Vereadora acusa médico do Hospital do Câncer de ‘só pensar no lucro’
A vereadora Virgínia Magrini (PP), presidente licenciada da ACCGD (Associação de Combate ao Câncer da Grande Dourados) reagiu às críticas do médico Mário Eduardo Rocha, diretor da clínica particular que presta atendimento de oncologia na cidade, a 233 km de Campo Grande, e acusou o profissional de “só pensar no lucro” e não nos pacientes do Hospital do Câncer.
Alegando atraso nos pagamentos feitos pelo Hospital Evangélico – instituição credenciada pelo Ministério da Saúde para atendimento de oncologia em Dourados e que terceiriza o serviço para a clínica particular instalada no Hospital do Câncer – a empresa anunciou a suspensão do atendimento a novos pacientes. Até medicamentos estariam em falta, segundo os médicos que trabalham na unidade, devido ao atraso no pagamento de fornecedores.
Mário Eduardo Rocha, um dos diretores da clínica, disse em entrevista à rádio Grande FM que o Hospital do Câncer é apenas “nome fantasia” e que a empresa da qual ele é sócio tem de pagar 10% de todo o faturamento mensal ao Hospital Evangélico a título de aluguel do prédio. O hospital foi construído principalmente através de doações obtidas pela associação que Virgínia ajudou a fundar. O prédio fica no terreno anexo ao Evangélico. “Pagamos até dez mil reais por mês ao Evangélico”, afirmou.
O médico também acusou a associação de Virgínia de fazer campanhas de arrecadação no comércio e não repassar as doações para ajudar no custeio do atendimento aos pacientes de câncer de Dourados e da região. Nas lojas do comércio de Dourados existem caixinhas de madeira, com o símbolo da ACCGD, deixadas sobre o balcão, para que as pessoas possam doar moedas.
“Ele só esquece de informar que é sócio da empresa que explora o serviço, usa o prédio, moveis e equipamentos da ACCGD sem nada pagar e está adotando esta postura porque acredita que a associação deveria pagar água, luz, salários de funcionários e médicos, inclusive dois de outros Estados, e ele ficar somente com o lucro, coisa que não concordamos”, afirmou a vereadora ao Campo Grande News.
CNPJ e estatuto – “Ele não está preocupado com paciente, pois do contrário não fecharia as portas de um hospital, muito menos ficava conversando fiado por aí deixando os pacientes abalados”, declarou Virgínia Magrini, que rebate a afirmação de que o Hospital do Câncer foi construído no terreno do Evangélico.
“O terreno é da Igreja Presbiteriana. O hospital tem CNPJ e Estatuto, depende da autorização do HE para atender câncer. A ACCGD fez campanhas para construir, mobiliar e equipar, o que completamos em meados de 2014. Atualmente nossas campanhas estão voltadas para a reforma da ala de internação oncológica, ampliação da recepção e um espaço para os acompanhantes fazerem alimentação, além do fornecimento de remédios ‘extra hospital’, cestas básicas, alimentação, cânulas, bolsas de colostomia. próteses, perucas e cadeiras de rodas”, explicou ela, sobre a campanha de arrecadação feita na cidade.
Pede para sair – Virgínia disse que a associação faz um trabalho voluntário para ajudar os pacientes, “não para pagar despesas de uma empresa privada que pretende ficar somente com lucros”. A vereadora sugeriu que a clínica da qual Mário Eduardo é sócio construa um prédio, compre equipamentos e mobília e consiga autorização para tratar pessoas com câncer. “Simples assim. Aí ele não precisará reclamar de ninguém não é?”, afirmou Virgínia.
Nesta sexta-feira, o médico Davi Vieira, outro sócio da clínica terceirizada, informou ao Campo Grande News que o atendimento a novos pacientes foi retomado hoje depois de o Hospital Evangélico fez um “repasse parcial” dos valores devidos. “Esse repasse ainda não resolve totalmente os problemas, mas já retomamos o atendimento dos casos mais graves”.
A empresa ainda não informou o montante que o hospital estaria devendo por serviços prestados, mas o valor pode chegar a R$ 1 milhão. Mário Eduardo acusou o Evangélico de receber do Ministério da Saúde e dos convênios particulares e não repassar a parte da empresa terceirizada. O hospital ainda não se pronunciou sobre as denúncias.
Na quarta-feira, o vice-superitendente, Marco Aurélio de Camargo Areias, encaminhou ofício à empresa para questionar a suspensão do atendimento de novos pacientes e afirmar que existia medicamento em estoque suficientes para mais alguns dias. A empresa não informou qual foi o valor pago pelo hospital para permitir a retomada dos atendimentos.
Paciente com medo – A manicure Ivanir Riquelme, 30, moradora em Antonio João, cidade a 160 km de Dourados, é uma das pacientes que fazem tratamento de câncer no hospital da cidade. Na quarta-feira ela disse que estava “apavorada” com a crise do Hospital do Câncer e temia não poder concluir a quimioterapia iniciada há três semanas após a doença ser diagnostica no útero. “Eles falaram que só tem material para mais cinco dias. Vou rezar muito para não ficar sem o tratamento”, afirmou ela.