Águas revoltas no rio Paraguai. Argentina cobra pedágio ilegal
Era 1.855, nove anos antes dos primeiros disparos de armas de fogo. As relações políticas entre o Império do Brasil e a República do Paraguai iniciavam controvérsias sobre posse de territórios no Mato Grosso do Sul e, especialmente, sobre o poder no rio Paraguai. O objetivo do governo paraguaio era obter o domínio das duas margens desse rio, controlando seu curso desde a Bahia Negra, um distrito paraguaio que faz fronteira com Corumbá. O Brasil, conforme o governo de Solano Lopez, também não poderia construir novos fortes, como o de Coimbra. Enfim, são disputas inconciliáveis sobre o domínio do rio Paraguai, que dão o ponta pé inicial para a guerra.
Uma estrada fundamental para cinco países.
A hidrovia dos rios Paraguai e Paraná conecta portos do Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. São 3.400 quilômetros de navegação continua que desembocam no mar em um trecho do rio que pertence à Argentina. Esse corredor natural, chave para as economias do Mercosul, passou a ser o epicentro de uma disputa de todos contra a Argentina. Começaram a cobrar um pedágio de todos os navios sob o argumento de financiar a manutenção desse corredor. Segundo as autoridades de Buenos Aires, o custo da dragagem e balizamento é de US$ 20 milhões anuais. E assim, passaram a contar quase dois dólares por tonelada transportada pelos navios brasileiros, paraguaios, bolivianos e uruguaios. Essa decisão ocorreu de forma unilateral pela Argentina.
Estão retendo navios.
Na semana passada, alguns navios paraguaios, que transportavam combustíveis, foram retidos pelas autoridades argentinas. Ainda não há notícias de navios brasileiros aprisionados. Só um dos navios paraguaios teve de pagar US$ 27 mil e ainda, depois do depósito, teve de aguardar dois dias pela liberação. Foi a gota d'água.
O comunicado conjunto e a retaliação.
Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia assinaram um comunicado conjunto que insta a Argentina a cessar a "aplicação do pedágio unilateral". Exigem o "restabelecimento da livre navegação na hidrovia". Como medida de pressão extra, o governo paraguaio decidiu retirar o máximo de energia possível da central hidrelétrica binacional Yaciretá. A mudança obriga a Argentina a comprar energia do Brasil, a um preço muito mais elevado. Uma ofensiva diplomática teve início há dois dias. Não há notícias de que os argentinos cederão. Depois de 160 anos, o rio Paraguai volta ao palco das disputas inconciliáveis.