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Capital

Setor de cirurgia cardíaca pediátrica da Santa Casa luta por mais 4 leitos

Referência no Estado e com 3,6 mil cirurgias realizadas, serviço passa por momento de atenção após ação do MP

Por Kamila Alcântara | 08/06/2024 08:46
Placa de identificação do setor de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica da Santa Casa (Foto: Alex Machado)
Placa de identificação do setor de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica da Santa Casa (Foto: Alex Machado)

Recentemente, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) cobrou explicações da Santa Casa e da Prefeitura de Campo Grande sobre mortes de bebês com cardiopatias. Mesmo sendo totalmente avessa a entrevistas, a médica responsável pelo setor de  cirurgia cardíaca pediátrica do hospital, Aparecida Afif, conversou com o Campo Grande News sobre o caso e disse que “o serviço oferecido é muito sério, de completa dedicação às crianças".

Com desenhos de capivaras felizes pintados nas paredes e sem o tradicional jaleco branco, Aparecida diz ser extremamente tímida para “essas coisas de câmeras de entrevistas”. Sua trajetória profissional se confunde com a criação do setor na Santa Casa, que começou na década de 90.

“Terminei minha residência em cirurgia cardiovascular no ano de 1994. Fui me especializar no Incor, lá em São Paulo, e voltei apaixonada pela complexidade de atender crianças. Não tinha o serviço de cirurgia cardíaca pediátrica aqui, foi criado por mim e os colegas da época, sem recursos. Até que conseguimos o reconhecimento do Ministério da Saúde e nos tornamos referência no atendimento”, conta.

Atualmente, quase 30 anos depois, são seis leitos para atendimento de crianças com cardiopatias graves, de recém-nascidos até 12 anos. Lá nos primeiros anos eram cerca de 50 cirurgias por ano, agora já chegam a quase 150 cirurgias por ano.

“A complexidade foi aumentando e veio também o exame Ecofetal, onde a criança já nasce com o diagnóstico e direcionada para atendimento aqui. É uma maravilha! Na verdade, tudo aumentou, menos a quantidade de leitos para o pós-operatório”, reforça a cirurgiã.

Atrás dessas portas estão os bebês que precisam ficar internados (Foto: Alex Machado)
Atrás dessas portas estão os bebês que precisam ficar internados (Foto: Alex Machado)

O elefante na sala de consulta - Em andamento na 32ª Promotoria de Justiça, sob responsabilidade de Daniela Costa da Silva, as investigações iniciaram a partir do relato da enfermeira Gabrielle Montalvão, que no ano passado contou ao Campo Grande News a situação dramática que vivenciou, em ver o filho Caleb, de 3 meses, nascido com doença cardíaca, perder a vida enquanto esperava atendimento no hospital.

Na época da apuração da notícia, a Santa Casa disse que o bebê foi admitido com um quadro de insuficiência respiratória aguda e, exames iniciais, não evidenciaram comprometimento cardíaco. “No entanto, devido à gravidade da condição respiratória preexistente, que se caracterizava por uma pneumonia viral severa, o estado de saúde de Caleb se deteriorou, levando ao seu triste falecimento”, alegou.

Sobre esse caso, Aparecida Afif foi categórica. “Sou mãe. Eu respeito a dor da perda e respeito a opinião de todos, desde que respeitem o nosso trabalho. Amo o que faço a ponto de ter a certeza de, se nascer em outra vida, quero nascer cirurgiã cardiovascular novamente”.

Ela confirma que, por conta da ação no MPMS, uma auditoria no setor foi realizada pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), não constatando irregularidades e confirmando a taxa de mortalidade de 12%. “Houve auditoria da Sesau, ficamos muito felizes com os resultados e vamos continuar trabalhando, com o objetivo de dar assistência de qualidade a essas crianças. Foi comprovado pela auditoria. Tudo que é exigido pelo Ministério da Saúde nós temos”, defende a cirurgiã.

Com quase 3,6 mil cirurgias em crianças no histórico do setor, ela termina dizendo que “dedico o tempo para ajudar os pais que nos procuram com seus filhos com problemas no coração. Eu estou aqui na luta para chegarmos aos dez leitos e diminuir a fila de espera”.

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