Vizinha de prédio aponta falhas e deficiências em combate a fogo e socorro a vítimas
Sandra Regina dos Santos Ferreira, moradora do Edifício Manhattan, ao lado do Condomínio Da Vincci, onde apartamento do nono andar pegou fogo na madrugada deste domingo, provocando a morte de seu morador, disse que uma sequência de falhas, falta de solidariedade e deficiências em hospitais ficaram expostos e causaram indignação.
Ela ajudou no resgate das vítimas e disse que a atuação voluntária e solidária de médicos que moram no condomínio e prédios vizinhos foi fundamental, porque os bombeiros demoraram cerca de 30 minutos para chegar e quando já estavam no local não havia profissionais da área médica e enfermagem para os primeiros socorros. As ambulâncias do SAMU (Serviço de Atendimento Médio de Urgência e Emergência) chegaram depois.
Viaturas da Ciptran (Companhia Independente de Policiamento de Trânsito) e da PM foram as primeiras a chegar. O Corpo de Bombeiros disse que foi acionado às 2 horas. Uma testemunha, que fotografou as escadarias e as paredes escuras pela fumaça, disse ter chegado antes e calcula que o socorro começou por volta das 2h30.
Para a moradora do Manhattan, a síndica do prédio incendiado foi previdente ao mandar fazer a inspeção dos hidrantes há 15 dias. “Cerca de 70% do êxito dos bombeiros se devem aos hidrantes que felizmente tinham passado por manutenção”, disse a vizinha, que auxiliou no socorro entre às 3h e 7h. Segundo ela, houve muita queixa dos bombeiros em relação à estrutura do prédio. “As escadarias são estreitas”.
Além das falhas nos primeiros socorros e dificuldade de evacuação do prédio, até por falta de orientação dos moradores, Sandra Regina disse ter observado que, apesar da boa vontade, os bombeiros não dispõem de equipamentos suficientes para uma emergência como a desta madrugada.
Mas o que mais gerou indignação, segundo ela, foi a falta de sensibilidade e espírito humanitário em uma situação de emergência nos hospitais e exigências burocráticas de planos de saúde. “Apesar da emergência, havia muita cobrança para que fossem feitos depósitos, emitidos cheques e exigência de carteirinha no Hospital da Unimed. Foi preciso a intervenção de outros médicos do condomínio que imploraram atendimento. Na Santa Casa só havia respirador manual. Foi um caos”, declarou Sandra ao Campo Grande News, contando que uma criança, filha de um casal de defensores públicos, esperou até às 6h por uma vaga no CTI (Centro de Terapia Intensiva) .
O casal saiu do prédio inconsciente, por ter inalado grande quantidade de fumaça. Uma outra vítima foi reanimada no hall do prédio e está em estado grave na Clínica Campo Grande. Os primeiros socorros foram prestados por médicos voluntários. “Estamos indignados, porque os bombeiros não chegaram logo, os equipamentos eram insuficientes, não havia vagas em UTIs e CTIs”.
Para a vizinha que ajudou no socorro, a tragédia só não atingiu proporções maiores porque a temperatura caiu e estava chovendo. Para o Corpo de Bombeiros, a falta de informação de como agir em incêndios e de conhecimento sobre a estrutura dos prédios por parte de moradores atrapalham a evacuação eficiente de prédios.