde tem córrego o perigo é ainda maior”, disse.
Outro morador da região, Lourival da Silva Colman, 44 anos, afirma que, além da dificuldades em relação ao trabalho, outra preocupação é com o início das aulas, previsto para o dia 15 de fevereiro. “Tenho duas crianças de 8 e 10 anos que estudam na cidade, mas para pegar o ônibus escolar é um perigo. Na maioria das vezes, por causa da dificuldade de acesso, o embarque e o desembarque é feito na rodovia, que é muito movimentada”, disse.
O acesso à área urbana do município está comprometido, enquanto as vias dentro do assentamento representam riscos constantes os moradores relatam que sair de casa fica praticamente impossível durante e após as chuvas desta época do ano. "Quando chove, ficamos ilhados, e quando a chuva passa as estradas com lama são perigosas, os acidentes podem acontecer a qualquer momento, afirmou João Carlos.

Mais problemas - Viver no campo também já não é mais sinônimo de tranquilidade para muitos produtores rurais do assentamento Estrela de Jaraguari, onde outras 196 famílias que vivem na mesma área onde estão localizados os sítios da zona rural de Campo Grande visitados pela reportagem. Ambos os assentamentos dividem o nome e os riscos de viver na região, que tem sérios problemas de acesso com vias tomadas pela lama e riscos a cada locomoção.
Isac da Silva Costa, que vive no local há 7 anos, afirma que nesse tempo todo as estradas receberam melhorias apenas duas vezes. "A última foi há uns 5 meses, mas só remexeram em tudo e quando a chuva começou 15 dias atrás virou um barro só. É impossível passar", afirma.
O criador de suínos Durval Pereira Lopes, 35 anos, chegou a desistir de viver no local duas vezes, mas voltou. "É difícil, porque além dos problemas do dia a dia ainda tem a questão do acesso. Eu mesmo busco alimentação para os porcos todo dia de manhã, e demoro 2 horas para fazer o trajeto, se a via fosse boa eu faria na metade do tempo", relata.
Outro produtor da região, Geralmino Ferreira, 40 anos, vai duas vezes por semana até o Ceasa. Ele entrega em médica 900 kg de verduras a cada visita. "Tenho muito medo da estrada. Aqui dentro do assentamento é perigoso".
O secretário de Infraestrutura de Campo Grande prometeu para a próxima semana o início de um trabalho de recuperação das vias rurais. Ele não especificou datas ou o que será feito. “Estou querendo começar o mais breve, estamos aguardando o momento certo para iniciar o serviço”, finalizou Amilton de Oliveira.
A reportagem procurou a Prefeitura de Jaraguari, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.
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