"Vi a menina rodopiando no alto", diz testemunha de acidente com morte
O mototaxista Rogério Araújo, 36 anos, chegava de uma corrida quando aconteceu o atropelamento que matou Alessandra Larrea Barcelos da Silva. Colegas de Rogério e outras pessoas que trabalham na região dizem que é preciso campanha para educar o pedestre
Era por volta das 22h30min dessa terça-feira. O mototaxista Rogério Araújo, 36 anos, tinha acabado de chegar ao seu ponto - na avenida Afonso Pena -, Centro de Campo Grande, quando, ao estacionar a motocicleta ouviu a pancada e ao olhar para trás viu a cena que o fez encerrar o expediente mais cedo. “Vi a menina rodopiando no alto e aí ela caiu”.
A menina a quem o trabalhador se refere é Alessandra Larrea Barcelos da Silva, 25 anos. A 17ª pedestre morta no trânsito da Capital neste ano, segundo dados da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito).
Ela foi atropelada pelo táxi Fiat Siena conduzido por Aparecida Dantas dos Santos, 42 anos, que, de acordo com testemunhas, havia acabado de sair do ponto da rua 14 de Julho e não estava em alta velocidade.
Ao se dar conta da gravidade do que havia presenciado, Rogério decidiu ir para casa antes do horário de rotina. Abalado, enquanto se preparava para finalizar o trabalho, viu o socorro chegar rapidamente e a taxista aparentemente desesperada com a situação.
"Se ela [Aparecida] não tivesse jogado o carro para o lado teria passado por cima da menina”, fala a vendedora ambulante Ester Silva de Barros, 48 anos, que também viu quando Alessandra foi atingida. “Na hora, a menina rodopiou e caiu”, afirma.
Segundo Ester, ela e a taxista conversavam quando Aparecida foi chamada para uma corrida. Ao sair do ponto e virar na Afonso Pena atropelou Alessandra. “Ela não estava correndo. Não tinha distância para alcançar velocidade”, declara a vendedora.
Ela e o mototaxista Rodes Bentos da Silva, 42 anos, consideram o atropelamento uma fatalidade. “Certeza de que não foi de propósito. Ela [Aparecida] é uma profissional”, disse Rodes. Ele declara que estava no seu ponto de trabalho quando uma amiga de Alessandra chegou e perguntou se ele poderia testemunhar e contou que ambas estavam em um grupo de amigas seguindo para o ponto de ônibus e a jovem foi a última a atravessar a via.
Há manchas de sangue a alguns metros da faixa de pedestre. Rogério disse não ter notado se a vítima atravessava na faixa. Já Ester afirma que Alessandra estava no local destinado à travessia de pedestres.
Campanha - No mês de novembro, a Agetran e a Ciptran (Companhia Independente de Polícia de Trânsito) fizeram campanha educativa para que o pedestre passe a ter vez no trânsito de Campo Grande. Desde o dia 1º de dezembro, os motoristas que param sobre a faixa ou não dão preferência para quem está a pé estão sendo punidos com multa.
Para o mototaxista Rodes Bentos, além de educar o motorista, é preciso orientar o pedestre. “É preciso campanha para educar o pedestre, porque, se ele vê o carro parado anda mais devagar”.
A mototaxista Neide de Freitas também tem a mesma opinião que o colega. “Os pedestres não respeitam a faixa. É preciso educar o pedestre. Eles estão se achando. Podem passar em qualquer lugar. Mas é claro que os motoristas precisam respeitar”.
Sinalização - Para Neide, para evitar mais atropelamentos é necessário também organizar o trânsito com melhorias na sinalização, como instalação de semáforo com tempo para quem estar a pé. “A Agetran vai esperar morrer mais quantos pedestres?”, questiona.
Números - Segundo informações da Agetran, 122 pessoas morreram no trânsito da Capital até a noite dessa terça-feira. Deste total, 77 eram motociclistas; cinco condutores de automóveis; cinco passageiros de carros; 17 pedestres e 18 ciclistas.
O Placar da Vida, inaugurado em maio para contar os dias em que não foram registradas mortes no tráfego urbano, já somava 10 dias. Ontem, voltou a ser zerado.
Na manhã desta quarta-feira, pelo menos dois pedestres já foram atropelados. Um deles, no cruzamento das ruas Rio Grande do Sul e Sete de Setembro.