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Capital

Sem dados sobre alfabetização indígena, projeto quer manter língua originária

Lançamento do programa aconteceu na tarde desta quinta-feira, na UEMS, em Campo Grande

Natália Olliver | 18/05/2023 18:41
Lançamento aconteceu nesta quinta-feira, na UEMS (Foto: Natália Olliver)
Lançamento aconteceu nesta quinta-feira, na UEMS (Foto: Natália Olliver)

Para tentar solucionar as defasagens estatísticas de Mato Grosso do Sul sobre o número de indígenas alfabetizados no Estado, quantos chegam às universidades e quantos não falam a língua materna, o governo criou o programa “Alfabetiza MS Indígena”. O lançamento foi realizado nesta quinta-feira (18), na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).

Além de levantar os dados, o programa tem como objetivo primordial não deixar com que as línguas originárias “morram”. Para isso utilizará da transcrição dos materiais didáticos escritos em português para a língua materna de quatro povos: Guarani, Kaiowá, Kadiwéu e Terena. O programa é uma ramificação do MS Alfabetiza, criado em 2021 e vigente desde 2022.

Tania Nugoli, técnica de educação indígena da SED (Secretaria  Estadual de Educação), evidenciou ao Campo Grande News que o projeto pode responder a inúmeras questões necessárias e que servirá para que o governo pense nas diversas realidades envolvidas nos debates indígenas.

Tania Nugoli, técnica em educação indígena (Foto: Natália Olliver)
Tania Nugoli, técnica em educação indígena (Foto: Natália Olliver)

"Não temos o número de quantos chegam à faculdade. Não temos percentual de quantas crianças falam a língua originária. Teríamos que ver a nível nacional, ou com as comunidades. Tudo isso é muito novo. A gente pode dizer que o objetivo do projeto é responder também essas questões”, disse.

Desaparecimento da língua - O projeto contemplará 23 cidades de Mato Grosso do Sul, mas a técnica explica que os municípios de Aquidauana, Miranda, Dois irmãos do Buriti, Paranhos e Amambai são alguns das cidades que mais possuem estudantes indígenas no Estado. Sobre o desaparecimento das línguas originárias, Tania evidenciou que a SES se preocupa muito com o assunto.

“Temos oito etnias no Estado, das sete línguas três estão se perdendo, estão em processo de adormecimento. Nós preocupamos e estamos fazendo a retomada delas e manutenção das outras. A ideia é que ela não se percam e tragam, cada vez mais, elementos para nossa cultura não indígena, questões que foram se perdendo”, disse.

Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, professor e palestrante, demonstrou a satisfação no projeto e evidenciou que os povos querem passar os conhecimentos para outras gerações, mas que há uma diminuição da língua originária em todas as comunidades indígenas sul-mato-grossenses.

Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, palestrante (Foto: Natália Olliver)
Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, palestrante (Foto: Natália Olliver)

“Um passo muito interessante está sendo iniciado. Esse projeto vai trazer bastante influência para os povos de Mato Grosso do Sul. Muitos estão deixando de se comunicar e se realmente as instituições formadoras juntos com os povos não pensarem em como manter isso, a língua não vai morrer mais”.

Segundo Joaquim, agora é hora das comunidades se organizarem e pensar no que desejam ensinar às próximas gerações. “Acho que a palavra é educação de qualidade, não pensando só na construção, mas no modo de ensinar”, finalizou.

Comunidades - Eber Reginaldo Terrena, vereador do PSDB, de Dois irmãos do Buriti, disse à reportagem que há uma grande preocupação com a manutenção da língua.

“Estamos preocupados que nossos filhos já não falam muito a língua materna. A gente acredita muito que o governo ajudando, a gente consiga fazer o extraclasse, utilizando as próprias escolas indígenas que já tem a língua materna, mas que não está sendo suficiente. A gente precisa desse aporte”.

Eber Reginaldo Terrena diz que projeto vai ajudar comunidades e gerações (Foto: Natália Olliver)
Eber Reginaldo Terrena diz que projeto vai ajudar comunidades e gerações (Foto: Natália Olliver)

A diretora-presidente da Fadeb-MS (Fundação de Apoio e Desenvolvimento à Educação Básica de Mato Grosso do Sul), Célia Motta, comentou durante o evento que o governo tem a obrigação de buscar a equidade e qualidade na educação.

“Não dá pra ter qualidade para uns e não ter para os outros. Nosso propósito é promover o desenvolvimento humano e reduzir a desigualdade. Já existia muito na educação, mas aumentou muito com a pandemia."

A responsável pela fundação acrescenta que o projeto visa transpor o material que já foi entregue pelo Estado para a língua indígena e que tanto governo quanto a sociedade não podem deixar que a língua originária morra.

“Não alfabetizar na língua materna é excluir. Fazer isso junto com a língua portuguesa é um alicerce na cultura do povo. É um direito que toda criança indígena tem. Queremos inspirar outros estados porque esse projeto é o primeiro no Brasil”, finalizou.

Intérpretes - Estela Mara de Andrade, coordenadora do Alfabetiza MS, pontuou que a SED ainda está no processo de contratação dos intérpretes das línguas indígenas para transpor os conteúdos.

“A proposta é que as crianças de MS sejam alfabetizadas na língua portuguesa e língua indígena, quando indígena. As línguas serão de acordo com os linguistas que vamos conseguir contratar. A intenção é que se estenda às sete línguas.”

De acordo com a técnica de educação indígena, Tânia, é provável que sejam usados intérpretes formados pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e UFMS de Aquidauana, pois na UEMS o curso começou no início de 2023 e ainda não tem tanta procura.

“Estamos caminhando nesse processo. Temos estreitado os debates com a rede municipal, porque não tem nenhuma escola indígena aqui, como esses professores ficam? Isso vai ser o começo de um programa maior”, finalizou.

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