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Em Pauta

Dia Nacional do Imigrante Italiano. "Andiamo in Merica"

Mário Sérgio Lorenzetto | 22/02/2017 07:08
Dia Nacional do Imigrante Italiano. "Andiamo in Merica"

Corria o ano de 1902. Um visitante mineiro ao chegar a São Paulo relata: "Os meus ouvidos e os meus olhos guardam cenas inesquecíveis. No bonde, no teatro, na rua, na igreja, falava-se mais o idioma de Dante que o de Camões. Os maiores e mais numerosos comerciantes e industriais eram italianos. Os operários eram italianos".

Mas no outro extremo do arco da aculturação, quando no censo de 1940, se fez a pergunta: "Que língua se fala habitualmente no seu lar?", só 8,7% dos italianos responderam que "não falavam correntemente o português", ao passo que entre os moradores de outras nacionalidades a proporção subia a 24%. Ou seja, em menos de meio século os italianos se haviam tornado maciçamente brasileiros.

Hoje, somos 400 mil descendentes de italianos no Centro Oeste. E no Brasil, 25 milhões são descendentes de italianos, quase 15% da população. O crescimento foi meteórico. Entre 1940 e 1950, havia, no Brasil, cerca de 5 milhões de descendentes de italianos e 232 mil eram italianos natos.

Dia Nacional do Imigrante Italiano. "Andiamo in Merica"
Dia Nacional do Imigrante Italiano. "Andiamo in Merica"

Um italiano de Portugal chega no Mato Grosso do Sul

Estranho. "Um italiano de Portugal", o que pode ser isso? Em 1842 esse italiano de Portugal aportava em Buenos Aires. Em pouco tempo conseguiu juntar pequena fortuna. Adquiriu um navio. Mantinha uma linha entre Buenos Aires e Assunção. Alguns anos depois, esse homem alcançava um lugar ermo onde havia apenas 4 choupanas de palha e nenhuma casa. Era 1857. No próprio navio, o homem de nome Cavassa iniciou um pequeno comércio. Construiu a primeira habitação digna de tal nome. Em poucos anos levantou muitas outras, usava óleo de peixe como cimento para unir as casas de pedra bem lapidadas.

Em breve tempo seus negócios prosperaram. Sua fortuna cresceu. Mas sobreveio a Guerra do Paraguai e, após os primeiros ataques das tropas de Solano López, o diminuto forte brasileiro daquela região que era conhecida como Corumbá, foi abandonado. Os corumbaenses foram deixados à própria sorte. Formou-se, então, um corpo de guerra constituído por estrangeiros, a maioria era de italianos que Manuel Cavassa havia reunido. Após prolongada resistência, as forças corumbaenses foram dominadas pelas tropas paraguaias. Devastaram tudo. Aprisionaram quase todos os habitantes.

Sabedor de que os corumbaenses haviam lançado pólvora ao rio para que não caísse em mãos dos paraguaios, o general Barrios, cunhado de López, determinava que Manuel Cavassa, o chefe da resistência, e seus lugar-tenentes Nicola Canale e Giovanni Biacava fossem remetidos para Assunção com suas famílias em um barco que os levou como "sardinhas em pé", conforme documento assinado por Cavassa.

López permitiu que os italianos retornassem a sua pátria. Mas Cavassa e a maioria de seus companheiros embarcaram apenas suas famílias e continuaram lutando até a completa vitória das armas brasileiras. Mas, afinal, que história é essa de um "italiano de Portugal"? Manuel Cavassa não nasceu na Itália e sim em Portugal. Tinha pai italiano e por ter sido criado sob a tutela da Itália sempre se considerou e foi sempre considerado por todos como italiano. Muitos o consideravam o fundador de Corumbá. Feito que a historiografia, escrita por portugueses, desfez.

Também há de se recordar que o "Manuel" italiano gastou toda sua fortuna socorrendo a população corumbaense, durante e após a guerra. A fortuna dessa família só seria recuperada dezenas de anos depois com um empréstimo feito por Salustiano Maciel, cuja família escapara da morte, refugiando em uma fazenda, com o auxílio de Cavassa. Era uma época em que a palavra "gratidão" valia mais que qualquer documento. Algo que o século XXI fez desaparecer.

Dia Nacional do Imigrante Italiano. "Andiamo in Merica"
Dia Nacional do Imigrante Italiano. "Andiamo in Merica"

Mandetta, das armas para os refrigerantes.

A história da família Mandetta no Brasil tem início em 1887. É nessa época que o fabricante e comerciante de armas Nicola Mandetta emigra para o Brasil em companhia do filho Angelo .

Instalam um hotel em Corumbá. Em 1889, junta-se a eles o filho Antônio. E é o Antônio que irá para a Argentina mudar o rumo dessa família ao adquirir uma fábrica de refrigerantes. Retorna a Corumbá acreditando que pelo clima da cidade haveria boas perspectivas para implantar a fabrica de "gasosa".

Após longo anos na Itália, para educar os filhos, em 1923, Antônio resolve instalar a primeira fábrica de refrigerantes e gelo em Campo Grande. O terreno foi doado pela prefeitura ao lado do atual Horto Florestal, na rua 26 de agosto. Com problemas de saúde, Antônio muda-se para São Paulo, deixando a administração da fábrica para o filho Hércules Mandetta, recém-chegado da Itália.

Hércules fundou e dirigiu entidades como a Associação das Indústrias e Associação Comercial de Campo Grande, Sociedade Beneficente Santa Casa. Homem de ativismo inexistente nos dias de hoje, ainda participou da criação do Círculo Militar, Clube Libanês, Clube Surian e Asilo São João Bosco.

Dia Nacional do Imigrante Italiano. "Andiamo in Merica"
Dia Nacional do Imigrante Italiano. "Andiamo in Merica"

Os Letteriello dos caramelos e massas

A história dos Letteriello tem origem com a imigração de Constantino que, deixando a Província de Potenza, estabeleceu-se em Miranda, no início do século passado. Miguel Letterielo, o único filho de Constatino, permaneceu na Itália para estudar contabilidade. Aos 20 anos veio ao Brasil ao encontro dos pais.

Obteve a representação comercial de algumas das mais importantes fábricas existentes em nosso país - Singer, Chocolates Gardano e Metalúrgica Fracalanza. Veio instalar-se em Campo Grande por volta de 1940. Foi o fundador das Fábricas Paulista, empregando cerca de 30 funcionários na produção de caramelos. Logo a seguir, implantou a primeira fábrica de massas, empregando 50 funcionários.

Tal como o Mandetta, Miguel Letteriello deixou um legado de participação em associações e entidades. Participou da fundação da Associação das Indústrias, da Exposição Agropecuária e da Acrissul.

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