Vidros e agulhas mal embalados fazem 5 vítimas por mês
Antes de chegar ao aterro, os invólucros nas lixeiras passam pelas mãos de 360 trabalhadores
Funcionário há três anos na coleta do lixo em Campo Grande, Izac Rolon, 28 anos, sofreu três acidentes com material perfurocortante no último mês de setembro. O que à primeira vista parece um golpe de azar individual revela, na verdade, o descaso coletivo que se espalha pela cidade na rotina de tirar o lixo de casa.
Antes de chegar ao aterro sanitário no Bairro Dom Antônio Barbosa, na saída para Sidrolândia, o lixo passa pelas mãos de 360 trabalhadores, com idade média de 18 a 30 anos, que precisam da consciência da população.
“Foram três acidentes com agulhas. Um no Coophasul, outro no Danúbio Azul e o último no São Conrado. Quando fui coletar o lixo, pequei na sacola e a agulha atravessou”, diz Izac, mostrando a mão direita, atingida duas vezes por agulha entre o indicador e polegar.
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O clamor à população é de que os materiais sejam embalados corretamente. “Alguns colocam [material perfurocortante] no meio do lixo orgânico e você está na correria, o nosso serviço é correria, e acaba se machucando. O recado que dou é que coloquem agulhas e vidros numa garrafa PET, passa uma fita. Assim é uma segurança para nós”.
A cada ferimento por agulha, o trabalhador entra numa rotina de cuidados, que requer uso de coquetel de medicamentos, disponível na rede pública de Saúde, e exames de sorologia para hepatites, HIV, sífilis. O monitoramento se estende por três meses, com avaliação laboratorial a cada 30 dias.
De acordo com Readir de Andrade, encarregado do Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho da CG Solurb, empresa que explora o serviço de manejo de resíduos sólidos e limpeza urbana na Capital, o funcionário da coleta não tem como fazer uma avaliação prévia das embalagens depositadas nas lixeiras.
O serviço em ritmo acelerado tem suas próprias especificidades. Na rotina diária, o funcionário da coleta já precisa se atentar ao deslocamento pelas ruas, como o fluxo do trânsito e onde está o caminhão.
Nas mãos, os trabalhadores usam luva nitrílica como EPI (Equipamento de Proteção Individual), compatíveis com atividades que exijam tato, aderência e destreza, contudo, elas não são resistentes aos perfurocortantes. O uso de luvas anticorte, como a de açougueiro, não é cogitado por comprometer a mobilidade das mãos.
Levantamento da concessionária no mês de junho de 2022 mostrou que o setor na região do Bairro São Francisco era o com mais acidentes provocado por lixo mal embalado. No ano de 2019, a estratificação dos dados apontou para o Bairro Aero Rancho, o mais populoso de Campo Grande.
A empresa fez campanha educativa em parceria com associação de moradores e escola. Segundo Readir, a medida surtiu efeito e houve queda dos casos no setor.
Agulhas, seringas de injeção usadas e outros materiais perfurantes devem ser colocados em garrafas PET tampadas ou em recipiente rígido que não se rompa com facilidade. Para o descarte correto, seringas e medicamentos vencidos devem ser levados ao posto de Saúde mais próximo de sua residência.
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Já lâminas de barbear, pregos, pedaços de ferro e arames devem ser embrulhados em jornal e descartados em recipientes com tampa resistentes à perfuração.
Outra orientação da CG Solurb é usar sempre sacos resistentes e reforçados para não arrebentar, além de identificar no coletor alerta como “Cuidado, vidro quebrado”.
O contrato da concessionária e a Prefeitura de Campo Grande teve início em 25 de outubro de 2012, com valor global de R$ 1.827.414.324,87 e duração de 25 anos.