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Em Pauta

Delfino e Anderson, que porcaria de cidadania é essa?

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 15/11/2023 07:30
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Delfino era um homem negro que vivia no Brasil de D.Pedro II. Ninguém sabe se tinha sobrenome. Delfino estava preso há dois meses sem acusação. Não estava sendo acusado de nenhum crime, mas continuava preso. Era um homem negro livre, nascido no Brasil. A meia história é assim: o Delfino era escravizado por um sujeito que morreu. Os herdeiros começaram uma briga pelo espólio. O filho desse sujeito rico vendeu o Delfino. Mas um cunhado disse que não, ele era o verdadeiro proprietário de Delfino. E prendeu o Delfino.


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Fique preso, e ponto final.

Daí o cara que comprou o Delfino disse: "quer saber, agora o Delfino não é meu e nem seu, ele é livre". Libertou o Delfino. Mas o juiz decidiu que enquanto não tivesse uma palavra final sobre o Delfino, ele deveria continuar preso. Mesmo sem ter cometido crime algum. Sabe a presunção de inocência? A presunção no caso de Delfino era a escravidão. Tinha de provar que não era escravo. Muitos meses depois, uma comissão deu razão ao juiz. Esse é o último documento que conta a história de Delfino, que nessa época, estava preso há 15 meses. Não se sabe se continuou preso. Essa é a meia história de Delfino. Uma história sem fim. Que porcaria de cidadania é essa?


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200 anos depois.....

Anderson é um homem negro que vive em Petrópolis, aquela cidade que paga laudêmio, imposto para os descendentes dos reis brasileiros não terem de trabalhar. Anderson, há três anos, estava andando na rua à caminho de uma empresa que estava contratando funcionários. Foi preso. Os policiais nada explicaram para o Anderson. Levaram para delegacia e o deixaram lá. Não podia falar com a esposa, não tinha advogado. Sem que ele soubesse, estava nessa delegacia um homem que havia sido assaltado um mês antes. Esse homem só sabia que o homem que o assaltou era negro e tinha uma cicatriz no rosto.


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O reconhecimento à lá brasileira.

Anderson foi levado para uma sala onde estavam dois homens. Ambos brancos. Os dois não paravam de rir. Anderson não entendia porque riam tanto. Do outro lado do espelho, estava o homem assaltado. Os policiais perguntaram se reconhecia o assaltante. Titubeando, o assaltado disse que talvez tinha sido o negro. O "detalhe" é que Anderson não tem cicatriz no rosto. Anderson foi denunciado. O juiz aceitou a denúncia. Anderson ficou preso por 15 meses. Sem saber de nada. Que porcaria de cidadania é essa?

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