MS entra na mira com 4 postos investigados por ligação com crime organizado
Facções como PCC e Comando Vermelho usam postos de combustíveis para lavar dinheiro

Mato Grosso do Sul entrou no radar da Polícia Federal que investiga a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis no país. Mapeamento inédito, conduzido pelo Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado, identificou 941 postos suspeitos de envolvimento com facções criminosas em pelo menos 22 estados, 4 deles em território sul-mato-grossense. Os nomes, no entanto, não foram divulgados.
RESUMO
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Mato Grosso do Sul está sendo investigado pela Polícia Federal por suspeita de infiltração do crime organizado no setor de combustíveis. Um mapeamento identificou quatro postos no estado com possível ligação com facções criminosas. A investigação, coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, busca desarticular esquemas de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e adulteração de combustíveis. O foco é rastrear redes criminosas com atuação nacional, já que o crime organizado lucra mais com o setor de combustíveis do que com o tráfico de cocaína. Em 2020, uma operação em Campo Grande já havia investigado o uso de postos de combustíveis para lavagem de dinheiro.
Para chegar a lista, foram relacionados todos sócios com antecedentes criminais e envolvimento em operações policiais, como roubo de cargas e uso de laranjas.
A apuração, divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, é coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, conta com a participação da Polícia Federal, Receita Federal, Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e Ministério de Minas e Energia. O foco é desarticular esquemas de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, uso de laranjas e adulteração de combustíveis.
Segundo a Folha, o levantamento indica que redes de postos sob o controle de facções como PCC (Primeiro Comando da Capital), Comando Vermelho e Família do Norte operam com ramificações nacionais. Também há indícios da atuação de milícias.
Embora estados como São Paulo e Goiás concentrem o maior número de estabelecimentos sob suspeita, os investigadores apontam que a operação das facções se espalha por regiões estratégicas como Mato Grosso do Sul, por sua localização na rota do tráfico, na fronteira com Paraguai e Bolívia.
A movimentação financeira elevada e o uso intenso de dinheiro em espécie tornam os postos de combustíveis um ambiente propício para a lavagem de recursos ilícitos, explica o Núcleo. Ao jornal, o promotor Fábio Bechara, do Ministério Público de São Paulo e integrante do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), disse que o interesse do crime nesse mercado remonta ao fim dos anos 1990, mas se sofisticou nos últimos anos.
“O setor de combustíveis é naturalmente atrativo por conta do volume de transações. Investigações recentes apontam inclusive envolvimento de distribuidoras e empresas de fachada com estruturas bem organizadas”, disse.
No Mato Grosso do Sul, fontes do setor de segurança consultadas sob condição de anonimato reconheceram que há apurações em curso, especialmente nas regiões de fronteira e em áreas com histórico de movimentação atípica de combustíveis.
O ministro Ricardo Lewandowski já havia declarado em fevereiro a intenção de unificar as apurações em um inquérito mais abrangente, com foco nacional, após reconhecer que os casos até então investigados eram pontuais e setoriais. A meta agora é rastrear redes criminosas com atuação simultânea em diferentes partes do país.
A ofensiva também ocorre em meio à pressão de empresários do setor legalizado, que denunciam concorrência desleal. Segundo o Instituto Combustível Legal, redes não conseguem competir com postos que praticam preços abaixo do mercado graças à sonegação.
Estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que o crime organizado lucra mais com o setor de combustíveis do que com o tráfico de cocaína. Enquanto a droga movimenta cerca de R$ 15 bilhões, os lucros com combustíveis e lubrificantes podem chegar a R$ 61,5 bilhões. A perda fiscal estimada para os cofres públicos gira em torno de R$ 23 bilhões por ano.
Em 2020, o Gaeco desencadeou em Campo Grande uma operação semelhante sobre usso de postos de combustíveis na lavagem e desvio de dinheiro. Por meio de abastecimento fraudulento, valores eram retirados em espécie no posto de combustíveis que integrava o núcleo criminoso.
(Com informações da Folha de São Paulo)