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Capital

Vidros e agulhas mal embalados fazem 5 vítimas por mês

Antes de chegar ao aterro, os invólucros nas lixeiras passam pelas mãos de 360 trabalhadores

Aline dos Santos | 21/12/2022 10:26
Vidros e agulhas mal embalados fazem 5 vítimas por mês
Momento da coleta do lixo pode virar acidente com vidro mal embalado. (Foto: Marcos Maluf)

Funcionário há três anos na coleta do lixo em Campo Grande, Izac Rolon, 28 anos, sofreu três acidentes com material perfurocortante no último mês de setembro. O que à primeira vista parece um golpe de azar individual revela, na verdade, o descaso coletivo que se espalha pela cidade na rotina de tirar o lixo de casa.

Antes de chegar ao aterro sanitário no Bairro Dom Antônio Barbosa, na saída para Sidrolândia, o lixo passa pelas mãos de 360 trabalhadores, com idade média de 18 a 30 anos, que precisam da consciência da população.

“Foram três acidentes com agulhas. Um no Coophasul, outro no Danúbio Azul e o último no São Conrado. Quando fui coletar o lixo, pequei na sacola e a agulha atravessou”, diz Izac, mostrando a mão direita, atingida duas vezes por agulha entre o indicador e polegar.

Vidros e agulhas mal embalados fazem 5 vítimas por mês
Izac aponta para mão direita, perfurada por duas agulhas.  No mês de setembro, foram três acidentes. (Foto: Marcos Maluf)

O clamor à população é de que os materiais sejam embalados corretamente. “Alguns colocam [material perfurocortante] no meio do lixo orgânico e você está na correria, o nosso serviço é correria, e acaba se machucando. O recado que dou é que coloquem agulhas e vidros numa garrafa PET, passa uma fita. Assim é uma segurança para nós”.

A cada ferimento por agulha, o trabalhador entra numa rotina de cuidados, que requer uso de coquetel de medicamentos, disponível na rede pública de Saúde, e exames de sorologia para hepatites, HIV, sífilis. O monitoramento se estende por três meses, com avaliação laboratorial a cada 30 dias.

De acordo com Readir de Andrade, encarregado do Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho da CG Solurb, empresa que explora o serviço de manejo de resíduos sólidos e limpeza urbana na Capital, o funcionário da coleta não tem como fazer uma avaliação prévia das embalagens depositadas nas lixeiras.

O serviço em ritmo acelerado tem suas próprias especificidades. Na rotina diária, o funcionário da coleta já precisa se atentar ao deslocamento pelas ruas, como o fluxo do trânsito e onde está o caminhão.

Vidros e agulhas mal embalados fazem 5 vítimas por mês
Caminhão com trabalhador deixa a unidade da Solurb em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

Nas mãos, os trabalhadores usam luva nitrílica como EPI (Equipamento de Proteção Individual), compatíveis com atividades que exijam tato, aderência e destreza, contudo, elas não são resistentes aos perfurocortantes. O uso de luvas anticorte, como a de açougueiro, não é cogitado por comprometer a mobilidade das mãos.

Levantamento da concessionária no mês de junho de 2022 mostrou que o setor na região do Bairro São Francisco era o com mais acidentes provocado por lixo mal embalado. No ano de 2019, a estratificação dos dados apontou para o Bairro Aero Rancho, o mais populoso de Campo Grande.

A empresa fez campanha educativa em parceria com associação de moradores e escola. Segundo Readir, a medida surtiu efeito e houve queda dos casos no setor.

Agulhas, seringas de injeção usadas e outros materiais perfurantes devem ser colocados em garrafas PET tampadas ou em recipiente rígido que não se rompa com facilidade. Para o descarte correto, seringas e medicamentos vencidos devem ser levados ao posto de Saúde mais próximo de sua residência.

Vidros e agulhas mal embalados fazem 5 vítimas por mês
Segundo Readir, Solurb faz campanha educativa para redução de acidentes na coleta. (Foto: Marcos Maluf)

Já lâminas de barbear, pregos, pedaços de ferro e arames devem ser embrulhados em jornal e descartados em recipientes com tampa resistentes à perfuração.

Outra orientação da CG Solurb é usar sempre sacos resistentes e reforçados para não arrebentar, além de identificar no coletor alerta como “Cuidado, vidro quebrado”.

O contrato da concessionária e a Prefeitura de Campo Grande teve início em 25 de outubro de 2012, com valor global de R$ 1.827.414.324,87 e duração de 25 anos.

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