Cárcere ou masmorra? Quantos ex-detentos voltam ao crime?
Uma cifra muitas vezes repetida intriga pesquisadores da segurança pública há décadas. Antigos estudos mostram reiteradamente que 70% das pessoas que cumprem pena de prisão, no Brasil, reincidem no crime depois de algum tempo em liberdade. Todavia, ninguém sabe dizer de onde essa taxa teria sido extraída, nem como se chegou a ela. Parece mais um dos muitos números que saem das bocas de alguns políticos. Pura invenção.
Entre 24% e 51%.
Estudos mais recentes realizados em quase todos os Estados do país chegaram a números que variam entre 24% e 51% de reincidência, todos muito distantes dos 79% usados anteriormente. A repetição desse número fantasioso ajudou a consolidar o consenso de que o sistema prisional é falido, não recupera ninguém e não tem salvação. É tão somente uma masmorra medieval - devido às péssimas condições de tratamento dos presidiários - ou uma excelente escola do crime.
A criminalidade precisa de aprendizado.
Há uma certa ignorância sobre a escola da criminalidade que funciona nas prisões. Muitos imaginam que o crime cai do céu (ou do inferno) ou que os criminosos já nascem sabendo como praticar delitos variados. Os delitos ligados ao patrimônio, como roubo e furto, e ao tráfico de drogas, apresentam taxa de reincidência maior do que homicídio ou agressão. A razão é que os dois primeiros estão diretamente associados à carreira criminal e, mais especificamente, à atuação do crime organizado.
É uma profissão.
Não se pode perder de vista que a criminalidade é uma profissão e demanda aprendizagem. Como usar uma arma? Quando desistir da empreitada? Como lidar com uma pessoa que reage ou corre? Qual o lugar ideal para realizar um assalto? O melhor lugar para aprender é na penitenciária, onde estão aqueles que já detém o conhecimento.
