Alimentos e religião. Cristianismo é "comer o Livro"
O alimento se encontra no coração da narrativa bíblica. A linguagem e o alimento se encontram intimamente associados no Livro. Em primeiro lugar porque, diferentemente das divindades das religiões precedentes, o Deus único, que criou os homens não come. Comer é, para o cristianismo, próprio das criaturas de Deus. É inclusive o que o distingue dos homens.
No início era o vegetarianismo.
Sob a ordem de Deus, Adão é vegetariano. O homem é, afinal, guardião da Criação inteira. Pode consumir todos os vegetais, exceto, durante as primeiras horas após sua criação, o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Quando transgride a proibição e consome o fruto dessa árvore, seu castigo é a obrigação de trabalhar para produzir seu alimento. Que segue sendo vegetariano.
Depois de Noé tudo mudou.
É só após o dilúvio que Noé e seus descendentes podem dispor à vontade dos animais que salvaram. Nesse momento, o Eterno autoriza o homem a consumir carne. Em seguida, a relação com o alimento continua intimamente ligada à narrativa bíblica. Sacrifício de Isaac. Maná - alimento que Deus fez cair do céu. Interpretação de José do sonho do faraó a fim de proteger seu povo da fome.
Abundância de leite e mel.
Quando fogem do Egito para a Terra Prometida, esta é associada à abundância alimentar: "Um país transbordando de leite e mel". Por volta de 1.200 a.C., quando alcançam a Judéia, encontram os mesmos alimentos da Mesopotâmia e do Egito: frutas, vinho, óleo, ervilha, lentilha, fava, grão-de-bico, alho-poró, pepino, alho e cebola.
Em uma mesa da Judéia.
Comercializam trigo e cevada do Egito pelo mar. Esses cereais são comidos em forma de biscoitos, pães ou mingaus, como na Mesopotâmia. Os Peixes são conservados graças ao sal. Vaca, carneiro e animais de caça são reservados apenas para os ricos. As refeições são uma oportunidade para se comunicar com Deus, que observa tudo de dentro do Templo. Certas porções dos animais que sacrificamos no templo são consumidas pelos sacerdotes.
Comendo as palavras de Deus.
Em seguida, o,profeta Ezequiel diz explicitamente que é preciso comer as palavras de Deus: Ele me diz: "Filho do homem, coma o que encontrar, coma esse rolo de pergaminho e vá falar na casa de Israel". Abri a boca e ele me fez comer esse rolo. Ele me disse: "Filho do homem, alimente teu ventre e encha tuas entranhas com esse rolo que te dou!" "Eu o comi e ele pareceu doce como o mel em minha boca". Dai decorre que, na vida cotidiana, tudo o que se come é uma expressão da palavra divina. A mesa da refeição é um símbolo do Templo. É um altar, onde se reza e se fala à vontade, inclusive as crianças.