Sem família, idosos “moram” no maior hospital de MS há meses
Enquanto pacientes lutam pela vida, contextos sociais desafiam Serviço Social
Do início do ano até agora, a Santa Casa de Campo Grande já recebeu 38 pacientes “sem nome”. Nessa hora, além da equipe médica correndo para salvar as vidas, entra em cena o trabalho das assistentes sociais, que saem em busca da identificação e famílias dos doentes. Mesmo assim, há casos em que os quartos da instituição viram “casa” para pessoas sem família, principalmente as idosas.
Dos 38 desconhecidos internados, 23 só foram identificados após exame papiloscópico – quando peritos do Instituto de Identificação são acionados para fazer a coleta das digitais e buscar nos sistemas da Segurança Pública.
“Não é raro recebermos pacientes desacordados, sem documentação, sejam de Campo Grande ou do interior. Nestes casos, a gente espera 24 horas para o comparecimento de um familiar, a gente não aciona os órgãos de imediato. Se o paciente apresenta alguma melhora, a gente conversa com ele em busca de informações. Mas, se ele está numa situação que não consegue informar os próprios dados, o Serviço Social solicita a coleta de digitais”, explica a supervisora do Serviço Social da Santa Casa, Emily Moraes.
O resultado do exame chega em duas semanas, explica a assistente social. “Neste casos, pode ser uma pessoa em situação de rua ou que teve os vínculos familiares já rompidos. Então, quando chega o resultado, a gente faz a busca de parentes e tenta fazer a reintegração do pacientes à vida familiar”.
Nem sempre é possível, conta Emily. “Às vezes são pessoas de outro Estado. A gente faz a busca, mas podemos não obter resultado, aí partimos para a divulgação”.
Sobre dar publicidade aos casos, ela se refere à história de um idoso, de aproximadamente 60 anos, que estava internado há um mês no hospital, em coma. Um filho dele só foi localizado depois que matéria foi veiculada pelo Campo Grande News nesta semana, informando que o hospital estava à procura de parentes. Uma foto de uma tatuagem do paciente foi divulgada e o filho reconheceu.
Sem família – Emily conta que são inúmeros os contextos sociais encontrados pelos leitos e corredores do maior hospital de Mato Grosso do Sul, mas outra situação que acontece muito com idosos é chamada de internação social – quando o paciente já pode deixar a unidade hospitalar, mas não tem para onde ir, ou porque não tem familiares ou pior, porque foi abandonado. Hoje, a Santa Casa tem três “moradores”.
O mais antigo, está há mais de 100 dias no hospital – desde 7 de abril. O idoso, de 84 anos, foi encontrado caído na rua e socorrido por ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Ele era sozinho. Perdeu os parentes mais velhos, nunca se casou e não tem filhos. Hoje, é uma pessoa acamada, se alimenta por sonda e precisa de cuidados especiais.
“Neste caso, temos de informar a Promotoria de Proteção à Pessoa Idosa, as secretarias de Assistência Social e Saúde. O idoso precisa de uma vaga em instituição de longa permanência. Até porque, do ponto de vista humano, um hospital não é o mais adequado, é um local insalubre, ele pode pegar uma infecção. Do ponto de vista técnico, também não, porque esse paciente acaba ocupando um leito muito importante para o SUS [Sistema Único de Saúde]”.
Outro paciente também é do sexo masculino e tem 68 anos. Sozinho, ele sofreu uma queda, fraturou o quadril. O homem foi internado no dia 7 de junho, mas está de alta desde o dia 22 do mês passado. Apesar de estar consciente, ele não tem rede de apoio familiar e precisa de supervisão. Também aguarda vaga em casa de repouso.
A terceira paciente é uma idosa, de 82 anos. Ela tem família, mas a filha, com quadro de deficiência mental severa, não tem condições de cuidar da mãe e já necessita de ajuda. Os outros parentes, por enquanto, estão na promessa de encontrar uma casa de repouso para a senhorinha.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.