Vizinhos dizem que mãe e filha vítimas de incêndio "viviam trancadas"
Solitárias e sempre muito reservadas, mãe e filha vítimas de um incêndio na tarde de sexta-feira (20), que consumiu a residência onde moravam, na região central de Campo Grande, e matou uma delas, tinham o hábito de ficarem sempre “trancadas”. O relato é de vizinhos ouvidos pelo Campo Grande News nesta segunda-feira (23).
No dia do incêndio, quem ajudou no socorro já havia informado que tiveram de arrombar o imóvel, em uma vila de casas na Rua XV de Novembro, para resgatar Ismaelita Gomes Batista, de 72 anos, e a filha, Jéssica Gomes Batista, 34, que não resistiu às queimaduras e morreu no hospital.
A idosa continua internada em estado grave na CTI (Centro de Terapia Intensiva) da Santa Casa de Campo Grande. Ainda muito assustada pelo ocorrido, uma aposentada e moradora da vila, que preferiu não se identificar, conta que era raro ver as duas fora do imóvel.
“Elas viviam trancadas aí dentro e raramente saíam ou falavam com algum vizinho. Talvez pelos problemas de saúde que elas tinham, mas o fato é que elas sempre foram muito reservadas”, comenta a moradora.
No dia do incêndio, os moradores informaram aos bombeiros que Jéssica sofreria de problemas mentais, enquanto a idosa tem mal de Parkinson, segundo testemunhas. As duas viviam sob atenção de uma cuidadora, Valmerina Pereira da Rosa, que não estava no local na hora do incêndio.
Ainda segundo a vizinha, a cuidadora já teria encerrado o expediente quando começou o incêndio. Há pelo menos cinco anos Valmerina trabalhava no cuidado das vítimas, segundo a testemunha. “O horário de serviço dela sempre foi das 9h até as 15h então ela já tinha ido embora quando isso aconteceu. Tanto que quando ela ficou sabendo voltou para cá desesperada”, lembra.
Ainda de acordo com a aposentada, mesmo quando eram deixadas sozinhas, tanto Jéssica quando a mãe tinham as chaves do próprio imóvel e do portão principal de acesso à vila.
“Ela tinha um carinho muito grande pelas duas”, conclui a senhora.
Salvamento – Quatro funcionários de uma loja de assistência técnica de celulares, ao lado da vila de casas, contam terem sido os responsáveis por arrombar a porta da casa e resgatar Jéssica. Funcionários de um estacionamento próximo também ajudaram a conter as chamas com uma mangueira, mas eles se queixam da omissão dos vizinhos.
“Fomos nós quem percebemos que a fumaça saía pelo teto do imóvel e fomos até lá, por que até então, ninguém tinha se manifestado a ajudar mesmo sabendo que a casa estava em chamas e com pessoas dentro”, conta a atendente Elisama Oliveira, de 29 anos.
De acordo com a testemunha, só depois de já terem conseguido arrombar a porta que outras pessoas se voluntariaram no salvamento. “Teve vizinho que ainda brigou vendo o nosso desespero em tentar entrar na casa. Se todos tivessem contribuído, desde o início, sem dúvida o incêndio teria sido em menor proporção e gravidade”, comenta.
A atendente ainda relata os momentos de angústia ao se depararem com Jéssica com praticamente todo o corpo queimado. “Ela ainda estava de pé, toda queimada e mal conseguindo falar. Imediatamente a tiramos para fora. Num primeiro momento ela disse que estava sozinha e só depois informou que a mãe ainda estava na residência”, conclui.
Incêndio – As chamas na residência da vila de casas começaram por volta das 16h. O local fica na Rua XV de Novembro, na altura do número 767, entre as ruas Pedro Celestino e Rui Barbosa, no Centro de Campo Grande.
O Corpo de Bombeiros foi acionado e ao chegar ao local, Jéssica já havia sido retirada do imóvel pelas testemunhas. Ismaelita, que também teve queimaduras, foi encontrada sobre uma cama, sofreu uma parada cardíaca, foi reanimada e encaminhada ao CTI da Santa Casa de Campo Grande.
A cuidadora das mulheres, Valmerina Pereira da Rosa, chegou ao local enquanto os bombeiros faziam o rescaldo do incêndio. Visivelmente abalada, não soube explicar o que teria acontecido, mas informou apenas que havia saído há cerca de meia hora do local.
Ela afirmou que Jéssica tinha um quadro grave de depressão e a idosa, mal de Parkinson.
Investigações – A Policia Civil ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso, que está no 1º DP (Departamento de Polícia), da região central. Até o fim da semana os investigadores esperam ouvir formalmente a cuidadora das mulheres, com o objetivo de ter mais elementos que possam indicar as causas do acidente.