Liderança rebate crimes e diz que retirada pela PM foi “inescrupulosa”
"São argumentos furados para tentar legitimar a ação inescrupulosa desses policiais e autoridades" , diz Lindomar Terena
Duzentos policiais e nenhum papel de ordem judicial. Com essa descrição sobre a ação da PM (Polícia Militar) na fazenda ocupada por índios da etnia Kinikinau, em Aquidauana, a liderança Lindomar Terena rebate a prática de ameaça, furto qualificado, danos e crimes ambientais, citados pela Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) em nota de esclarecimento sobre a atuação dos policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) com apoio do Batalhão de Choque.
“Isso não existe. São argumentos furados para tentar legitimar a ação inescrupulosa desses policiais e autoridades”, afirma. O grupo ocupou a fazenda Água Branca, na manhã de ontem (dia primeiro). Nesta ação, que os indígenas chamam de retomada, deram ordem de saída para os funcionários.
Segundo Lindomar, a fazenda é de criação de gado e sem atividade de trabalho social. Numa linha do tempo, ele conta que uma equipe da PF (Polícia Federal) foi ao local depois do almoço. Após diálogo, a informação foi de que a equipe faria um relatório sobre a situação.
“Eles ficaram uns cinco quilômetros longes e nesse meio tempo chegaram dois helicópteros, vários carros e o prefeito junto”, diz Lindomar. O prefeito citado é o de Aquidauana, Odilon Ribeiro (PSDB). A reportagem não conseguiu contato com ele, a quem também é atribuída gravação explicando que a ordem seria de Brasília.
De acordo com Lindomar, um servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) foi em busca da equipe da PF para tentar diálogo com o comandante da ação da PM, mas ouviu que nada poderia ser feito. A ação teve dois helicópteros, viaturas e dois ônibus para transporte dos policiais. Foram usadas bombas de gás lacrimogênio. Os índios recuaram e dois ficaram feridos. A estimativa é de que 200 pessoas estavam na fazenda.
Conforme a liderança terena, desocupação sem ordem judicial já havia acontecido uma vez, no Sul do Estado. Hoje à tarde, os indígenas se reúnem com advogado e representantes do MPF (Ministério Público Federal), Defensoria Pública da União e de comissão de direitos humanos.
A terra – Os kinikinauas reivindicam área de quatro mil hectares, mas a fazenda não tem um grupo oficial para estudo de terra indígena. “A área tem um relatório antropológico feito, mas não é oficial. O estudo preliminar foi apresentado e a Funai de Brasília aceitou como elemento para criar um grupo de trabalho”. A etnia Kinikinau ocupa área ao lado da aldeia terena, já regularizada como terra indígena Taunay-Ipegue.
Segundo a Sejusp, a ação aconteceu pacificamente e o foco foi no “sentido de combater delitos de competência da segurança pública e evitar confronto entre produtores e índios”. A polícia permanece na região.
O coordenador da Funai em Campo Grande, Henrique Dias, afirma que enviou dois servidores para Aquidauana e aguarda informações.