Carne contrabandeada que entrou por MS provoca crise no Paraguai
Escândalo envolve suspeita de participação de autoridades sanitárias paraguaias no esquema; carne entrou por Ponta Porã
Um frigorífico de Concepción, cidade paraguaia localizada a 220 km da fronteira com o Brasil, provocou uma crise na produção e comercialização de carne bovina no país vizinho. Com a conivência de autoridades sanitárias do Paraguai, o Frigorífico Concepción, um dos três maiores daquele país com 2.400 funcionários, importou carne ilegalmente para turbinar seus estoques e virou alvo de uma investigação nacional.
Segundo o governo paraguaio, a carne importada ilegalmente saiu de Mato Grosso do Sul e entrou por Pedro Juan Caballero, cidade vizinha de Ponta Porã (MS). Funcionários da Aduana paraguaia em Pedro Juan são suspeitos de facilitar a passagem da carne sem autorização legal.
Pelo menos quatro milhões de quilos de carne contrabandeada do Brasil para o Paraguai cruzaram a fronteira com destino ao Frigorífico Concepción, afirmam autoridades paraguaias. A indústria pertence ao brasileiro Jair Antonio de Lima. Só a última remessa ilegal foi de 180 toneladas, segundo o governo do país vizinho.
O escândalo foi descoberto no início deste mês, quando uma carga de carne cruzou a fronteira e foi apreendida do lado paraguaio. O governo do Paraguai informou que o frigorífico estava contrabandeando carne, já que importava quantidade acima do permitido pelas licenças sanitárias.
Importação proibida – Como medida imediata, o governo paraguaio suspendeu as atividades do Frigorífico Concepción, mas hoje (17) a indústria recebeu autorização para retomar atividades parciais, como reiniciar a remessa de carne para mercados estrangeiros, com exceção do Chile, Rússia, União Europeia, Taiwan e Israel. Entretanto, continua proibido de fazer importações.
Hugo Idoyaga, ministro de Indústria e Comércio do Paraguai, e também titular da Senacsa (Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Animal), disse que a intenção do governo é que a indústria continue em atividade, até para preservar o emprego dos funcionários e de pelo menos 10 mil pessoas que dependem indiretamente do frigorífico.
Segundo o ministro, há indícios de que certificados emitidos pela Senacsa foram adulterados para permitir a entrada ilegal da carne brasileira no Paraguai.
Neste ano, o frigorífico importou 7.362 toneladas de carne brasileira, mas a Senacsa tem o registro de apenas 3.600 toneladas. Inicialmente a empresa terá de recolher o imposto pela diferença e pagar uma multa de 100% do valor. Se o contrabando ficar comprovado, o frigorífico terá de pagar multa de até 15 milhões de dólares, valor sem precedentes no Paraguai.
Devido às fragilidades e deficiências na alfândega de Pedro Juan Caballero, o administrador alfandegário da cidade, Rafael Salum Nayar, e o chefe dos registros, Enrique Céspedes López, foram destituídos dos cargos.
Nesta quinta-feira, a Câmara Paraguaia de Carnes anunciou que vai suspender o Frigorífico Concepción. Também hoje, o juiz penal de garantias Humberto Otazú aceitou denúncia contra Jair Antonio de Lima por contrabando.
Também foram denunciados Ednor Mauricio Fernandes Delmondes, Gerson Andrés Wasen, Lindiomar Lima de Souza, Jader Pires de Andrade Felipe, César Augusto dos Santos Toledo, todos brasileiros, e os paraguaios Armando Ramón Gauto González e Carlos Ramón Mendoza, todos motoristas que trabalham para o frigorífico.
“Campanha infame” – Em comunicado divulgado após o escândalo, o Frigorífico Concepción afirma ser vítima de uma “campanha infame” por parte da Associação Rural do Paraguai, de associações do setor e de concorrentes.
“Essa campanha infame procura manchar a trajetória brilhante de uma empresa líder na abertura de mercados internacionais, que através do trabalho, respeito e esforço foi colocada em lugar de destaque no circuito econômico nacional e mundial como o maior exportador de carne do Paraguai e o terceiro maior exportador do país”, afirma a indústria.