Comer carne bovina podia levar um cristão ao enforcamento
É relativamente fácil imaginar um jantar na casa de William Shakespeare. Nela havia tapetes, mas eram preciosos demais para serem colocados no chão. Ficavam pendurados na parede, ou eram postos sobre as mesas. A mesa de comer era uma simples tábua sobre cavaletes. O armário na cozinha era o "cupboard" - como o nome diz, "tábuas para xícaras". Mas estas eram poucas. Os copos de vidro eram raros. Quem imagina que o costume de compartilhar a guampa do tereré é uma tradição paraguaia, equivoca-se, vem desse período europeu. Os copos eram tão poucos que obrigavam o compartilhamento.
O jantar em casas humildes.
Shakespeare era da "classe média ". Em uma casa humilde a mesa de jantar era uma tábua que ficava pendurada na parede quando não estava em uso. E era apoiada nos joelhos das pessoas na hora de comer. Até os anos 1.600 as cadeiras eram raras e não eram projetadas para serem confortáveis, mas sim para impor uma imagem de autoridade, não existiam nas casas mais pobres.
Comiam aves.
As aves tinham especial destaque nas casas como a de Shakespeare. Águias, garças, pavões, pardais, cotovias, cisnes....qualquer coisa que voasse era amplamente consumida. Não porque fossem deliciosos - não eram, e é por isso que hoje não existem em nossas mesas. O motivo era não conseguirem outras carnes melhores.
Valiosos demais para matar.
A vaca, o carneiro e o cordeiro quase não foram consumidos durante mil anos. Esses animais eram necessários pela sua lã, estrume ou força muscular. Eram valiosos demais para matar. A principal fonte de proteína era o arenque defumado. Mesmo que encontrassem carne bovina para comprar, era proibida a maior parte do tempo. Quase metade dos dias de um ano a igreja proibia severamente o consumo dessas carnes. Desrespeitar essa obrigação era crime punível com a morte, geralmente com o enforcamento.
A igreja e o negócio do peixe.
A saída era comer peixe. As aves nem sempre eram baratas. Arenque, bacalhau, salmão, hadoque, badejo, enguia, lampreia, truta e mais de duas dúzias de outros peixes eram consumidos. A igreja tinha especial interesse pela manutenção do chamado "dia do peixe" (metade do ano). Nunca existiu qualquer disposição na Bíblia ou em qualquer documento eclesiástico. A questão era que a igreja estava metida em vários negócios relacionados com a comercialização de peixes.