A revolução de uma grande loja de luxo mudou o comércio
Nas primeiras décadas do século XIX, o comércio nas cidades era o mesmo praticado há séculos. Só existiam pequenos estabelecimentos dedicados a um só tipo de produto: perfumarias, joalherias....Também existiam pequenos comerciantes que montavam diariamente suas barracas próximas a feiras. Os ricos não iam a lojas, compravam em suas próprias casas. Os comerciantes iam até elas. As ofertas eram limitadíssimas e os preços normalmente disparavam. Para eles, a compra requeria um exercício de barganha. Tinham dinheiro, mas não tinham onde gastar.
O cliente manda.
Para atender essa nova demanda, surgiram em Paris as galerias - pequenas lojas com passagens entre elas cobertas por toldos - e as "boutiques de nouveautés" , ou simplesmente "botiques", como as conhecemos até hoje, uma espécie de bazar dirigido a uma clientela seleta. Mas em meados do XIX, surgiu um novo tipo de estabelecimento comercial que revolucionaria as compras, voltado sobretudo para as mulheres. Era enorme e nele podiam encontrar uma infinidade de objetos sem necessidade de mudar de loja, além de um ambiente confortável e elegante.
A revolução de Aristide Boucicaut.
Pela primeira vez, uma loja tem preços marcados em suas mercadorias. Também tinha um pessoal bem treinado e numeroso para assessorar as clientes sem perturbá-las, eram proibidas de "empurrar" mercadorias para as clientes, constrangê-las a comprar o que não desejavam. "Au bon Marché", o nome dessa grande loja, vendia vestidos, chapéus, luvas, bolsas, maletas....um sem número de "objetos do desejo", como Boucicaut chamava seus produtos. A experiência foi acolhida com enorme entusiasmo em 1.853 e copiada por várias cidades mundo afora.
O prazer de consumir.
Autêntico gênio do marketing, Boucicaut criou todos os conceitos - ainda vigentes - do prazer de consumir. As mulheres passaram a comprar sem necessitar. Ainda que a loja estivesse voltada para o público feminino, mas para evitar que seus acompanhantes masculinos perdessem a paciência, o gênio criou um café onde os cavalheiros pudessem ler, fumar e tomar uma bebida. Foi além, também inventou o bom trato das crianças. Dava guloseimas variadas para as crianças das clientes, transformando-as em colaboradores para que suas mães regressassem ao estabelecimento.
Funcionários contentes.
Boucicaut também criou o conceito de devolução de mercadoria sem ônus para o comprador. Além disso, estipulou para seus funcionários - que chegaram a ser 3.500 - uma série de condições trabalhistas até então inimagináveis. Assim, possibilitou as "férias femininas", como ele denominava, para as mulheres que tinham tido filho, ofereceu empréstimos em caso de enfermidade, presenteava seus empregados quando casavam e lhes facilitava a possibilidade de receber aulas de outras línguas para melhor receber os clientes estrangeiros e, inclusive, lhes dava residencia no mesmo prédio onde construíra o "Au Bon Marché".
