Em meio ao caos, Corumbá e Costa Rica são oásis na gestão pública
No fim de ano em que a crise financeira sumiu com os eventos natalinos em 70% dos municípios e a estimativa é de que apenas 35% dos prefeitos paguem o salário de dezembro em dia, Costa Rica e Corumbá apostaram em modelo empresarial e controle diário de receita para fechar 2016 com as contas no azul.
Em Costa Rica, que foi notícia por pagar até 16º salário aos professores, o prefeito Waldeli dos Santos Rosa (PR) vai partir para o novo mandato com R$ 10 milhões em caixa. “Levamos um sistema empresarial para dentro da prefeitura. Levar o comprometimento dos funcionários”, afirma o prefeito.
Oriundo da iniciativa privada, ele esteve à frente do Grupo Paraná, com atuação em supermercado, indústria, pecuária, e com 400 funcionários. “Vim do Paraná em 1983 e dei certo na vida empresarial. Após os 40 anos, com a vida ajustada financeiramente, fui servir a comunidade”, rememora Waldeli, que foi o quarto candidato mais rico nas Eleições 2016, com patrimônio declarado de R$ 15.342.181,55.
Na prefeitura, ele dispõe de R$ 90 milhões por ano para administrar um município com 19.835 habitantes e a 305 km de Campo Grande. Enquanto a maioria das prefeituras compromete até 50% dos recursos para pagamento da folha, em Costa Rica o índice é de 31,40%. “De 50% para 31%, são 18%. Todo esse dinheiro vira investimento”, afirma Waldeli.
Em 2013, quando se tornou prefeito da cidade pela terceira vez, ele encontrou a prefeitura com 1.020 servidores, quadro que enxugou para 920 funcionários. “Quando voltei, encontrei a situação desarrumada. Com excesso de novo, dívida, excesso de funcionários. E enxuguei a máquina [administrativa]”, relata.
Segundo Waldeli, a situação financeira do município já levou mais de 10 prefeitos a visitarem Costa Rica. Contudo, a maioria resiste a adotar o modelo em que 80% do secretariado é de funcionários de carreira, com controle que vai do combustível à peça de cada veículo da administração, e sem feriado prolongado.
“Um sistema de gestão que ninguém copia é as férias coletivas entre 20 de dezembro e 20 de janeiro para 80% dos funcionários. Nesse período, trabalho com 20% em sistema de plantão”, diz. Para 2017, os planos da administração é incentivar a coleta seletiva do lixo e investir em arborização. A cidade tem cooperativa de reciclagem e aterro sanitário.
“Tem que ter comprometimento, saber onde e como gastar, ter um programa de controladoria interna, evitar o desvio de conduta. Nesse modelo, o prefeito tem que ser exemplo no horário, no uso de carro público, em tudo”, afirma Waldeli, que foi reeleito com 76,57% dos votos.
De olho nos números – Na região do Pantanal, o município de Corumbá chega ao fim de 2016 com pagamento de R$ 30 milhões ao funcionalismo público. A soma inclui o mês de novembro, o 13º salário e a antecipação salarial de dezembro.
“A próxima administração vai começar sem fornecedor batendo na porta. O salário de dezembro foi pago hoje. Os serviços estão funcionando, fiz repasse para o hospital e estou pagando hoje a despesa da limpeza urbana, que vence amanhã”, afirma o prefeito Paulo Duarte (PDT), que não foi reeleito.
Formado em Economia e pós-graduado em Gestão Pública, Duarte conta que faz o acompanhamento diário das finanças. “Faço o acompanhamento diário do orçamento. Vejo o saldo bancário das nossas contas todos os dias. Fazer planejamento não é fácil”, enfatiza.
Para o pagamento do 13º salário, a administração fez provisão financeira mês a mês durante 2016. Outro ponto destacado pelo prefeito foi a formação um primeiro escalão em que 80% dos integrantes são funcionários de carreira.
“Priorizamos o que era importante para a cidade. Não fizemos grandes shows, não pagamos meio milhão para artista famoso. As festas tiveram foco na tradição. Para mim, é desperdício de dinheiro show com gente famosa. Corumbá se preparou para a crise”, diz o prefeito.
Em 2016, a cidade foi administrada com recurso de R$ 477 milhões, receita que teve redução de R$ 30 milhões em comparação a 2015.
Positivo – O fim de 2016 também segue com salários em dia em Nova Andradina, com 45.585 habitantes e localizada a 300 km de Campo Grande.
“Vamos entregar com todos os fornecedores pagos, com as medições das obras em dia. Vou passar o caixa positivo para próxima administração”, afirma o prefeito Roberto Hashioka (PSDB), que finaliza o terceiro mandato e não foi reeleito.
Equilíbrio - Para manter o equilíbrio econômico, o governador Reinado Azambuja (PSDB) vai enxugar a máquina administrativa para gastar menos com o custeio e mais com as pessoas.
“Queremos diminuir a estrutura do Estado naquilo que é possível e não perder qualidade na prestação dos serviços. Não sabemos dizer quais estruturas, mas, terá enxugamento de algumas despesas administrativas para poder suportar o baixo crescimento e a retração da economia. É necessário para dar equilíbrio financeiro, para não ter que onerar a população com mais tributos”, afirmou o governador nesta semana em entrevista ao Campo Grande News.