Como os observatórios do crime reduziram drasticamente a violência na Colômbia
Como os observatórios do crime reduziram drasticamente a violência na Colômbia.
Poucas pessoas consideram assassinatos um problema urgente de saúde. Foi aplicando os métodos estatísticos utilizados por especialistas em saúde pública, para identificar as causas de homicídios e revelar mudanças sociais e políticas, que a Colômbia reduziu drasticamente a violência. Muitos acreditam, erroneamente, que pouco pode ser feito em uma cidade ou estado por sermos "geneticamente violentos". Outros céticos sustentam que crimes violentos não diminuem, a menos que sejam feitas profundas mudanças socioeconômicas, como a diminuição do desemprego e melhoria dos níveis educacionais. As cidades da Colômbia demonstraram que todas essas pessoas estavam erradas.
Desenvolveram um banco de dados epidemiológico sobre os muitos fatores sociais que elevavam significativamente o risco de ocorrer um homicídio. Em alguns bairros era o consumo exagerado de bebidas alcoólicas na madrugada. Em outros era o porte de armas. Em tantos outros, eram guerras entre gangues; foram centenas de fatores mapeados em computadores. Essas informações pormenorizadas e muito detalhadas chegaram a definir as ruas onde ocorriam atos violentos com determinada assiduidade. Elas levaram à implantação de novas leis e políticas elaboradas a partir de dados confiáveis e transparentes, e não de política partidária. O método funcionou.
Também transformaram as ideias sobre o tráfico de drogas. Passaram a entender que ele não era a causa direta da maioria dos homicídios. Quando analisaram os números, perceberam que o tráfico de drogas era, para a sociedade, o que o HIV é para o corpo humano: o vírus ataca os mecanismos de defesa, tornando o corpo vulnerável a outras doenças. Da mesma forma, narcotraficantes atacam a polícia e o sistema judiciário e político, ou seja, os mecanismos de defesa da sociedade. Essas instituições, enfraquecidas, despontaram como fatores de risco para a violência. A polícia colombiana, até a instalação dos observatórios do crime, só identificava suspeitos de 6% dos homicídios (no Brasil a taxa é de 8%).
Mudaram a cultura, tornaram-na transparente. Passaram a divulgar dados criminais como se divulgam dados do desemprego. As informações detalhadas obrigam autoridades públicas a prestar contas a suas comunidades e a resolver os problemas da violência. Tal como no Brasil, implantaram uma lei semi-seca para as bebidas alcoólicas; elas só poderiam ser vendidas até às duas horas da madrugada (no Brasil era até a meia noite). Uma medida impopular, mas adotada de conformidade com a cidade e o bairro onde a bebida respondia pelos casos de violência, é bem melhor tolerada e compreendida.
Assim também agiram com o porte de arma, com um adicional - era totalmente proibido em algumas datas. Bem como com a necessária agilidade da ação, por 24 horas, todos os dias, de grupos de policiais e promotores que iam aos bairros para enfrentar e solucionar os crimes. Enfim, aprenderam que não há uma abordagem padrão para aplicar métodos epidemiológicos a questões sociais, pois cidades e bairros têm diferentes fatores de risco. Nada mais lúcido, contemporâneo e corajoso. Mas é por esse exemplo, que alguns desses políticos, cuja estrela maior é Rodrigo Guerrero Velasco, percorre dezenas de países latino-americanos levando o conhecimento adquirido. São referências internacionais no combate à violência.
Deu a louca no tempo. Afinal, o que está acontecendo?
É fato que houve alteração no clima. Eventos extremos, como as enchentes em Campo Grande, acontecem com frequência cada vez maior. Chuvas diluvianas, ondas de calor intermináveis, ventos que se assemelham a tornados. Não há como negar eu o clima está diferente. Afinal, o que há de errado? Esses eventos são consequência das temíveis mudanças causadas pelas atividades humanas, que contribuímos com a elevada produção agropecuária, ou estamos passando por um período natural de mau tempo? É bem provável que as duas hipóteses sejam verdadeiras. Sem dúvida, vivemos sob os ditames do El Niño. Logo mais, enfrentaremos o inverso - La Niña.
El Niño e La Niña, um estranho vaivém.
Os cientistas aprenderam muito a respeito desse estranho vaivém que ocorre no Pacífico e influencia o clima do mundo. Durante o El Niño, uma imensa área de água quente - que costuma estar no centro do Pacífico - desloca-se para o leste, chegando à América do Sul. Durante o La Niña, essa mesma zona de água quente, encolhe, e recua para bem longe da América do Sul. O deslocamento dessa massa de água quente ao longo da linha do Equador, determina as trajetórias das correntes de jato de água, que são empurradas mais para o norte ou para o sul. Ou seja, o calor e o vapor de água originados nesse ponto geram tempestades volumosas. Assim, o El Niño gera tempestades na América do Sul e favorece secas na Austrália. Já com a La Niña, a Austrália tem inundações e há seca na América do Sul. Esses resultados não são mecânicos, são variáveis. Tanto a atmosfera quanto os oceanos são compostos de fluidos caóticos e ainda é impossível sabermos ao certo quando e onde ocorrerão com maior intensidade. Assim, neste momento, sabemos apenas que estamos vivendo uma época que o El Niño é determinante para as enchentes que novamente dilaceraram Campo Grande. Mas, não podemos prever, com margem mínima de erro, quando ele retornará.
O El Niño não está sozinho nas tormentas que se abatem sob Campo Grande.
Os eventos naturais como o El Niño e La Niña, porém, não explicam por si mesmos essa temporada recente de desastres. Há um aquecimento constante, com aumento significativo da umidade atmosférica. E o prolongado acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera têm capturado calor e provocado aquecimento no solo, nos rios e mares, e no ar. E todos estamos contribuindo para essa piora do clima.
Em 2006, um relatório divulgado pela ONU, causou espanto em todos os lugares onde as atividades agropecuárias são importantes. O relatório afirmava que a pecuária gerava 18% da quantidade de gases de efeito estufa. É uma contribuição à piora do clima superior em 5% às emissões de gás carbônico de todos os transportes do mundo. Tomamos conhecimento de que o atual modelo de alimentação é insustentável e contribuem decisivamente para esgotar os recursos do planeta.
A produção animal trouxe graves consequências ambientais.
A comida, responsável por suprir as necessidades biológicas do ser humano, tornou-se uma mercadoria valiosa. O brasileiro gasta, em média, 16% de sua renda mensal em alimentação. A humanidade dominou a natureza para produzir mais alimentos: há 10 mil anos, 99% da quantidade de biomassa animal correspondia a bichos selvagens. Hoje, animais criados para nos alimentar e nós, compomos 98% da matéria viva do planeta. Nas últimas décadas a produtividade por hectare aumentou no Brasil, com seis vezes mais grãos colhidos na mesma área e dez vezes mais carne obtida por hectare.
Acontece que essa lógica de produção, se é importante para a nossa economia, trouxe consequências ambientais mais graves do que o próprio processo de industrialização, com um impacto sem precedentes na emissão de gases de efeito estufa, no consumo crescente de água potável e na exaustão das terras cultiváveis. Paulo Barreto, mestre em Ciências Florestais pela Universidade Yale (EUA), reuniu dados sobre o impacto ambiental da atividade agropecuária, responsável por 62% do total de emissões brasileiras de gases poluentes. Desse número elevadíssimo, a criação de gado ocupa posição privilegiada: a fermentação no intestino dos bois foi responsável por 76% das emissões de gases poluentes do setor agropecuário brasileiro. Com a liberação do gás metano, que tem potencial poluente 25 vezes superior ao gás carbônico, e do óxido nitroso, liberado no esterco dos bois, chega a ser 296 vezes mais danoso que o CO2. Em média, cada boi produz de 250 a 500 litros de metano por dia - só no Mato Grosso do Sul, o rebanho está estimado em 21 milhões de cabeças de gado. É fácil fazer a conta da poluição animal. É muito difícil mudarmos nossos hábitos alimentares ou o tipo de produção do campo. O El Niño não pode levar a culpa sozinho.