Debaixo de chuva, voluntários levam alimentos a comunidades indígenas
Entrega de 10 toneladas de alimentos doados por Ong do Rio de Janeiro começou nesta terça-feira (25)
A entrega das 10 toneladas de alimentos – cestas básicas – doados pela Ong carioca “Ação da Cidadania” começou em pleno Carnaval na manhã desta terça-feira (25) em Dourados, a 233 km de Campo Grande. Debaixo de chuva voluntários de 22 instituições começaram a entrega que vai ajudar 10 comunidades indígenas que passam fome.
Cenário antigo em Mato Grosso do Sul, a fome entre comunidades indígenas, especialmente as povoadas pela etnia Guarani Kaiowá, atingiu novo capítulo em janeiro. A Funai (Fundação Nacional do Índio), que entregava os alimentos mensalmente em parceria com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), emitiu ordem, ofício de Brasília, proibindo a entrega.
Alegou que não era obrigação da Fundação atender comunidades em áreas de litígio. A ong do Rio de Janeiro – que tem como lema o slogan “que tem fome, tem pressa” – deixou a disputa de terras de lado e uniu voluntários para entregar os alimentos em áreas ocupadas, com acampamentos, reivindicadas como terras tradicionais indígenas, mas não demarcadas.
Nesta terça as 295 cestas chegam para comunidades em Dourados que foram palcos recentes para conflitos sangrentos, a exemplo de Nhu Verá, ocupação adjacente à Terra Indígena de Dourados, hoje monitorada pela Força Nacional.
No sábado (29), é a vez de comunidades de Antônio João e Coronel Sapucaia, que recebem as cestas que contém alimentos não perecíveis como arroz, feijão, macarrão, óleo e açúcar.
Crítica - Diretor executivo da Ação da Cidadania, Rodrigo Kiko Afonso contou que a ong, presente em 20 Estados do Brasil com ações humanitárias, chega pela primeira vez a Mato Grosso do Sul.
Em entrevista ao Campo Grande News no dia 20, ele contou que as notícias da fome entre os índios que ganharam as manchetes de jornais como o britânico BCC, após a suspensão do fornecimento de cestas básicas, chamou a atenção da organização.
“A gente sempre lutou pela questão da segurança alimentar, quem tem fome tem pressa. A ação criou maior mobilização social no Brasil no combate à fome, foi indutora de uma série de avanços”, diz. “A gente [Brasil] tem piorado drasticamente, agora a gente está com 13,5 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da miséria”.
Kiko chamou a decisão da Funai de “falha grave”, por “abandonar [indígenas] ao léu por dois meses sem receber esses alimentos”. “É abominável”, disse.
“A nossa atuação primeira é dizer que não dá para discutir política pública e ideologia e deixar gente morrer de fome enquanto se discute. Então assim, nosso lema sempre foi esse, independente da importância da discussão política dos direitos dos índios, a gente atua sempre com a questão de quem tem fome”, comentou.
Participam da ação:
UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Juristas pela Democracia, DPU (Defensoria Pública da União), CDCDH (Centro de Defesa da Cidadania e dos Direitos Humanos) Marçal de Souza, CUT/MS (Central Única dos Trabalhadores), MST (Movimento Sem Terra), CEDHU/MS (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Renap/MS (Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares), Cebi/MS (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos), MPF (Ministério Público Federal), Coletivo Terra Vermelha, UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), AGB/Dourados (Associação de Geógrafos Brasileiros), Apoms (Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul), FPSAN (Frente Parlamentar Estadual em Defesa da Segurança Alimentar e Nutricional da Assembleia Legislativa), Comissão Regional de Justiça e Paz, Najup (Núcleo de Defesa e Assessoria Popular), CPT (Comissão Pastoral da Terra), Fetems (Federação dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul), Central de Comercialização Solidária de Mato Grosso do Sul e Simted/Dourados (Sindicato Municiapal de Trabalhadores em Educação).