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Capital

Sistema de saúde da Capital atende pacientes mesmo sem passar pela regulação

Dados são de 2022 e 2023, mas como foram publicados há poucos meses, o município ainda precisa prestar contas

Por Lucia Morel | 05/11/2024 18:34
Sistema de saúde da Capital atende pacientes mesmo sem passar pela regulação
Fachada da Sesau na Rua Bahia, em Campo Grande. (Foto: Reprodução)

O Sisreg (Sistema de Regulação) da Prefeitura de Campo Grande não controla a quantidade de procedimentos realizados pelos hospitais, com alguns realizando muito mais do que está pactuado e outros, muito menos. Também foi identificado que houve atendimentos a pacientes que nem mesmo passaram pela regulação.

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Um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) apontou falhas no sistema de regulação de saúde de Campo Grande, incluindo o não controle da quantidade de procedimentos realizados por hospitais, atendimentos sem regulação prévia e filas de espera longas e sem dados estruturados. A CGU identificou discrepâncias entre a quantidade de procedimentos realizados e a meta pactuada, com alguns hospitais superando a meta e outros ficando aquém. O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) abriu investigação para acompanhar o cumprimento das recomendações da CGU, que considera a situação grave e com potencial de comprometer os serviços de saúde pública da cidade.

Os dados são de 2022 e 2023, mas como foram publicados há poucos meses, o município ainda precisa prestar contas. Inclusive o Ministério Público de Mato Grosso do Sul abriu investigação esta semana para acompanhar se o município vai cumprir as recomendações orientadas pela CGU (Controladoria Geral da União), que fez o levantamento para o Relatório de Avaliação referente ao FMS (Fundo Municipal de Saúde).

Além das duas constatações já citadas, a CGU também identificou que as filas de espera, seja para consultas ou exames, têm crescimento constante com tempo de espera longo, “de modo que o gestor não mantém dados estruturados sobre suas filas, o Sisreg não entrega relatórios históricos e o levantamento da auditoria indicou evolução na fila de espera para múltiplos tipos de procedimentos da amostra”.

Para se ter uma ideia, a CGU descobriu que procedimentos executados pelo Hospital Universitário de Campo Grande e pelo Hospital Adventista do Pênfigo, correspondem a apenas 32% de todos os atendimentos em saúde da Capital. Ainda assim, superaram expressivamente a meta pactuada que é de 58,7 mil consultas médicas especializadas em um ano no Humap e de 960 no Pênfigo. Naquele ano, o primeiro fez 78.242 e o segundo 2.328 atendimentos, respectivamente.

“Já o HCAA, São Julião, HRMS e Santa Casa, apesar de terem respondido por mais de 67% da produção, executaram abaixo de suas respectivas metas. Situações críticas são da Clínica UCDB e da Associação de Amparo à Maternidade (AAMI), cujas produções foram ínfimas e pouco contribuíram para a redução da fila de espera”, cita o relatório da CGU.

Para a controladoria, com isso, “conclui-se que houve subaproveitamento da meta global pactuada para o ano de 2022, o que pode ter contribuído para aumento das filas e tempo de espera no ano de 2023 nas especialidades médicas do escopo examinado”. Confira os dados em tabela nesta página.

Sistema de saúde da Capital atende pacientes mesmo sem passar pela regulação

À CGU, o município, através da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), explicou que os dados referem–se “à produção mínima necessária”, e que o estabelecimento tem a prerrogativa de realizar “uma produção que ultrapasse o estipulado”. “Contudo, quando essa produção excede consideravelmente as previsões, realiza-se uma avaliação minuciosa com o intuito de identificar possíveis pontos de desajuste”.

A controladoria, entretanto, avalia que “nenhuma nova informação (em relação à pesquisa de campo) foi apresentada que esclarecesse a deficiência constatada na gestão da regulação dos procedimentos ambulatoriais da amostra selecionada para exame”.

Sobre a ocorrência de atendimentos a pacientes que não haviam passado pela regulação, foram analisados 291 de 4.941 prontuários e neles, houve discrepância. No exame de ressonância magnética, por exemplo, “de 31 prontuários, 29 (93,55%) continham os laudos com resultados dos exames, mas 18 (58%) não possuíam as guias de autorização, tampouco os registros de solicitações foram localizados no Sisreg”. Além disso, “26 prontuários (83,87%) não apresentavam a declaração do paciente ou responsável confirmando a realização do procedimento”.

Para a CGU, “as situações ora relatadas contribuem para a ocorrência de atendimentos indevidos não registrados no sistema de regulação e não são submetidos ao crivo da regulação, burlando o fluxo normal do processo e comprometendo a equidade no acesso aos serviços de saúde do SUS”.

Questionada, a prefeitura não se manifestou à controladoria, apesar de ter se comprometido a fazê-lo, conforme aponta o relatório. Asim, “há baixa confiabilidade dos dados sobre realização de procedimentos no Sisreg: 60% da produção (...) em 2022 dos serviços ambulatoriais (...) não tiveram sua execução confirmada no Sisreg”.

O inquérito do MPMS, baseado nos achados da CGU, evidencia que para a 76ª Promotoria de Justiça, que acompanha o caso, o cenário é grave, “com potencial comprometimento das ações e serviços de saúde pública ofertados em Campo Grande”.

Outro lado - Por meio da assessoria de imprensa, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que
"antes mesmo da divulgação do relatório da CGU, em maio (objeto da ação do MPE), a pasta já vinha tomando medidas para a redução da fila de espera, e desde então criou um plano de ação".

"A secretaria adotou a chamada 'higienização' das filas em que reavalia a situação dos pacientes com mais de 18 meses na espera por exames, consultas e cirurgias. Com isso, a regulação recomenda à unidade de saúde (onde originou o pedido) que faça a reavaliação deste paciente para que seja avaliada a necessidade de reclassificá-lo na espera", também diz a nota, explicando que o plano foi apresentado à Comissão Intergestores Bipartite, formada por representantes da SES (Secretaria de Estado de Saúde) e Sesau.

"A Sesau entra em contato por telefone (mensagem e ligação) com o paciente que tem uma consulta, cirurgia ou exames marcados nas 72 horas que antecedem essa marcação, o intuito é o de confirmar a presença, os contatos são feitos até 24 horas antes em dias e horas alternados para dar chance ao paciente de atender o chamado. A pedido da secretaria, a área de tecnologia está em tratativas com as operadoras de telefonia para que os números da Sesau passem a ter identificadores de chamada com isso, acreditamos que ao reconhecer o número o cidadão possa aceitar mais facilmente a mensagem".

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