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Em Pauta

Ainda não vimos nada de como o mundo mudará

Mário Sérgio Lorenzetto | 12/07/2017 07:12
Ainda não vimos nada de como o mundo mudará

Hoje, há três tendências: a automatização, a globalização e o aumento da produtividade de um número reduzido de profissionais altamente qualificados. Essas tendências estão causando abundância de mão-de-obra, há um excesso de humanos para trabalhar.

Caso essas tendências se tornem realidades definitivas, veremos um aumento do radicalismo até que os governos comecem a responder às agudas questões que não são resolvidas. Uma feroz batalha social se avizinha, ela está apenas começando. Por enquanto não há alternativas. Temos baixos salários e desemprego, cidades muito caras, sindicatos sem poder de negociação, políticos ineficazes e covardes que não apresentam soluções.

Ainda não vimos nada de como o mundo mudará

Um mundo tomado pelo radicalismo

O que ocorrerá? O diagnóstico é mais ou menos consensual, o drama está nas soluções. As respostas se aproximam a cada dia de movimentos radicais - à esquerda e à direita. Muito mais violentos e radicalizados do que estão no momento. Parece que aguardamos serenamente o lançamento de um novo "Mein Kampf" ou de um "Manifesto Comunista" para nos preocuparmos.
Temos de dar prioridade à criação de novos bons trabalhos. Não necessariamente bem pagos, mas de boa qualidade. Isso significa gastar muito dinheiro em infraestrutura e educação. Apoiar as novas tecnologias e novas maneiras de fazer as coisas.

Os empresários não querem admitir, mas só resta a saída de menos horas trabalhadas. Mais conciliação familiar, que eles possam retornar às escolas sem que lhes custe dinheiro. Temos que restaurar o poder dos trabalhadores para que possam rechaçar os maus trabalhos e que lhes garanta um mínimo de condições de vida.

Ainda não vimos nada de como o mundo mudará

A educação não é a unica resposta

Muitas vezes os governantes ou os "think tanks" seguem repetindo: educação, educação, educação... A educação pode auxiliar. Há medidas que podem ser tomadas para auxiliar as pessoas que estão em apuros, mas isso não terá a importância que a educação teve na época da Revolução Industrial. Pensamos naquela época como se fosse possível reproduzi-la. A diferença é que na Revolução Industrial, muita gente não sabia ler nem escrever e não tinha conhecimento tecnológico algum. Era muito fácil subir o nível educacional naquele período. Agora, a maioria tem um título de nível secundário. Conhecem pouco, mas o suficiente de tecnologia. A única maneira é fazer com que essas pessoas tenham um título superior acessível. É uma fantasia crer que eles com alguns cursinhos são capazes de gerir um negócio próprio. Até chegarmos a um mecanismo de ajuste, o que ocorrerá é que lutem por poucos trabalhos. Isso significa muita gente infeliz e muita pressão.

Ainda não vimos nada de como o mundo mudará

Os sindicatos deixaram de ser resposta para os trabalhadores

Historicamente, os trabalhadores conseguiam o que queriam quando pressionavam o governo,ainda que ele fosse forte. Governos fracos sempre foram alvos fáceis de sindicatos. Mas eles tendem a desaparecer. E é provável que passemos a ter governos fortes e duros. Mas era outro tempo. Ninguém, voluntariamente, dava dinheiro para os trabalhadores gastarem com educação, seu sonho maior. Ninguém, voluntariamente, disse que as crianças não tinham de trabalhar nas minas de carvão. Só mudaram quando lutaram por ele. Nada indica que a economia atual está desenhada para continuar existindo sindicatos do tipo que vem desde a Revolução Industrial.

As pessoas já não trabalham em grandes fábricas, onde possam se reunir e decidir por uma greve. É bem provável que existam outros tipos de organização brevemente. Outra forma de organizar o poder das massas. Algo que ameace o fechamento das fábricas, dos escritórios e até mesmo da internet. É bem provável que "comunidades online" comecem a desempenhar esse papel. Ou outras formas de organização concernentes com o século XXI. O único que não é possível enxergar é sindicatos tradicionais, tal como os conhecemos, desempenhando esse papel. Estamos assistindo o estertor desses dias... O incêndio que eles atearam em Brasília assemelha-se ao incêndio de Roma. As labaredas anunciam o fim de um tempo.

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