A felicidade passou a ser um grande negócio
A ideia de felicidade foi convertida em uma ciência... e também em um grande negócio. Governos, economistas, psicólogos e médicos embaraçaram nos últimos anos em uma corrida para localizar, medir e definir o bem estar emocional e social. Uma informação valiosa para desenhar políticas publicas, prever o comportamento humano, tentar reprimir a epidemia de depressões que se instalou no mundo dos tarja-pretas, aumentar a produtividade das empresas e vender todo tipo de produtos a consumidores cada vez mais monitorados graças aos avanços tecnológicos.
O homem mais feliz do mundo
Está descoberto o homem mais feliz do mundo. É um monge budista francês. Seu nome é Matthieu Ricard, têm 71 anos e bateu todos os recordes em um estudo sobre o cérebro, feito pela Universidade de Wiscosin (EUA). Sua cabeça foi conectada a 256 sensores e submetida a ressonância magnética enquanto meditava. Mostrou uma atividade inusual no lado esquerdo do cérebro, onde se concentram as sensações de prazer, até um nível nunca visto pelos cientistas. Esse feliz diagnóstico converteu Ricard, doutor em biologia molecular que abandonou tudo para converter-se em monge, em objeto de fascinação dos poderosos. Desde de 2008, passeia seus hábitos vermelhos e laranjas pelos salões de Davos, na Suíça, onde conversa com a elite política e financeira.
Assessor pessoal do Dalai Lama, alerta em suas conferências, livros, palestras e internet, sobre os perigos da busca dos "benefícios egoístas", defende o altruísmo e dá conselhos para construirmos uma sociedade mais feliz. Essas ideias não são novas, mas explodiram nos últimos anos no meio de economistas, empresas... no mundo dos negócios. Só há uma certeza: ajuda a combater a depressão. Uma epidemia que afeta 300 milhões de pessoas, 10% mais que há uma década, segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS. Mas a busca da felicidade pode ser menos altruísta do que imaginamos: também é a base de uma grande negócio. Retiros, cursos online de meditação, uma inundação de livros de autoajuda, aplicativos para celulares, formam parte de uma indústria em alta.
A carinha da felicidade dos emoticons e a ONU
Quando o "desenho smiley", a popular carinha amarela sorridente com dois olhos, que simboliza a felicidade, foi criada em 1963 para fomentar a amizade entre os funcionários de duas seguradoras que acabavam de fundir-se, a felicidade era pensada como um conceito abstrato, objeto de debate filosófico desde a Antiguidade. " Todo mundo aspira a vida feliz, mas ninguém sabe em que consiste", sentenciou Sêneca. No século XXI, todos parecem empenhados em contrariar a história e descobrir o que é a felicidade.
Há cinco anos, a ONU declarou o 20 de março, Dia Internacional da Felicidade, desde então, publicam um ranking mundial de bem estar de 156 países. Para fazer seus cálculos, a entidade têm em conta o sistema político, educação, segurança, saúde, concórdia e outros. O mundo da felicidade, conforme a ONU, está situado na Escandinávia. Os cinco primeiros lugares pertencem à Noruega, Dinamarca, Islândia, Suíça e Finlândia. Já o mundo da infelicidade é quase todo formado no mapa africano: República Centro Africana, Burundi, Tanzânia, Siria e Ruanda. Em 2017, o Brasil caiu cinco posições, ficando em vigésimo segundo lugar. Com esse ideário, alguns países começaram a criar Ministérios da Felicidade. A ideia esteve em voga no governo Dilma e soçobrou. Mas até o governo de Maduro, na Venezuela cometeu a desfaçatez de criar o Vice Ministro da Suprema Felicidade do Povo. Não sei se rio ou choro.
A curva da felicidade conforme a idade
Quando somos mais felizes? Quando completamos 20 anos, o nível de felicidade vai reduzindo pouco a pouco e chega ao fundo entre os 40 e 60 anos, segundo a Universidade de Oxford. Esse mesmo estudo ainda afirma que alguns países - Dinamarca, Austrália e Estados Unidos - o nível de felicidade começa a crescer novamente à partir dos 44 anos de idade, nos demais, só à partir dos 60 anos. Mas há duas condições para o retorno da felicidade com o passar dos anos: qualidade de vida e companhia de amigos e familiares. A Rússia seria outra exceção. Não deixa cair o nível de felicidade até os 81 anos, momento em que se estabiliza. O estudo ainda afirma que "entre os 40 e 60 anos os indivíduos podem suportar uma dupla carga - uma associada à meia idade (filhos e pais dependentes) - e outra relacionada com o fato de que as aspirações se adaptam à realidade". E finaliza como uma interrogação: os felizes nascem ou se fazem? Sustentam um terço da felicidade é devido à genética.
A fábrica de felicidade
Desde que o cérebro do monge francês foi investigado em Wiscosin, o "mindfulness" (algo como atenção plena para a felicidade) vive uma revolução. Essa palavra apareceu, no ano passado, no título de 498 trabalhos científicos no "PubMed", um dos mais completos buscadores da medicina. Em 2008, eram apenas 68 estudos. Mas a grande mudança veio nas empresas. Os programas das grandes companhias passaram a estar centrados em reforçar as habilidades pessoais, e, por outro lado, a aumentar a presença e a conexão entre as pessoas.
A ideia de felicidade é venerada como objeto de estudo, mas também se recorre a ela para vender produtos, desde um celular até uma bebida. Isso tudo começou em 1920, mas era incipiente. As técnicas, nos últimos anos, se aperfeiçoaram dramaticamente. Criaram a indústria da felicidade.