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Em Pauta

Entrevista com o fogo, de Prometeu ao Pantanal

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 21/11/2023 06:45
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

O crepitar do fogo estava alto. Facilmente audível. O fogo resolveu conceder uma entrevista após as pequenas labaredas do fogão intercederem. É a primeira vez que o fogo tem voz e conta sua longa marcha junto com os humanos.


- Sr.Fogo, como saiu do Sol para a conviver com os humanos?

- Fogo: Tenho uma famosa dívida com Prometeu, um titã que, por roubar o fogo dos deuses e entregá-lo à humanidade, foi severamente castigado por Zeus. A benevolência de Prometeu com os seres humanos despertou a ira do mais poderoso dos deuses, que o acorrentou no alto de uma montanha para que seu fígado fosse bicado todos os dias por uma enorme águia.


- Como os humanos conseguiam promover teu aparecimento nos primeiros tempos?

- Fogo: Além de conseguir meu aparecimento através de raios, adotavam um método muito semelhante em todas os continentes. Aqui, no Pantanal, cortavam dois pauzinhos, atritavam-nos, e desse atrito despendia um pó que, em resultado do calor do atrito, incendiava-se. Em outras regiões, amarravam um pequena corda em um dos pauzinhos. Era ela que atritava com um pedaço de pau, promovendo meu aparecimento.

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- Afinal, qual a verdade sobre o uso do fogo pelos indígenas?

- Fogo: Vocês sabem como os índios guaranis, por exemplo, chegaram ao Paraguai e ao Mato Grosso do Sul? Foi devido a um imenso incêndio que ocorreu na floresta amazônica, 500 anos antes de Cristo. Assim, foram obrigados a procurar terras para a agricultura, combinadas com caça e pesca. Os índios sempre usaram minhas propriedades para fazer suas roças. Mas aprenderam a ter cuidado. Preparavam suas roças à partir da abertura de clareiras, derrubando árvores e formando corredores. Logo a seguir, chamavam pela minha presença. Queimavam. Mas evitavam o excesso de calor e o dano às raízes, que acabaram de plantar. Algumas vezes eu conseguia escapar e tomava conta de uma vasta região. Mas eles se tornaram exímios controladores de minha altura. Eu dificilmente conseguia virar um fogaréu, um grande incêndio como gosto de aparecer.


- Como o senhor se relacionava com os primeiros fazendeiros do Pantanal?

- Fogo: Foi muito difícil. Eles trouxeram alguns conhecimentos para me controlar e copiaram a sabedoria dos anciões das aldeias indígenas. Esses idosos eram responsáveis por determinar a época de me colocar para agir, ou seja, me usavam através de um conhecimento acumulado, da sabedoria, e não ao bel prazer. Por volta da lua cheia de agosto, me chamavam. Eu ficava agindo apenas em faixas cuidadosamente selecionadas. Esses fazendeiros diziam que eu sou muito competente para eliminar cobras, escorpiões, além de plantas espinhosas e daninhas superficiais, as que dificultam caminhadas de suas vacas. Eram espertalhões, me paparicavam, mas também me controlavam.


- O senhor virou o rei do Pantanal, como conseguiu conquistar essa coroa?

- Fogo:
Nunca tinha conseguido tanto espaço para agir. Me sinto livre pela primeira vez. Devo essa liberdade a fazendeiros que compraram terras no Pantanal nos últimos anos, e a alguns descendentes de antigos proprietários. Há alguns humanos tentando me prender novamente, são poucos, não conseguirão. Tenho forte aliança com esses novos fazendeiros. São eles que mandam em tudo e em todos. Estou convicto que vencerei!

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