Acostumados com cheias, ribeirinhos sabem quando abandonar as casas
Ribeirinhos de Aquidauana, distante 135 km de Campo Grande, estão acostumados com as enchentes e sabem o momento certo de deixarem as casas: quando a água do rio atinge a calçada.
A rotina para eles é sempre a mesma e um vizinho ajuda o outro na hora de levantar os móveis ou de mandar algum eletrodoméstico para casa de parentes. Depois de serviço feito, os ribeirinhos vão para o abrigo preparado pela prefeitura.
Este é o caso da Nélia Paula Gomes, 80 anos. A idosa está na Escola Municipal Rotary Clube, junto com a irmã, a filha e dois netos. Ela conta que nasceu em Aquidauana e já presenciou várias enchentes na cidade. "Desta vez eu sai de casa na quarta-feira (13) quando a água chegou na calçada", alega.
Nélia mora na rua 16 de julho, próximo a Ilha do Pescador e como já imaginava que este ano teria enchente, mandou alguns móveis para casas de parentes e ergueu o que conseguiu. "Meus vizinhos sempre me ajudam e todos ficam em alerta", comenta.
A idosa fala sobre os perigos que a cheia do rio leva para a casa. A filha de Nélia esteve ontem (14) na residência que continua alagada e encontrou uma cobra. "Quando voltarmos temos que limpar cada cantinho, porque os animais ficam escondidos", alerta.
A doméstica Sebastiana Aparecida Benitez, foi a primeira ribeirinha a ir para o abrigo. Ela mora na região do Pirizal e mora sozinha. Apesar de perder muitas coisas, com bom humor ela relembra como tudo aconteceu. "Não achei que teria uma enchente e a água começou a subir muito rápido. Meus vizinhos tentaram me ajudar a erguer os móveis, mas não deu tempo", lembra.
Sebastiana perdeu fogão, armários, colchão, praticamente todas as roupas, rack, utensílios domésticos e guarda roupa. "Tenho fé que vou recuperar tudo, bens materiais a gente luta para comprar novamente e eu sei que Deus é maior na minha vida e na de todos que estão aqui", enfatiza.
A casa do senhor Áureo Quadros, 50 anos, está localizada há dois quilômetros do rio Aquidauana e fica atrás do córrego João Dias, na vila Trindade. O senhor conta que comprou a chácara há três anos e por medo de enchente, construiu um quarto num ponto alto. "Fiz isso para refúgio provisório mas não adiantou, pois o rio subiu 6 metros", conta.
Quando chove muito, o córrego não consegue dar vazão e não desemboca no rio, acumulando na região que inclui a casa de Quadros. "Agora quero construir uma casa mais alta ainda, para não ser mais prejudicado e não ficar com medo", diz.