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Em Pauta

A fuga de Miranda engendrou a criação de Aquidauana

Mário Sérgio Lorenzetto | 19/05/2023 08:05
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"Os paraguai estão chegando, gente! Foge! Pro mato! Os paraguai estão aí. Foge! Depressa!" O cavaleiro vinha a galope. Parecia voar na estradinha, arrastando grossa nuvem de poeira. Gritava enlouquecido. Só pensava nas meninas e moças que não podiam cair nas mãos dos soldados paraguaios.


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A vila de Miranda tomada pelo terror.

Miranda era uma vila isolada. A capela e algumas casas eram uns ranchões de adobe, quase todos cobertos de palha. As notícias chegavam a Miranda pela lancha da Bacia do Prata, que saia de Corumbá. Via de regra, levava meses para chegar. As principais fazendas eram a Pequi, de Joaquim de Souza Moreira e a Agachi, de "Pai Chico". A vila foi tomada pelo terror com a notícia da proximidade dos paraguaios. Já tinham invadido grande parte do território do Mato Grosso do Sul. Os moradores de Miranda tinham notícias da violência e dos horrores ocorridos na vila de Nioaque. Movidos pelo medo, tomaram uma decisão crucial para suas vidas e para o futuro da região.


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Fugir era a única solução.

Era preciso largar tudo e fugir para o mato. Alguém se pendurou à corda do sino da igreja e o pôs a tocar nervosamente. Corriam para todos os lados. Sem saber para onde ir. Crianças choravam, trouxas eram feitas com toda a carne-seca, as rapaduras e os queijos. Depois de alguma confusão, decidiram refugiar-se nos morros. Tinham córregos límpidos e mata fechada. Com tantas mulheres e crianças pequenas, não podiam se arriscar muito. Os morros, com suas grutas, eram seguros. Alguns queriam o Morro Azul, outros o Morro Ponteiro e ainda havia aqueles que desejavam o Morro Pirainha. Resolveram, finalmente, pelo Azul.


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Nhá Gervásia, a paraguaia da chipa.

Aos poucos a vila foi ficando vazia. Uns poucos se recusaram a sair. Nhá Gervásia, a paraguaia que vendia chipa na vila, não acreditava nos horrores que contavam de seus patrícios. Ela saíra ainda moça de Assunção, se lembrava com saudade dos rapazes guapos e gentis que conhecera. Os daquele momento não seriam diferentes. Ela ficou. Receberia seus patrícios com uma saudação guarani e umas chipas quentes. Vivia há anos em Miranda. Gostava dos brasileiros. Convenceria os paraguaios, e não haveria mais guerra. Mas não foi assim. A maltrataram muito, zombaram dela, apesar de devorar as três fornadas de chipa que fazia por dia. Uns selvagens! Abusados e cínicos. A guerra tudo muda.


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A vida no Morro Azul e a decisão de fundar Aquidauana.

Os fugitivos de Miranda estabeleceram uma economia de subsistência no Morro Azul. Caça e pesca, frutas, raízes, mel e uma pequena lavoura de mandioca. Era uma vida difícil. Conviviam com onças, cobras, queixadas, aranhas, insetos infernais. A vida era monótona. Uma das raras novidades foi a chegada do então tenente Taunay, que vinha à frente das tropas brasileiras. Há um momento significativo e histórico. Alguns fazendeiros se reuniram e passaram a cogitar a fundação de outro centro urbano, que resultou mais tarde na cidade de Aquidauana.

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