Transmissão de sífilis para o bebê cresce 41% com falta de benzetacil
A falta da penicilina benzaltina na rede pública de saúde está preocupando as autoridades da área de prevenção DST/Aids (Doenças Sexualmente Transmissíveis e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e Hepatites Virais, especialmente em relação a Sífilis em gestantes e a congênita, que é transmitida da mãe ao bebê ainda na gestação, que aumentou em dois anos 52,8% e 41,2%, respectivamente.
De acordo com a gerente técnica do Programa Estadual de DST/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Estado de Saúde, Danielle Martins, esse aumento nos casos de Sífilis é um reflexo da falta da medicação não só em Mato Grosso do Sul, mas no país. "O Ministério da Saúde divulgou alerta às unidades de saúde em todo o Brasil para direcionar a aplicação da penicilina benzaltina ao tratamento de sífilis em gestantes e em quem sofre de febre reumática", comentou.
Em 2012 foram registrados 594 casos de sífilis em gestantes e 199 congênita. No ano passado, esses números subiram para 908 em gestantes e 281 casos da doença congênita, ou seja, aumento de 52,8% e 41,2%, respectivamente. Um dado preocupante apontado por Danielle Martins que revela a falta do tratamento nas gestantes é o aumento considerável da sífilis congênita nos seis primeiros meses deste ano. Os casos da doença em recém-nascidos já representa 42,8% em relação à sífilis em gestantes. Em 2014, esse índice foi de 30,9%, o que significa que as futuras mães não estariam fazendo o tratamento.
Segundo Danielle Martins, esse aumento é sinal da falta benzetacil, como é mais conhecida a penicilina benzaltina, na rede pública de saúde, o que estaria ocorrendo em algumas cidades do estado. A falta da matéria prima nos laboratórios para a produção do remédio no Brasil tem dificultado a compra por parte do Ministério da Saúde, que deve se normalizar nos próximos meses, com a importação da matéria prima da China. Esse medicamento é único capaz de evitar a transmissão da sífilis congênita.
A gerente técnica da SES (Secretaria de Estado de Saúde) explicou que se não houver tratamento da gestante, o bebê corre o risco de nascer com má formação, cegueira, surdez, deficiência mental. "Mesmo que nasça saudável, a criança deve fazer o tratamento imediato para evitar a manifestação da doença", alerta. Para isso, o bebê fica internado por cerca de 10 dias e faz uma série de exames para diagnosticar o estágio da doença e o tratamento a ser aplicado.
A técnica do Programa DST/Aids revelou que a benzetacil é o único remédio capaz de ultrapassar a placenta e evitar a transmissão da sífilis ao feto. Para isso, a gestante diagnosticada no pré-natal, deve receber três doses da medicação por três semanas consecutivas, respeitando o intervalo de exatos 7 dias. "São duas injeções em cada dose. A gestante deve seguir exatamente a indicação recomendada. Da mesma forma o seu parceiro", lembrou Danielle, alertando que é fundamental o tratamento do casal para evitar o filho nasça com a doença.
O sistema de saúde classifica em três grupos para definição de tratamento da doença: Adquirida (pessoa que adquire a doença por relação sexual ou transfusão de sangue); Gestante (a mulher teria a sífilis adquirida e descobre no pré-natal ou foi contagiada durante a gestação); e Congênita (transmitida da gestante ao feto).
Nos seis primeiros meses deste ano (até o dia 22de junho), conforme dados da SES, foram notificados 405 casos de sífilis adquirida; 294, em Gestante; e 126 casos da Congênita.
Sífilis - É uma doença é silenciosa e requer cuidados. Pode ser transmitida por meio da relação sexual, transfusão de sangue e da gestante para o feto. Após a infecção inicial, a bactéria Treponema Pallidun pode permanecer no corpo da pessoa por décadas para só depois manifestar-se novamente.
A sífilis desenvolve-se em diferentes estágios, e os sintomas variam conforme a evolução da doença, que podem seguir ou não uma ordem determinada. Geralmente, a doença evolui pelos seguintes estágios: primário, secundário, latente e terciário.
Primária - É o primeiro estágio. Cerca de duas a três semanas após o contágio, formam-se feridas indolores (cancros) no local da infecção. Não é possível observar as feridas ou qualquer sintoma, principalmente se as feridas estiverem situadas no reto ou no colo do útero. As feridas desaparecem em cerca de quatro a seis semanas depois, mesmo sem tratamento. A bactéria torna-se dormente (inativa) no organismo nesse estágio.
Secundária - Acontece cerca de duas a oito semanas após as primeiras feridas se formarem. Aproximadamente 33% daqueles que não trataram a sífilis primária desenvolvem o segundo estágio. Nesta fase, o paciente pode apresentar dores musculares, febre, dor de garganta e dificuldade para deglutir. Esses sintomas geralmente somem sem tratamento e, mais uma vez, a bactéria fica inativa no organismo.
Latente - Esse é o período correspondente ao estágio inativo da sífilis, em que não há sintomas. Esse estágio pode perdurar por anos sem que a pessoa sinta nada. A doença pode nunca mais se manifestar no organismo, mas pode ser que ela se desenvolva para o próximo estágio, o terciário – e mais grave de todos.
Terciária - Este é o estágio final da sífilis. A infecção se espalha para áreas como cérebro, sistema nervoso, pele, ossos, articulações, olhos, artérias, fígado e até para o coração. Aproximadamente de 15% a 30% das pessoas infectadas não tratadas desenvolvem o estágio terciário da doença.
Só é contagiosa nos estágios primário e secundário e, às vezes, durante o início do período latente. Raramente, a doença pode ser transmitida pelo beijo, mas também pode ser congênita. Uma vez curada, a sífilis não pode reaparecer – a não ser que a pessoa seja reinfectada por alguém que esteja contaminado.