Com fila de 142 e um só aparelho, MP investiga demora na radioterapia
Promotoria vai apurar medidas que são tomadas para reduzir o tempo de espera dos pacientes
Com fila de 142 pacientes e um único aparelho ativo pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Estado, mas em clínica particular, a radioterapia, uma das etapas da luta contra o câncer, é alvo de inquérito civil do MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).
A investigação, aberta pela 32ª Promotoria de Justiça de Saúde Pública, vai apurar as medidas que são tomadas para reduzir o tempo de espera dos pacientes.
Em 2013, o tema ganhou o noticiário pela Máfia do Câncer, quando a operação Sangue Frio, realizada pela PF (Polícia Federal), apontou o desmonte da rede pública para atender interesses privados.
À época, a promessa, com presença do então ministro da Saúde, foi ampliar os atendimentos, mas, a realidade é que ele diminuiu. Com a reforma no Hospital de Câncer Alfredo Abrão, toda a demanda da rede pública foi direcionada para a clinica Radius, que já recebia pacientes encaminhados pela Santa Casa. Radius é novo nome da NeoRad, que foi investigada em 2013 pela PF e trocou de dono.
Agora, em 2017, documentos enviados pele Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) ao Ministério Publico informam um fila que varia: com 176 pendentes em maio, 203 na sequência e 106 no mês de junho. Nesta terça-feira (dia 31), o total atualizado é de 142 solicitações para radioterapia, total que engloba pacientes de outros municípios. O pedido mais antigo datava de 7 de abril deste ano.
Conforme documentos da secretaria, são habilitados para o serviço de radioterapia a Santa Casa e o Hospital de Câncer Alfredo Abrão. Conforme a assessoria de imprensa da Sesau, a fila chegou a mais de 200, mas, por determinação da secretaria, foram realizados atendimentos em horário diferenciado e o total caiu para 142. A reportagem não conseguiu contato com a clínica.
Delicada – O Hospital de Câncer vai ficar sem radioterapia pelo menos até janeiro de 2018. O local passa por reforma desde esse mês para receber um novo equipamento de acelerador linear, usado no tratamento.
“Nesse período, a tendência é a demanda crescer um pouco. Antes, tínhamos duas radioterapias fazendo os procedimentos. Agora, tem um só e a clínica Radius abriu um turno a mais”, afirma o diretor-presidente Claudio Osório Machado.
O novo aparelho, vindo de Goiás, deve ser ativado na primeira quinzena de janeiro. Com a troca, o número de procedimentos por dia aumenta de 55 para 100. Contudo, até lá, a situação é crítica.
“É possível que nesse período a fila aumente um pouco. Mas é humanamente impossível dar conta da demanda”, diz o diretor. Segundo Claudio, a obra será feita a todo vapor e a expectativa é que o novo equipamento zere a fila no ano que vem. Como a situação de quem precisa se tratar, a obra é delicada. “Em que pese ter parede com mais de dois metros de largura, é uma obra delicada, com certa dificuldades estruturais”, diz o diretor.
A promotora Daniela Crisitina Guiotti deu prazo de dez dias para que os hospital informe sobre as obras.
Parada – O HU (Hospital Universitário) de Campo Grande está com a radioterapia parada desde 2013. A unidade, que fica no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e é administrada pela Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), informa não dispor de acelerador linear.
De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, o HU aguarda recursos do governo federal para compra do equipamento em 2018.
A radioterapia do HU foi desativada pela primeira vez em 2005 e tinha voltado a funcionar em abril de 2013, mês seguinte à Sangue Frio. No mês de junho, diante de irregularidades apontadas pela Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) o setor foi fechado. O hospital tinha aparelho de cobaltoterapia, tecnologia considerada ultrapassada.
Em 2012, chegou a ser lançada nas redes sociais a campanha “Aceita HU!” para que o hospital recebesse recursos e reativasse a oncologia, que estava terceirizada.
À espera - Selecionado em plano de ampliação do Ministério da Saúde, o HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian não conseguiu tirar a radioterapia do papel.
Conforme a assessoria de imprensa da SES (Secretaria Estadual de Saúde), nos últimos quatro anos, a construção do bunker, local com blindagem especial onde ficará o aparelho, teve adequações solicitadas pelo ministério e o novo formato foi encaminhado.