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Em Pauta

A flor dos chapados: miséria no cultivo de maconha paraguaia

Mário Sérgio Lorenzetto | 27/05/2023 08:38
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

O Campo Grande News publicou a enorme diferença no tráfico de maconha do Mato Grosso do Sul, comparado com os demais Estados. Aproximadamente, dez vezes mais tabletes de maconha são apreendidos por estas bandas. Qual a origem de tamanha grandiosidade? Uma das respostas está na miséria dos plantadores de maconha no Paraguai. Mão de obra barata é uma explicação. Está bem próxima à escravidão.


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Começo no longínquo anos 60.

Iniciada na década de 1.960, no distrito de Amambay, fronteiriço ao Brasil, a área de cultivo de cannabis no Paraguai vem se expandindo. O governo paraguaio estima que hoje tais cultivos ocupam de 6 a 7 mil hectares. Nada menos de 80% dessa produção sai para o Brasil. Mas, diferentemente de outros países produtores em larga escala, como o Marrocos e a Colômbia, o cultivo paraguaio é ilegal e considerado, por quem entende, de péssima qualidade.


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Naturalidade e impunidade.

Patrões, gerentes, roceiros e peões, todos falam com naturalidade sobre as milhares de pequenas plantações de maconha no Paraguai. Há um clima de impunidade, garantida por uma rede de policiais e autoridades que ganham boa parte do lucro da maconha. Assim como no negócio da cocaína, a maior concentração de capital gerado pelo tráfico do "prensado" paraguaio, como denominam por lá, está nos intermediários. As "pontas", quem planta e quem vende ao consumidor o volume de capital distribuído é diminuto, quase insignificante.


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O patrão fazendeiro.

Chapéus de vaqueiro, botas, cuias de tereré adornardes com estampas imitando pele de onça e cobra, o patrão da maconha é idêntico a um plantador de soja. Não podemos esquecer que, ainda que mal visto, a maconha faz parte do agronegócio. Motéis e puteiros fazem parte de seu itinerário constante. Assim como falar bem três línguas: português, espanhol e guarani. Os mais "ricos", exploram duas ou três "fazendas", de menos de 10 hectares. Geralmente áreas públicas invadidas ou um pedaço arrendado de um latifúndio. É ele quem escolhe as sementes, fertilizantes e técnicas que serão usados nos cultivos. E contrata os trabalhadores braçais que são levados principalmente na época da colheita da flor da maconha. Há um equívoco comum , não se fuma folha de maconha e sim sua flor fêmea, conhecidas como "camarões".


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Cadeia ou caixão. R$200 para passar.

Os policiais paraguaios não causam grandes problemas. Aproximam-se do veículo que transporta a maconha normalmente sem abrir a boca. O patrão saca aproximadamente quatro notas de 100 mil guaranis, cada nota vale cerca de R$50, e entrega ao homem da lei, que libera o caminho e continua calado. Só se preocupam com o DOF no Brasil. Para eles, esse órgão da PM, não participa do jogo, dizem que é "cadeia ou caixão". No Paraguai, apenas duas pessoas foram presas por cultivo de maconha em 2016, último dado fornecido pelo governo.


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R$40 por dia de trabalho.

Durante os quatro meses de crescimento vegetativo e flora, cada uma das roças é cuidada por um roceiro e mais duas ou quatro pessoas de confiança, geralmente parentes. Quando chega a hora da colheita, recrutam mais dez peões em média, que ficam acampados durante um mês: ajudando nos diferentes processos: colheita, secagem, "zaranda", despaletada, estoque e prensa. A maioria paraguaia, de origem indígena, recebe R$40 por dia de trabalho. São valores finados por todos os patrões, para evitar concorrência.


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A vida miserável na roça.

Cada roça tem seu alojamento e cozinha. Feijão, arroz, charque, óleo, sal, açúcar, leite e um pãozinho redondo chamado "coquito" são fornecidos pelo patrão. A água é de poços ou córregos, geralmente amarronzada, misturada com terra. Quase sempre é bebida na forma de tereré para disfarçar o gosto. O acampamento é muito sujo. Garrafas pet de vinho barato e Forti, uma cachaça paraguaia, estão por todo lado. Não há mulheres nesses acampamentos. A jornada de trabalho vai do alvorecer até o cair do sol, com exceção da prensa, que funciona sem parar. Algumas roças, mais "ricas", funcionam com potentes refletores a noite toda. Rendem algo como 700 quilos. Aquelas que têm mais jovens são chamadas de "bucetinhas", gastam tudo com namoradas e prostitutas.

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