Conselho de Saúde denuncia mortes de bebês em maternidade do HU
Presidente do conselho acusa HU de negar atendimento a gestantes e promete colocar em discussão a devolução do hospital para o município; HU nega falta de atendimento
Denúncias de falta de atendimento adequado a gestantes no HU (Hospital Universitário) de Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande, chegam nesta semana ao Ministério Público e podem até mesmo iniciar discussão sobre possível descredenciamento da unidade como referência em partos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
A presidente do Conselho Municipal de Saúde, Berenice Machado, disse que a maternidade do HU está sendo alvo de denúncias constantes de violência obstétrica. “As mães chegam com dores, mas eles mandam a gestante para casa e o bebê acaba indo a óbito. Na semana que passou, dois casos chegaram a nosso conhecimento”, afirmou Berenice ao Campo Grande News.
Devolução ao município – Berenice informou que na reunião ordinária do conselho nesta quarta-feira vai propor a definição de uma data para uma assembleia extraordinária, para deliberar sobre a devolução do hospital para o município de Dourados, que antes de ser repassado à UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), em 2008, era gerenciado pela prefeitura.
“Há tempo o conselho vem fazendo denúncias ao Ministério Público e à OAB, conversando com a direção, mas agora vamos ter que pedir outras providências, como retomada da maternidade ou do hospital. Chega de mortes!”, afirmou Berenice.
Não cumpre contrato – A presidente do Conselho de Saúde acusa o HU de não cumprir o contrato para atendimento de pacientes do SUS e diz que a situação se agravou com a nova direção. Após a posse da reitora Liana Calarge na UFGD, o hospital passou a ser dirigido pela médica Mariana Croda.
“Não querem nem que o conselho entre no hospital. Ontem [sábado] foi difícil entrar lá, conseguimos depois de ameaçar chamar a Guarda Municipal. Negam nega vaga o tempo todo, brincam com a vida das pessoas. Eles se escondem atrás da porta fechada e recebem quem eles querem”, denuncia Berenice. No HU, apenas a maternidade é de “porta aberta” e os demais pacientes só são atendidos através de encaminhamento.
Ela aponta erro do ex-prefeito Laerte Tetila (PT), de entregar o Hospital Universitário para a UFGD. “O ex-prefeito Tetila foi muito infeliz nessa decisão, porque foi uma decepção e o município hoje paga muito caro por isso. Vamos lutar para o hospital voltar para o município, já que não cumpre a finalidade. Querem só o ensino e não estão nem aí com a assistência. Ate onde se sabe, a decisão do prefeito da época não passou pelo conselho”.
HU nega falta de atendimento – Em nota distribuída nesta segunda-feira pela assessoria, o Hospital Universitário da HUFD informa ser referência para partos de baixo e alto risco pelo SUS na região de Dourados, “apesar de a proposta e a missão do hospital serem os atendimentos de média e alta complexidade”.
Segundo a nota, o único serviço de porta aberta no HU-UFGD é a obstetrícia, “não havendo possibilidade de recusa de atendimentos, uma vez que não há para onde referenciar as pacientes”.
Sobre as denúncias do final de semana, envolvendo inclusive morte de feto, o HU-UFGD esclarece que os fatos estão “sob análise”, mas garante que todas as pacientes foram examinadas, inclusive com avaliação de caridiotocógrafo (que verifica os batimentos cardíacos do feto) e orientadas para retorno, “pois não estavam em trabalho de parto”.
Ainda conforme o HU, para avaliação conclusiva das possíveis causas de óbito fetal, seria necessário um serviço de verificação de óbito, que não existe no município de Dourados.
“O HU-UFGD está sempre à disposição, tanto para o Conselho Municipal de Saúde, quanto para qualquer órgão do município relacionado à saúde, de modo que a direção do hospital acredita ter havido equívoco e falha de comunicação entre as partes na abordagem dos fatos em questão. O HU-UFGD está verificando todas as denúncias e se esforçando para, cada vez mais, primar pela excelência no atendimento às gestantes”, diz a nota do hospital.