De flores a jacarés: pacientes ganham novo olhar em caravana
O colorido do jardim cuidado com esmero voltou a fazer sentido para os olhos de Quitéria Rosa de Melo, 67 anos. Há anos se tratando apenas com colírio, ela aproveitou a Caravana da Saúde, realizada em Aquidauana pelo governo do Estado, para fazer cirurgia oftalmológica e se livrar da catarata que embaçava a visão.
“Só metia colírio. Mas agora melhorou bem. Não conseguia enfiar a linha na agulha. Foi Deus que mandou para nós”, diz Quitéria, que operou um olho na quinta-feira e o outro neste sábado, Dia D do mutirão de atendimentos.
Com a visão renovada, ela conta que vai se dedicar aos afazeres domésticos. Na casa, numa rua de terra do bairro São Pedro, onde uma tabuleta anuncia “lar doce lar”, a senhora pretender manter o quintal limpo, o jardim florido e as louças em ordem.
A melhoria na visão também chegou para Eurides Macema de Barros, 52 anos, a Maria do Jacaré. Personagem conhecida por alimentar os bichos que ficam perto do seu bar, em Miranda, ela fez cirurgia neste sábado. “Isso aqui é muito bom. Estava com muita dificuldade para enxergar. Quantas pessoas correm o risco de ficar cega”, afirma.
Apelidada de Maria, nome de sua avó, ela só nomeia os jacarés de estimação em homenagem à seleção brasileira de futebol. “Tem Tafarel, Ronaldinho, Felipão”, diz. Animada, conta que em outubro pretende fazer uma festa em homenagem à natureza e que vai pedir apoio ao governo estadual para que o local receba infraestrutura condizente com ponto turístico.
Já Alice de Arruda, 68 anos, vai trocar os óculos que ganhou da patroa por um com grau adequado. Ela conta que nunca tinha feito exame das vistas e que os óculos, ainda que de outra pessoa, ajudou a enxergar melhor.
Com uma grande estrutura montada na avenida Pantaneta, que tem o nome do Carnaval fora de época realizado na cidade, a caravana levou atendimento oftalmológico, por meio de carretas equipadas, consultas de especialidades médicas, cirurgias hospitalares e rede de atendimento com entidades parceiras.
Dentre os participantes, muitos não sabem ler, contam a data de nascimento por não saber calcular a idade e têm rotina de enfrentar dificuldades na condição de pacientes da rede pública. Em Aquidauana, com 46 mil habitantes e a 135 km de Campo Grande, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) é um prédio fechado.
Na sexta-feira, um mutirão saiu às ruas para combater criadouros de larvas do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. As doenças também foram tema de uma campanha de conscientização dos farmacêuticos, que realizam neste sábado uma iniciativa nacional.
De acordo com Márcia Saldanha, os profissionais participam pela terceira vez da caravana com orientações sobre os medicamentos que fazem parte da farmácia básica de cada município, e, portanto, podem ser indicados para os pacientes. Também é feito teste de glicemia.
Milhões - No segmento das especialidades, foram oferecidas consultas nas áreas de dermatologia, ortopedia, urologia, cardiologia, otorrinolaringologia, angiologia e psiquiatria. Ex-prefeito de Campo Grande, o médico urologista Nelsinho Trad fez palestra e consultas.
No hospital, a expectativa é encerrar a programação com 500 cirurgias realizadas. Nas carretas, a estimativa é de 2.200 cirurgias e de 5.500 consultas oftalmológicas. De acordo com o secretário estadual de Saúde, Nelson Tavares, a caravana, cuja primeira edição foi em 29 de março de 2015, na cidade de Coxim, teve investimento de R$ 38 milhões.
“A coisa que mais me impressionou foi que nós avaliamos completamente errado qual seria o papel da caravana. Achamos que ia ser uma coisa simples e ela se tornou um negócio gigantesco por causa das parcerias. Hoje temos mais de 600 voluntários trabalhando aqui. Todo mundo vem de graça”, salienta.
Para as próximas paradas, respectivamente Dourados e Campo Grande, serão necessários mais R$ 15 milhões.
Conforme o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), somente na Capital devem ser realizadas 15 mil cirurgias. “O objetivo é zeras a fila e deixar infraestrutura para um pólo regional. A Caravana passa, mas fica em Aquidauana uma tomografia digital, mamógrafo e aparelho de raio-x”, afirma.
Amor - O ônibus da Justiça Itinerante realizou 24 casamentos na tarde de sexta-feira e, no sábado, atraiu mais interesse. De branco, Vanessa Ferreira dos Santos, 26 anos, procurou o serviço para formalizar a união com Claudemir Luciano da Silva, 28 anos.
Acho que une mais o casal”, diz a jovem, sobre o motivo de querer levar o romance para o papel. Ela conta que eles namoraram há 10 anos e, depois de uma década distantes, se reencontraram. De acordo com o juiz Cezar Miozzo, o casamento é sempre o serviço mais procurado. A estatística de ontem, primeiro dia de atendimento, foi de 24 uniões e dois divórcios.
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