Na fronteira do medo, o jeito é seguir em frente: “Foco no estudo”, diz aluno
Estimativa é de que 15 mil alunos estudem Medicina em Pedro Juan Caballero
Polo de milhares de estudantes de Medicina, a cidade de Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, segue sob impacto da chacina que matou três universitárias, mas para quem estuda, o jeito é seguir em frente. “Foco nos estudos, não fico me envolvendo. Me sinto seguro”, afirma universitário de 33 anos, que pediu para não ser identificado.
Há cinco anos, ele trocou o interior de São Paulo pela fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Para o universitário, a questão é de segurança pública e não pensa em adotar medidas individuais para tentar se proteger, como, por exemplo, evitar determinados locais.
“Com certeza, as pessoas ficam preocupadas com a segurança. Eu não saio muito, trabalho bastante. A segurança é uma questão pública e, na verdade, não vejo que faltam policiais”.
Outra estudante ouvida pelo Campo Grande News avalia que não é impossível traçar um mapa dos perigos. “Porque, via de regra, estamos expostos sempre em qualquer lugar”, diz a universitária de 28 anos, que também não terá o nome divulgado.
Ela conta que é de São Paulo e nunca sofreu pressão familiar para deixar os estudos na fronteira. “Em que pese a fronteira ser perigosa, em alguns aspectos, me sinto mais segura do que lá”.
Cursando o último ano de Medicina no Paraguai, universitária de 41 anos conta que nunca teve problemas ao circular pelos dois países. “Entro no Paraguai à noite, de dia, em todo e qualquer horário. No Brasil, a mesma coisa. Nunca tive nenhum desconforto, graças a Deus”.
Numa rotina de muito estudo e trabalho, ela conta que adota algumas medidas de precaução, como nunca permitir que os filhos crianças durmam na casa de coleguinhas.
“A fronteira é um lugar que todo mundo conhece todo mundo, mas ninguém conhece ninguém. Mas é o lugar que escolhi para viver e criar meus filhos”, diz a estudante, que também pediu para não ter o nome divulgado.
Em janeiro de 2020, quando reportagem do Campo Grande News foi à fronteira, a estimativa era de que 15 mil alunos estudassem Medicina em oito instituições de ensino de Pedro Juan Caballero. Os valores iniciais de ingresso variam de R$ 900 a R$ 1.800. Em Mato Grosso do Sul, a mensalidade num curso de Medicina supera R$ 10 mil.
Violência - Na madrugada de sábado (dia 9), três atiradores chegaram com armas em punho e fuzilaram quatro pessoas na saída de uma festa, em Pedro Juan Caballero.
Foram mortos a douradense Kaline Reinoso de Oliveira, 22 anos; Haylee Carolina Acevedo Yunis, 21 anos, filha do governador de Amambay Ronald Acevedo; a mato-grossense Rhamye Jamilly Borges de Oliveira, 18 anos; e Osmar Vicente Álvarez Grance, o “Bebeto”, que seria o alvo dos pistoleiros. As três jovens eram estudantes de Medicina. Seis brasileiros foram presos.
Horas antes, no começo da noite de sexta-feira (dia 8), o vereador Farid Afif, 37 anos, foi executado em Ponta Porã.