Sem verba pública, hospital que atende índios não paga funcionários
Pelo menos 80 funcionários do Hospital da Missão Caiuá estão sem parte do salário de novembro e sem a segunda parcela do 13º
Pelo menos 80 funcionários do Hospital da Missão Evangélica Caiuá, localizado em Dourados, a 233 km de Campo Grande, protestam por causa do atraso de parte do salário de novembro e da segunda parcela do 13º. Responsável pelo atendimento de 15 mil índios das aldeias Bororó e Jaguapiru, o hospital fica dentro da reserva indígena, mas também atende moradores de bairros próximos.
Uma funcionária do hospital informou hoje (21) ao Campo Grande News que há pelo menos quatro meses a Missão Evangélica Caiuá vem parcelando os salários de toda a equipe, incluindo médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e até do pessoal da limpeza.
“Neste mês não pagaram o restante do salário de novembro e nem a segunda parcela do 13º. Não temos a quem recorrer, porque a Missão alega que não recebeu os recursos federais que vêm para a prefeitura”, afirmou a funcionária.
Segundo ela, nesta semana os representantes dos funcionários foram informados por um dos diretores que o pagamento depende da verba que vem do Ministério da Saúde para a prefeitura, que sua vez repassa para o hospital. Entretanto, esse repasse estaria em atraso.
“Depois falamos com o secretário de Saúde, que também disse que o repasse está atrasado. Mas o pessoal contratado pela Missão para trabalhar para a Sesai [Secretaria de Saúde Indígena] está com os salários em dia e para nós não tem nem uma previsão”, reclamou a funcionária.
O secretário de Saúde Sebastião Nogueira disse hoje ao Campo Grande News que o município ainda não recebeu os repasses que são destinados ao hospital da Missão Caiuá.
“União e Estado ainda não fizeram o repasse de dezembro para todas as secretarias, inclusive a nossa”, afirmou. Para o hospital que atende os índios são repassados pelo menos R$ 200 mil todos os meses.
Contrato milionário - A Missão Evangélica Caiuá, que tem sede em Dourados desde 1928, possui contrato milionário com a Sesai. A ONG atende 19 distritos sanitários em várias regiões do país. É responsável pela contratação dos profissionais de saúde que trabalham nas aldeias.
Em 2016 a Sesai tem orçamento total de R$ 1,43 bilhão e previsão orçamentária de R$ 1,45 bilhão para 2017. Boa parte desses recursos é destinada às três organizações não governamentais que atendem índios no Brasil – Missão Caiuá, SPDM (Associação Paulista para Desenvolvimento da Medicina), que atua na região norte, e IMIP (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira), que atua no Nordeste.
A Missão Caiuá recebeu R$ 497 milhões em 2016, o IMIP R$ 132 milhões e SPDM, R$ 143 milhões.
De acordo com a funcionária, a direção do hospital afirma que o esse dinheiro é destinado ao pagamento das equipes da Sesai e da Casai (Casa de Saúde Indígena). Ninguém atendeu ao telefone nesta quarta na Missão Caiuá.