Secretária de Finanças armou o próprio sequestro para dar golpe do seguro

Marly Norimi Miyaki, de 53 anos, secretária de Planejamento e Finanças de Porto Murtinho, cidade distante cerca de 439 km de Campo Grande, foi indiciada pela Polícia Civil e denunciada pelo Ministério Público por estelionato. Isso porque, forjou o próprio sequestro, junto com o namorado, para tentar aplicar o golpe do seguro. O falso roubo do Hyundai Creta, que vale cerca de R$ 100 mil, aconteceu na madrugada do dia 12 de junho.

O caso repercutiu na cidade naquela data, pois a secretária foi sequestrada junto com o filho de 12 anos após, supostamente, ter a casa invadida. Contudo, foi o próprio namorado de Norimi, Alberto Fróes Junior, de 30 anos, que pulou o muro do imóvel, em plano armado pelos dois.

Foi o vigilante que viu o Creta saindo do imóvel naquela data e acionou a Polícia Militar. Caso contrário, o golpe seria concretizado. A PM atendeu a ocorrência e registrou o caso, dando início as diligências da Polícia Civil, que apontou várias contradições no depoimento da secretária.

Prisão - Alberto foi preso no dia 18 de junho e confessou que mantinha um relacionamento amoroso com a secretária e que ela havia relatado estar sem dinheiro. Eles então elaboraram um plano de roubo do carro para aplicar o golpe do seguro. Segundo disse a polícia, foi a própria secretária que orientou ele a pular o muro do imóvel e apenas levaram o garoto, porque não tinham com quem deixar.

No trajeto para Bela Vista, tiraram o rastreador do carro. Após o roubo, a secretária repassou R$ 800 para ele "se manter".

Contradições - Norimi disse que após ser sequestrada, foi deixada em um hotel pelo bandido, que devolveu o celular à ela e fugiu com o Creta para o lado paraguaio. "A vítima apresentou diversas versões dos fatos que são incompatíveis com a lógica normal de um roubo/sequestro", diz o relatório policial.

Além das contradições, a polícia suspeitou do fato de o bandido ter se preocupado em deixar a vítima em um hotel e ainda com o valor da hospedagem. Outro fato relatado foi a vítima não tentar pedir socorro. "Por fim, não é comum que o autor de um roubo com sequestro devolva o celular da vítima".

A secretária chegou a pedir para a empresa de monitoramento alterar os horários das câmeras de segurança. "Pelo conjunto dos fatos e provas reunidas, não se pode ignorar as discrepâncias e a fragilidade do depoimento da vítima, concluindo que toda essa narrativa é inverídica", discorre o documento. "Você acha que se fosse um roubo de verdade eu levaria ela até um hotel e devolveria o celular? Se fosse, eu pegaria as joias que eu sei que ela tem", disse Alberto ao ser interrogado.

Os dois foram denunciados pelo Ministério Público pelo crime de estelionato. Norimi negou qualquer relacionamento com Alberto. Não há informações sobre o paradeiro do carro.

A reportagem conversou por telefone com o prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra, que declarou acreditar na secretária. "Trabalha há 15 anos comigo, uma pessoa super correta, eu não acredito nisso", disse.

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