Mãe que perdeu bebê de 3 meses e denunciou omissão é processada por médicas
Inconformada com morte do filho, enfermeira fez boletim de ocorrência e foi para a internet
A enfermeira Gabrielle Montalvão, de 23 anos, decidiu não se calar quando perdeu seu bebê, Caleb Montalvão, com 3 meses e 11 dias. Com plena convicção que o filho foi vítima de negligência médica, apesar de cardiopatia congênita, ela registrou boletim de ocorrência e procurou advogada para propor ação judicial para responsabilizar os profissionais que atenderam o garotinho. A mãe, ferida com a perda, também foi para a internet e recebeu o contragolpe. As médicas que citou em comentário feito em espaço virtual a processaram por calúnia e difamação.
Na queixa-crime, protocolada na Justiça, no dia 6 de julho, as profissionais, através da defesa, afirmam que “de forma injustificada e com a intenção de difamar”, a mãe publicou mensagem no perfil público de avaliações da clínica particular onde as médicas trabalham.
Os advogados registram ainda que as clientes ficaram “completamente abaladas ao verem a referida ‘avaliação’ extremamente ofensiva da querelada, postada para toda a internet acessar”.
Além da condenação de Gabrielle pelos crimes contra a imagem das médicas, elas querem receber indenização por danos morais.
No texto que motivou a ação, a mãe de Caleb chama a médica que acompanhava o filho desde o nascimento de “omissa e incompetente”. “Salvem os seus filhos”, avisa a enfermeira no comentário.
Depois, Gabrielle começa a contar a história que já narrou ao Campo Grande News, dizendo que a médica “estava ocupada demais atendendo seus pacientes de consultório” quando deveria estar de plantão na Santa Casa da Capital, onde o garotinho morreu.
Inconformada com a morte do filho, mãe também dispara contra outra médica que suspeitou que o garotinho estivesse com infecção, embora, para Gabrielle, ele precisasse de cirurgia cardíaca de emergência.
A denúncia - O caso é complexo e segundo a advogada de Gabrielle, Janice Andrade, dados ainda estão sendo levantados, mas a negligência médica, que pretende provar através de documentos, será a resposta da defesa da enfermeira que perdeu o bebezinho.
Conforme levantado até agora, no 7 de maio, Caleb começou a passar mal em casa, com gemidos e dificuldade de respirar. Atendido pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ele foi levado para a Santa Casa com a ajuda de oxigênio, onde não recebeu atendimento imediato.
Segundo Janice, o bebê chegou ao hospital por volta das 9h, mas só recebeu a primeira medicação às 17h38. “A primeira negligência foi aí. A criança estava em sofrimento, roxo. Essa foi a primeira omissão”.
Ainda conforme a acusação feita pela família de Caleb, a mãe foi avisada que a médica especialista em cardiologia pediátrica havia sido chamada para o hospital com urgência. Ela poderia avaliar melhor a criança, o que só aconteceu também muitas horas depois de o bebê chegar ao hospital. Às 22h daquele dia, o menino piorou e foi levado para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).
No dia seguinte, o bebê permaneceu na UTI, mas sem atendimento da médica que o acompanhava desde o nascimento e também era plantonista no hospital, segundo a família. Caleb passou por exames de sangue e a profissional que o avaliou e pediu ecocardiograma, realizado na hora. Neste último teste, ficou constatada insuficiência cardiorrespiratória, descompensação cardíaca e a possibilidade de obstrução nas veias pulmonares.
A família diz que o garotinho precisava de uma cirurgia de urgência, mas mais um exame foi pedido, uma angiotomografia. Instável hemodinamicamente, ele não passou pelo procedimento que, de qualquer maneira, só seria feito no dia seguinte, 9 de maio.
O quadro se agravou, Caleb precisou ser intubado sem a presença, mais uma vez, de um cardiologista pediátrico, e às 19h daquele dia, a médica que o acompanhava desde o nascimento o avaliou, mas ele já estava morrendo. “Foi uma cadeia de omissões. A criança teve 15 paradas cardiorrespiratórias ao longo do dia 9 e não foi avaliada por ninguém”, argumenta a advogada.
No atestado de óbito, a causa da morte registrada foi choque cardiogênico e choque séptico (infecção generalizada), mas a família contesta porque exames de sangue não mostraram sinais de infecção.
Além de responsabilizar as médicas, Gabrielle quer que a Santa Casa de Campo Grande responda, uma vez que o hospital deveriam manter escala de plantão com especialistas em cardiologia pediátrica, conforme prevê a Portaria 1.846/2018, do Ministério da Saúde.
A instituição filantrópica paga R$ 84 mil por mês para a clínica privada, onde as médicas que atenderam Caleb também atuam, fornecer o revezamento de profissionais, na modalidade plantão ou sobreaviso.
O hospital informou, via assessoria de imprensa, que não se pronunciará sobre os acontecimentos.
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