De volta aos trilhos, Trem do Pantanal comove e desafia
"Na vida tem dois caminhos: o de ida e o de volta"
trecho do filme Paralelos, sobre o Trem do Pantanal
A imponência da Serra de Maracaju, as formas do cerrado, o infinito número de dormentes abandonados às margens do caminho, a felicidade dos que saem de casa correndo para acenar um tchau. Imagens que podem ser avistadas da janela panorâmica do Trem do Pantanal.
Depois de mais de uma década distante dos trilhos, o som do apito, na estação de Indubrasil, soou às 7h45 de sábado, pondo em marcha a primeira viagem com destino a Miranda.
O ritmo dos sete vagões, sendo cinco para passageiros, é ditado pela locomotiva a diesel, sob o comando do maquinista Claudemir Sabbo. A velocidade média de 27 km/h, imposta pelo estado de conservação da malha ferroviária, evidencia que esta e viagem para quem não tem pressa.
Dentre os vagões de passageiros, dois se tornam atrações: o vagão bar (destinado às apresentações culturais) e o camarote. O primeiro, que reproduz tuiuiús, ipês floridos e o céu azul do Pantanal, será acessível para passageiros que pagarem a partir de R$ 39, valor mínimo para embarcar no trem.
Já o segundo só será conhecido pelos que desembolsarem R$ 126. No vagão camarote, as cabines de madeira, as luminária e fotos antigas do trem, ainda em preto e branco, garantem o clima de nostalgia.
Nas classes turística e econômica , há ar condicionado e poltronas em courino. O vagão turístico ainda inclui lanche, guia e apresentação cultural. Serviços ausentes na classe econômica. A classe executiva tem bancos em couro, guia bilíngüe e janelas amplas, que proporcionam melhor visão ao viajante.
No percurso até Aquidauana, o trem vai parar apenas em Piraputanga. Contudo, o breve tempo de dez minutos para embarque e desembarque promete frustrar os comerciantes locais. No caminho até a cidade "Portal do Pantanal" ainda há o distrito de Palmeiras, mas o cronograma de paradas do trem deixa os moradores do pequeno povoado na saudade.
No trajeto, apenas araras e bois se mostram ao olhar do viajante, que finda a viagem sem ver moradores ilustres do ecossistema, como o tuiuiú. Cabe frisar que o trajeto mais próximo da maior planície alagada do planeta foi feito no fim da tarde, quando a penumbra dificulta visualizar a paisagem.
O passeio se torna quente quando o sol do meio dia leva os seis ares condicionados à exaustão. Prestativos e diligentes, os guias ainda não dominam os pontos de passagem do trem, como o equívoco de confundir a estação de Piraputanga com a de Camisão.
Comovente - Pelo caminho, a população expressa alegria, carinho e esperança com a volta do velho trem. Adultos, crianças, idosos: todos se apressam para olhar, acenar, fotografar e aplaudir. Na estação de Aquidauana, inaugurada em 1911, a banda de musica recepciona os passageiros com o clássico composto por Paulinho Simões e Geraldo Roca: "Trem do Pantanal".
Lá, gente como Moisés Alencar, motorista de van de turismo, comemora. "O turismo é muito importante para a cidade, que não tem industrias, grandes empresas", afirma. "Estou muito feliz", resume o aposentado, Gerson de Alencar, que viajou no tempo da Maria Fumaça.
"A cidade é o que é por causa do trem. Quando o trem deixou de funcionar, uma parte da alma de Aquidauana também se fragmentou", enfatiza o prefeito Fauzi Suleiman.