Zeolla diz que se arrependeu e tentou salvar sobrinho
Em depoimento ao procurador geral de Justiça, Miguel Vieira da Silva, e à comissão processante, o procurador de Justiça Carlos Alberto Zeolla, 44 anos, assassino confesso do sobrinho Cláudio Alexander Joaquim Zeolla, 23 anos, disse que estava "profundamente arrependido" e que ainda tentou salvar a vida do rapaz, apesar do tiro a queima roupa, na nuca, disparado por ele na manhã do dia 3 de março.
O depoimento contém justificativas para o crime, que traça o perfil da vítima como problemático e do réu como homem atormentado diante da injustiça ao pai agredido.
O depoimento foi realizado no início da noite do dia 5 de março, no gabinete do procurador geral. Zeolla contou em detalhes como foi o crime, os momentos que antecederam e o que aconteceu depois, e o motivo, sem muitos questionamentos dos ouvintes na sala.
O motivo - O procurador contou que ficou sabendo da briga entre o pai, Américo Zeolla, 86 anos, e Cláudio, na noite do dia 2, através dos dois sobrinhos que moram com ele. Ele passava pela sala da casa dele, após ter passado o dia dormindo por conta de exames e medicações, e percebeu que os dois rapazes cochichavam e ouviu quando um deles disse "contamos pro tio ou não?".
Diante disso, Zeolla os questionou e soube que, pela manhã, os dois rapazes tiveram que levar o avô para o Proncor, porque ele havia sido agredido por Cláudio, que já havia morado com ele. Segundo Carlos Alberto, a briga aconteceu porque Américo, "muito sistemático e herói da segunda guerra mundial", não aceitava que Cláudio levasse para a casa namoradas diferentes para manter relacionamentos sexuais.
O procurador declarou que não sabe qual o tipo de agressão, nem o local em que o pai foi lesionado. No Proncor, a informação dada no dia do crime ao Campo Grande News foi de atendimento por pressão alta, nenhum ferimento foi registrado. No dia do enterro, o avô foi se despedir do neto. Segundo amigos eles estava bem disposto, apesar da dor pela morte de Cláudio.
A vingança - Ao saber da briga, Zeolla disse que questionou os sobrinhos do porque "não tinham dado um cacete para deixa-lo arriado, para aprender que deveria respeitar um avô idoso e herói da segunda guerra mundial".
Perguntou também porque, quando precisaram de R$ 60 mil para socorrer a empresa deles, Público Alvo, ambos pediram ajuda ao avô, mas quando ele foi agredido, eles "não deram uma boa surra no Cláudio".
Os sobrinhos então justificaram: "tio, o senhor já viu o tamanho do Cláudio?" Conforme descrito por Carlos Alberto, a vítima era uma pessoa "corpulenta e forte, e tomava anabolizante de cavalo".
Diante disso, mandou os sobrinhos leva-lo para a casa do pai. Na residência, encontrou o pai "chorando compulsivamente como uma criança". Américo então confirmou que havia sido agredido por Cláudio.
O procurador disse ainda que tentou convencer o pai a registrar um boletim de ocorrência, porque assim, o neto que o agrediu seria preso. Segundo Carlos Alberto, Américo não aceitou alegando que isso prejudicaria Cláudio no novo emprego.
A caça -Diante disso, Carlos Alberto chamou os dois sobrinhos e foram até o Extra Hipermercado, onde Cláudio trabalhava no açougue. Segundo o relato do procurador, os três poderiam "dar conta" da vítima.
No local, foram informados que o rapaz estava de licença porque havia ferido um dos dedos das mãos. Os três foram então para a região da Praça Ary Coelho, onde Cláudio "tinha o costume" de ir para oferecer programas, acusa o tio.
Não o encontraram e o seguiram para a região da Morada dos Baís. Lá, o procurador disse que telefonou para pessoas que moravam no Jardim Tarumã e Aero Rancho, que conheciam Cláudio e às vezes estavam junto com ele. Mas, não teve uma resposta positiva e voltaram para casa.
O Tarumã é justamente o endereço de um outro rapaz, que há dois meses contou à Polícia ter sido ameaçado de morte pelo procurador.
Sem sono - Zeolla contou que ao chegar em casa, tomou os medicamentos por conta de três úlceras e outros dois para dormir, receitado pela psiquiatra., que há oito anos o acompanha. Mesmo assim não conseguiu dormir, e então tomou mais um comprimido de Rivotril de duas miligramas, antidepressivo.
Ele contou aos procuradores e advogados, que não conseguiu dormir e ficou "remoendo raiva, indignado".
Poucas horas antes do crime Por volta de 6h30, o adolescente de 17 anos que trabalhava como motorista e secretário de Zeolla chegou na casa e foi até o Comper Jardim dos Estados comprar pão.
Eles tomaram café, colocaram comida para o passarinho, que Zeolla tem "para distração e sentir-se mais leve" e em seguida o procurador vestiu-se com uma camiseta de cor branca,bermuda marrom, boné e um par de tênis. Em outra sacola, colocou mais uma camiseta e uma bermuda, mas nesse momento do interrogatório não houve questionamento se a roupa extra seria já pensando em se livrar de provas do crime.
O trajeto de rotina seria o Horto Florestal, para caminhada. Mas Zeolla mandou o "motorista" seguir para a casa do pai dele. Lá, diz o procurador, encontrou de novo o pai chorando, com dores no peito e tentou convence-lo mais uma vez a denunciar o caso à Polícia.
Américo não aceitou, e ele, sabendo que o pai tinha uma arma, foi até o quarto do casal, pegou o revólver calibre 38 que ficava dentro de uma gaveta e o pegou. Nesse momento, encontrou com a mãe, pediu a benção e a beijou. Segundo ele, ninguém sabia que havia pego o revólver.
Depois disso foi para o Horto. Na caminhada ficou "remoendo as idéias". No depoimento, ele disse que naquele momento estava "transtornado, cego de raiva".
Após caminhar cerca de 30 minutos, pediu para o motorista seguir para o cruzamento das ruas Bahia e Pernambuco. Ele disse que foi para o local porque sabia da academia que o sobrinho freqüentava. No trajeto, falou que só comentou com o motorista que Cláudio havia agredido Zeolla.
Ali, ficou parado por cerca de 30 a 40 minutos. Pediu para o adolescente desligar o pisca alerta esquerdo. O carro ficou ligado por conta do ventilador, pois o veículo não tem ar condicionado.