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Cidades

Em Juti, índios esperam justiça por Veron e demarcação

Redação | 19/04/2010 12:29

Os moradores da aldeia Takuara, no município de Juti, esperavam este Dia do Índio de 2010 tivesse o sabor de Justiça, com o julgamento dos homens acusados de matar, há 7 anos, o cacique da aldeia, Marco Veron, então com 72 anos, durante uma emboscada. A expectativa, porém, foi frustrada pelo adiamento do júri dos acusados, marcado para o dia 12 de abril, em São Paulo, e transferido para 3 de maio, após o advogado que comanda a defesa ter apresentado um atestado médico.

Enquanto não há o juri dos acusados, todos seguranças da fazenda Brasília do Sul, reivindicada como terra indígena, a memória de Veron e do dia em que foi assassinado continua presente. A revista Tekoha, que o Ministério Público Federal editou em alusão ao Dia do Índio, traz um testemunho de um dos filhos de Veron, sobre o dia 13 de janeiro de 2003, quando a comunidade Takuara deixou de representar apenas mais uma área em litígio para se transformar em uma espécie de símbolo da violência na disputa de terras entre índios e fazendeiros de Mato Grosso do Sul.

Ladio Veron Cavalheiro, que na época tinha 37 anos, conta como ocorreu o episódio, do qual foi testemunha e vítima:

"Eles chegaram às 3 horas da madrugada de terça-feira, já atirando. Todo mundo correu para o meio do mato, a beira do rio, menos um filho meu de 11 anos, eu, meu pai e minha irmã, que estava grávida de seis meses. Tiraram a gente do barraco, puseram eu e meu pai de joelhos e começaram a espancar nós dois, com chutes,coronhadas de espingarda e revólver. Aí me amarraram e queriam botar fogo em mim com gasolina. Fizeram um fogo e eu fiquei do lado, ardendo, tanto que depois no hospital o doutor disse que eu tava com queimadura de 2º e 3º graus. Meu pai continuou amarrado, e eles batendo o tempo todo com chutes e coronhadas. Aí chegaram outros com mais duas mulheres e duas crianças e começaram a espancar todo mundo. Nas crianças eles batiam de cinto. Aí puseram a gente numa camionete e levaram pra beira de uma estrada. Bateram tanto na gente que eu desmaiei (...). Meu pai tava do lado, todo machucado, cheio de sangue. Consegui pegar uma carona até uma parte da estrada. Aí levei meu pai num carro da aldeia até o hospital de Dourados mas ele já chegou praticamente morto. Só depois, na Polícia Federal, foi que avisaram que meu pai tinha morrido. Aconteceu essa tragédia com minha família, não só nos entristece mas a outras lideranças também, meu pai foi uma grande liderança, reconhecido aqui e no exterior".

Além de cultivar a memória do cacique, a comunidade que ele liderava também tem outra esperança. Até hoje, aguarda a homologação da Fazenda Brasília do Sul como terra indígena. Já houve o levantamento antropológico, que indica que a terra teve ocupação indígena em suas origens, mas ainda falta o decreto de homologação, ou seja, o reconhecimento como área pertecente aos índios pelo Ministério da Justiça, e o processo mais demorado, que é a demarcação.

Veja aqui a revista Tekoha, que contém o depoimento de Ladio Veron e um panorama da situação dos índios em MS.

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